Professor palestra na Uema sobre presença de facções brasileiras no Paraguai

Ele, que é paraguaio, descreveu as origens dessas organizações naquele país e analisou a conduta dos faccionados nos presídios paraguaios

Fonte: Da Redação / Autor: Nelson Melo

O professor Juan Martens palestrou, na terça-feira (16), na Universidade Estadual do Maranhão (Uema), em São Luís, sobre o impacto da presença das facções Primeiro Comando da Capital (PCC) e Comando Vermelho (CV) no Paraguai. Ele, que é paraguaio, descreveu as origens dessas organizações naquele país e analisou a conduta dos faccionados nos presídios paraguaios.

Juan Martens, professor da Universidade Nacional de Pilar, no Paraguai, contou que o CV surgiu naquele país na década de 1990, quando se apoderou do plantio da maconha, a fim de lucrar com a venda da marijuana, como a droga é conhecida lá. O Comando Vermelho, até então, predominava, mas, entre 2008 e 2009, explicou o professor – que é doutor na área de Criminologia em uma universidade espanhola -, o PCC apareceu e dominou os setores de cultivo da Cannabis sativa.

Segundo Juan, o Primeiro Comando da Capital se expandiu de forma impressionante no Paraguai e domina quase 100% das áreas de cultivo da maconha, eliminando, nesse sentido, a figura do intermediário. De acordo com o criminólogo, o PCC se instalou nas comunidades camponesas de tal forma que não intimidou, diretamente, os moradores, para passar a sensação de que era um “amigo” e que as partes ganhariam com a parceria, diferentemente do CV, que se apoderou dos locais de forma ditatorial.

Martens esclareceu que o PCC está em todos os presídios do Paraguai, enquanto o CV se encontra em apenas dois. Isso mostra a predominância do Primeiro Comando, que conseguiu fazer alianças com os chefes do tráfico paraguaios, oferecendo proteção nas cadeias e nas ruas. De lá, a facção envia 90% da maconha produzida para o Brasil, abastecendo as “bocas de fumo” e os traficantes internacionais, como Juan frisou na palestra.

Ele destacou que a maconha produzida lá praticamente não é consumida no Paraguai, pois a finalidade é justamente a exportação, sendo que o mercado brasileiro é o mais visado. Martens assinalou, nesse aspecto, que o cultivo da planta é normatizado, ou seja, é público, pois os camponeses dizem que é um meio de subsistência, isto é, utilizado para sustentar suas famílias.

Cadeias como ambientes de consolidação das facções

Na palestra, que teve como moderadora a antropóloga e professora Karina Biondi – autora de livros e trabalhos acadêmicos sobre o PCC -, Juan Martens disse que as cadeias paraguaias, assim como ocorre no Brasil, são espaços onde o Primeiro Comando da Capital se consolida na mente dos criminosos. Segundo ele, os presídios oferecem argumentos para o preso toda vez que servidores torturam ou agridem os detentos.

Conforme o professor, a partir dessas agressões, o PCC reivindica as questões humanitárias dentro das cadeias e ganha mais adeptos, pois oferece mudanças na vida carcerária, por meio de materiais higiênicos, como sabonete, escovas e barbeadores. Esse tipo de conduta apenas reforça a facção no contexto penitenciário, levando ao fortalecimento da organização criminosa brasileira.

A palestra que ele concedeu na Uema foi promovida pelo Núcleo de Estudos em Processo Penal e Contemporaneidade, em parceria com Laboratório de Estudos em Antropologia Política.

Foto: O professor discorreu sobre o impacto do PCC e CV no Paraguai

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