Flávio Dino garante que não tem nada de secreto na conversa com Sarney

Governador explica porque resolveu fazer um itinerário de visitas a ex-presidentes da República

Fonte: Manoel dos Santos Neto e Lourival Bogéa

Em entrevista exclusiva ao JORNAL PEQUENO, no final da tarde dessa sexta-feira, 28, no Palácio dos Leões, o governador Flávio Dino (PCdoB) falou sobre o seu histórico encontro com José Sarney, anunciado por ele próprio em suas redes sociais; portanto, como fez questão de ressaltar, sem nenhum segredo para ninguém. Restou evidente na entrevista, também, que não houve
nada de secreto na conversa. O encontro aconteceu na tarde de quarta-feira (26), na residência de Sarney, em Brasília.

Dino garantiu que a conversa com Sarney não vai ter nenhum desdobramento político no Maranhão, porque ambos, segundo ele, conversaram apenas sobre a conjuntura política do Brasil. “Regionalmente, não há nenhum desdobramento. Ou seja: houve algum tipo de conversa sobre política do Maranhão? Não. Houve algum tipo de acordo sobre política do Maranhão? Não.
Há algum desdobramento prático para as eleições vindouras? Também não. O intuito não é este. O intuito se restringe a essa ideia de intervenção nacional, que eu tenho procurado adotar”, afirmou o governador.

Flávio Dino explicou que procurou Sarney para lhe apresentar uma avaliação pessoal: a de que a democracia brasileira corre perigo, em face dos graves fatos que vêm acontecendo no País, desde a
posse de Jair Bolsonaro na Presidência da República. Flávio já esteve também com os ex-presidentes Lula e Fernando Henrique, a quem lhes expressou a mesma preocupação. Nesta entrevista ao JP, o governador explicou ainda por que tem se empenhado tanto na busca de canais de diálogo com setores políticos que transcendem a esquerda:

Jornal Pequeno – Já surgiram tantas especulações, mas, afinal, o que motivou essa visita a Sarney?

Flávio Dino – Especificamente sobre essa visita ao ex-presidente Sarney, houve um fato que estimulou a que eu considerasse que era possível essa visita. Muito recentemente, houve uma entrevista dada por ele ao jornal Correio Braziliense, uma entrevista longa acerca do Brasil. E houve uma pergunta sobre o Maranhão. Perguntaram especificamente para ele: como vai o Maranhão? E ele respondeu sinteticamente, entre aspas: Vai bem, obrigado, fecha aspas.  Ora, eu considerei que isso era uma espécie de sinalização, de uma disposição que, não obstante a manutenção, óbvia,
das diferenças regionais, que se mantém, que haveria uma disposição para que houvesse algum tipo de diálogo sobre a questão nacional. E eu considerei que, a partir dali, havia a partir dessa
sinalização, eu diria, haveria condições políticas que poderiam permitir essa visita. E o fiz, como informei inclusive a vários jornalistas que me perguntaram, antes, quando surgiu essa especulação. Eu disse: olha, não fiz ainda (porque tinham dito que eu já tinha feito), mas poderia fazer e o dia que fizer será público e publicado, porque não tem nada de secreto. E assim o fiz.

JP – Sobre que assuntos girou essa sua conversa com Sarney?

Flávio – A visita girou basicamente em torno da pauta nacional. Não tratamos rigorosamente nada sobre o Maranhão, a não ser aspectos atinentes à cultura, aspectos referentes ao patrimônio
histórico. Recentemente, nós lançamos o programa ‘Nosso Centro’ e ele se interessou de saber o que era o programa ‘Nosso Centro’, quais as medidas que nós estaremos implementando voltadas à concretização desse programa. E conversamos um pouco sobre literatura do Maranhão, sobre livros, enfim. Sobre o nosso Estado, portanto, não houve nenhuma abordagem política.

JP – Mas vão se multiplicando as versões e especulações sobre esta visita…

Flávio – Sim, eu sei que há múltiplas especulações. Porque a imaginação é fértil e é gratuita. Ou seja, cada um pode especular, imaginar o que bem quiser, e é de graça. Ainda bem. Então, objetivamente, o que houve foi isto: um gesto voltado, da minha parte, a esta compreensão de que nós temos que ter uma frente mais ampla, para além da esquerda, de defesa da democracia e
da Constituição de 1988, que nós temos que nos proteger dos extremismos do bolsonarismo e por isso mesmo temos que conversar amplamente. Não só a esquerda, mas também setores mais ao
centro e mesmo centro direita, para que nós possamos garantir que o País chegue até 2022. Este foi o sentido principal da visita.

JP – Esta sua conversa com Sarney pode ter desdobramentos políticos no Maranhão?

Flávio – Regionalmente, não há nenhum desdobramento. Ou seja: houve algum tipo de conversa sobre política do Maranhão? Não. Houve algum tipo de acordo sobre política do Maranhão? Não.
Há algum desdobramento prático para as eleições vindouras? Também não. O intuito não é este. O intuito se restringe a essa ideia de intervenção nacional, que eu tenho procurado adotar.

JP – Sarney pode ser, por exemplo, um aliado da esquerda contra o que senhor chama de extremismos do bolsonarismo?

Flávio – Sarney, seu grupo político, no plano regional, é nosso adversário. Mas, nacionalmente, já atuamos juntos em outros momentos, como, por exemplo, no apoio ao ex-presidente Lula. Nós
apoiávamos, e ele apoiava também, num certo momento. Agora, vamos imaginar que o atual presidente Jair Bolsonaro, quem sabe conduzido por maus conselheiros, resolva, com algum arroubo autoritário, praticar algum tipo de aventura contra a democracia… nós precisamos que haja não só a esquerda defendendo a Constituição e a legalidade democrática, mas que outros políticos defendam também. E eu espero que, neste caso, nós tenhamos uma ampla convergência. E este foi o sentido da visita.

JP – E sobre a crise econômica do país, já se pode vislumbrar um cenário mais positivo?

Flávio – Eu tenho uma leitura sobre o Brasil, e que tenho externado, no sentido de que está ocorrendo uma polarização no País, entre posições às vezes extremadas, no espectro político, que  conduzem a uma série de problemas. Isso tem se agudizado, se aprofundado, nos últimos anos, sobretudo depois do impeachment da presidente Dilma. Nós estamos vendo que, nesse momento,
inclusive, há quase uma impossibilidade de o Brasil superar a crise econômica. E uma das razões que identifico para que isso ocorra é o fato de nós termos um problema político representado pela
ausência de convergência na agenda no Brasil.

JP – Na sua concepção, a esquerda pode compor com outras forças para a busca dessa convergência?

Flávio – Eu sou ator desse processo, eu participo dele, e represento, ao meu modo, e muito orgulhosamente, muito convictamente, as posições da esquerda brasileira. Porém isso não me impede de
reconhecer que é legítima a existência de outras posições políticas. E que, mais do que isso, se nós olharmos a história brasileira nós sempre identificamos que posições ao centro são necessárias para que nós possamos avançar. Uma espécie de centro político sempre cumpriu um papel importante. Cito o papel histórico que figuras como Ulysses Guimarães desempenharam na vida brasileira muito recentemente para que houvesse a superação da ditadura militar.

JP – Que avaliação se pode fazer desse seu diálogo com lideranças políticas nacionais?

Flávio – Tenho feito minha avaliação, e tenho me valido de um conjunto de premissas, para poder me empenhar na busca de canais de diálogo com setores políticos que transcendem a esquerda.
Em relação à esquerda, eu mantenho uma atuação muito nítida vinculada a suas posições.  Nessa semana mesmo, ajudei a elaborar e assinei um artigo em conjunto com líderes importantes, como Fernando Haddad, Guilherme Boulos, que foram recentemente candidatos à Presidência da República; nossa conterrânea Sônia Guajajara, candidata a vice-presidente da República; o ex-senador Requião, assim como o ex-governador da Paraíba, Ricardo Coutinho, abordando desacertos das decisões conduzidas pelo juiz Sérgio Moro.

JP – E o que dizer desse seu itinerário de visitas a ex-presidentes da República?

Flávio – É importante frisar que eu tenho nitidez nas minhas posições. Porém, ao mesmo tempo que eu tenho essa nitidez, tenho procurado, no que se refere ao âmbito nacional, ter uma atuação mais ampla. Tanto que tenho dialogado quase que diariamente com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, com o presidente do Senado, Davi Alcolumbre, entre outros líderes importantes do Congresso Nacional. E tenho me dedicado a esse itinerário de visitas a ex-presidentes da República. Por exemplo, fiz uma visita ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que é um político que não se vincula às minhas posições político-ideológicas, mas é um ex-presidente da República, e eu o visitei. Visitei o ex-presidente Lula, visitei o ex-presidente Sarney, vou visitar a ex-presidente Dilma, com essa compreensão de que você não pode dialogar apenas com quem pensa igual a você.

JP – Dentre as especulações da sua conversa com Sarney, houve quem dissesse que foram tratados assuntos de interesse do ex-presidente, como uma suposta possibilidade de São Luís perder o título de Patrimônio da Humanidade, concedido pela Unesco, em 1997, e ainda sobre a destinação do acervo particular dele, que está no Convento das Mercês. Tem fundamento isso?

FD – Na verdade, ambos os assuntos foram tratados, mas não exatamente dessa forma. Quando eu apresentei o programa ‘Nosso Centro’, ele manifestou essa preocupação; porque, na verdade, é uma preocupação abstrata, porque realmente não há nenhum risco concreto de que São Luís perca o título de Patrimônio da Humanidade. E também quando falamos sobre prédios, casarios, etc, eu mencionei algumas obras que nós vamos começar, que são vizinhas ao Convento das Mercês, e ainda que tinha investido na recuperação da estrutura do convento. Então, na verdade foi uma alusão desse tipo, e ele, claro, mencionou a importância do acervo e que nós estamos mantendo. O acervo que ele doou alguns anos atrás para a Fundação da Memória Republicana continua sob a nossa guarda, intacto, bem protegido, bem cuidado. Então foi esse o diálogo, não teve nenhum fato novo sobre isso, a não ser troca de opiniões.

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