Todos os dias são recolhidas 20 toneladas de resíduos nas praias de São Luís

Informação foi divulgada ontem (4), durante a Conferência Internacional de Prevenção e Combate ao Lixo no Mar, que segue até esta sexta-feira, na capital maranhense

Fonte: Luciene Vieira

Numa área remota do Oceano Pacífico, entre a costa da Califórnia e o Havaí, o movimento das correntes marinhas concentra grande parte do lixo descartado em rios e mares, provenientes de 12 países. Mesmo a centenas de quilômetros de qualquer cidade, elas reúnem garrafas, brinquedos, carcaças de produtos eletrônicos, e rede de pescas abandonadas, entre outros objetos. A estimativa
é que exista 1,8 trilhão de resíduos, o equivalente a 250 para cada ser humano no planeta.

Distante milhares de quilômetros dessa “Grande Mancha de Lixo do Pacífico”, no Oceano Atlântico Norte estão as praias de São Luís, das quais, por dia, cerca de 20 toneladas de lixo são retiradas pela Prefeitura; volume que daria para encher cerca de cem caminhões basculantes.

Para contornar a barreira de lixo no pacífico, uma equipe internacional de cientistas liderada pela Organização das Nações Unidas (ONU), com apoio de pesquisadores de seis universidades, executou o mais abrangente levantamento in loco.

Entre julho e setembro de 2015, eles realizaram 652 coletas de materiais com redes de superfície, num esforço que envolveu 18 embarcações. No ano seguinte, duas missões aéreas cobriram uma área de 311 quilômetros quadrados, formando um mosaico de 7.298 fotografias tiradas a apenas 400 metros de altitude. Os resultados foram publicados em março de 2018, na revista “Scientific Reports”.

Algo menos audacioso, mas que pode ser eficaz, começou a ser feito em São Luís, a partir da Conferência Internacional de Prevenção e Combate ao Lixo no Mar, realizada pela Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), que teve início ontem (4), no auditório da Fiema, no bairro da Cohama, e encerra nesta sexta-feira (5). A capital maranhense é a primeira do Brasil a ser escolhida para receber um projeto já implantado na cidade de Santos (SP), de combate ao lixo no mar, realizado pela Abrelpe.

A escolha de São Luís, segundo o diretor-presidente da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais, Carlos Roberto Silva Filho, deve-se ao fato de a cidade ter grande extensão litorânea, de suas áreas de preservação permanente estarem comprometidas pela sujeira, e da possibilidade de desenvolvimento de diagnósticos em áreas de mangue.

De acordo com Carlos Roberto, na capital maranhense será feito um estudo das principais fontes de vazamento de resíduos lançados ao mar, e os que chegam às águas salgadas da cidade, além de serem levantadas formas de prevenção. “A metodologia desenvolvida na cidade paulista será replicada em São Luís. Queremos justamente ter os dados tanto da região sudeste, quanto da nordeste, e, depois, lançaremos um edital para outros municípios do país”, informou o diretor-presidente da Abrelpe.

Carlos Roberto garantiu que um passo a passo será feito numa primeira fase para que seja entendida a situação de lixo na orla de São Luís. E que, em parceria com a Prefeitura, por meio do Comitê Gestor de Limpeza Urbana, será desenvolvido um plano de ação para combater as circunstâncias nocivas ao meio ambiente. Além desse passo a passo, na Conferência foi lançada uma calculadora para o gerenciamento do lixo no mar e de um hotsite do projeto Lixo Mar. Também foi assinada uma parceria entre a Prefeitura de São Luís e a Associação Internacional de Resíduos
Sólidos (ISWA, na sigla em inglês), para a realização do estudo e diagnóstico.

A programação do evento inclui debates e palestras com especialistas em gestão de resíduos sólidos da Agência de Proteção Ambiental da Suécia (Sepa), da International Solid Waste Association (ISWA, na sigla em inglês), do Ministério do Meio Ambiente (MMA) e de especialistas locais.

20 TONELADAS RETIRADAS DAS PRAIAS DE SÃO LUÍS

A presidente do Comitê Gestor de Limpeza Urbana de São Luís, Carolina Moraes Estrela, durante a abertura da Conferência Internacional de Prevenção e Combate ao Lixo no Mar, enfatizou que o lixo no mar é um problema global. E disse que, nem sempre, o resíduo encontrado na faixa de praia de São Luís pode ter sido levado pelo banhista, mas trazido à capital maranhense pelas correntes marinhas, tal como acontece na Grande Mancha de Lixo do Pacífico, entre a Califórnia e o Havaí.

“Há movimentação e variação de maré. E isso se torna um problema de todos. É importante que a gente saiba de onde vem o resíduo e qual é a causa para ele estar aqui na nossa cidade”, frisou Carolina Estrela.

O vice-prefeito Júlio Pinheiro, que esteve presente à Conferência, declarou que as atividades humanas estão causando um declínio alarmante na variedade da flora e fauna do planeta. Mas ressaltou que nos últimos três anos, a capital maranhense avançou na questão ambiental, quando a Prefeitura dissolveu os lixões a céu aberto.

PUNIÇÃO AO DESCARTE IRREGULAR

São Luís já tem uma legislação nova que, segundo o Comitê Gestor de Limpeza Urbana, está em fase de adaptação para que seja aplicada e haja a punição para o descarte irregular dos resíduos, não somente no mar, mas também nas vias urbanas. “Retiramos 300 toneladas de lixo das ruas todos os dias, nas praias, 20”, frisou Carolina Estrela. Segundo o secretário de Qualidade Ambiental do Ministério do Meio Ambiente, André França, que também está em São Luís participando da Conferência, o Brasil tem 2021 praias, correspondente a oito mil quilômetros de costa.

Fechar