Ator Lázaro Ramos tem a carreira celebrada no 4º dia do Festival de Cinema de Gramado

Lázaro Ramos subiu ao palco para receber o Troféu Oscarito, batizado a partir do nome de um dos maiores intérpretes da história cinematográfica.

Da redação: Vinicius Bogea

Por Márcio Sallem

Direto de Gramado/RS

A cada dois dias, o Festival de Gramado acrescenta na programação homenagens a artistas relacionados à indústria cinematográfica. Se vocês recordam, no sábado, Carla Camurati havia recebido o Troféu Eduardo Abelin, que honra diretores do cinema brasileiro. Ontem, foi a vez de Lázaro Ramos subir ao palco e ter a carreira celebrada com o Troféu Oscarito, batizado a partir do nome de um dos maiores intérpretes da história cinematográfica. Lázaro junta-se a Marília Pêra, Sônia Braga, Dira Paes e Edson Celulari, os vencedores dos anos anteriores.

De Cinderela Baiana a Madame Satã e Ó Pai, Ó, o talento de Lázaro Ramos

Antes de subir ao palco, o Festival de Gramado recordou que, aos 15 anos de idade, Lázaro (ou Lazinho, como o ator se apelida carinhosamente) havia ‘contracenado’ com Carla Perez em “Cinderela Baiana”. As aspas têm fins irônicos: Lázaro aparecia por pouco mais de 1 minuto, dançando um misto de samba e axé, ao lado da musa do É o Tchan!.

Ao subir no palco do Palácio dos Festivais e ser ovacionado pela plateia, que incluía Bruna Marquezine, Murilo Rosa, Dedé Santana, Thaila Ayala, Cláudia Ohana e também seu pai, Lázaro agradeceu aos profissionais do cinema que o ajudaram a forma seu gosto artístico e à atriz Ruth de Souza, falecida no final do mês de julho deste ano. Com sua carreira, o ator deseja poder inspirar e ser relevante para esta geração, assim como a passada fora para ele.

Aos 39 anos, Lázaro Ramos já havia sido premiado no Festival de Gramado de 2005, por sua atuação em “Cafundó”. Na oportunidade, o ator não pôde estar presente para receber o prêmio.

Uma viagem à Bolívia com “Muralla”

A arte cinematográfica é o meio por que podemos conhecer histórias, que não as nossas, e viajar a países que talvez jamais pensaríamos em conhecer, e este “Muralla”, o eleito para representar a Bolívia no Oscar do ano passado, convida o espectador a percorrer as favelas do país, mais precisamente na cidade de Oruru, sede do time de futebol San Jose, que o protagonista Jorge havia defendido anos antes.

Agora, empobrecido, separado da ex-mulher e com o filho em coma na fila do transplante de órgãos, Jorge aceita o convite do amigo Cacho e participa de uma operação de tráfico humano. Por razões em que não irei me aprofundar, o ex-goleiro se arrepende do crime que cometeu e resolve, ao estilo “Busca Implacável” e com o pé na realidade, ir atrás da jovem desaparecida dentro de uma organização cujas ramificações alcançam o mais alto do poder.

A história foge do lugar-comum e se desenvolve de modo imprevisível, em especial com relação a Cacho e seu relacionamento com Jorge, depois de este usá-lo para desbaratar parte da operação. O místico também desempenha papel crucial no comportamento de Jorge, proporcionando aquilo tantos vezes ausente no cinema contemporâneo: a dificuldade em antecipar o que acontecerá na cena seguinte. Isto ajuda a perdoar a carência de recursos técnicos – câmeras, sobretudo – desta produção dirigida por Gory Patiño.

“E o que a Gente Faz Agora?” (BA) e “Menino Pássaro” (SP), os curtas da noite

A produção baiana dirigida por Marina Pontes narra o relacionamento LGBTQ+ a partir de um jogo de câmera inteligente, que esconde do espectador determinada personagem como se resguardasse seu tempo em assumir a homossexualidade. A ideia é interessante, embora tenha matado a charada justo na primeira cena.

Após tantos cineastas brancos contarem histórias de personagens negros, o diretor paulista Diogo Leite comentou que, em “Menino Pássaro”, realizou a postura contrária, expondo a visão negra de uma jovem branca e sua relação com a questão racial. A trama ficcional está inspirada em um caso real e revela a modificação do comportamento dos habitantes de um condomínio quando um garoto de rua começa a morar na calçada.

“Menino Pássaro” foi selecionado pela curadoria que pude compor para a última edição do Festival Guarnicê de Cinema.

Bruna Marquezine estreia como protagonista em “Vou Nadar Até Você”

O filme mais badalado da noite conta a história de Ofélia, igual a personagem de Hamlet e reproduzida na pintura de John Everett Millais, que decide nadar, literalmente, de Santos a Ubatuba – separados por mais de 250 quilômetros – para enfim conhecer o pai, um fotógrafo alemão que chegou ao Brasil para uma mostra fotográfica. Claro que Ofélia poderia, se assim desejasse, pegar um ônibus para alcançar seu objetivo, mas sua jornada é mais lírica e poética do que realista, como as pretensões artísticas desta produção.

Com a direção de Klaus Mitteldorf, a narrativa está estabelecida como um road movie ou um filme de estrada, em que a jornada de Ofélia lhe permite conhecer os amigos do passado do pai, Tedesco, e melhor conhecer seus limites. É uma trajetória de empoderamento, disto não há dúvida, em que Ofélia rejeita o ordinário, em prol de seguir o caminho que escolheu para si. Assim, por habitarem um mundo fantástico em que a empreitada exige apenas uma muda de roupa, uma câmera fotográfica e trocados na carteira, os personagens são meros simulacros do realismo.

A proposta é interessante, embora Klaus não saiba explorar nem desenvolver as situações apresentadas, indo do nada para o coisa alguma e, para piorar, adicionando a subtrama para lá de desnecessária sobre um personagem misterioso e sorrateiro. Sabe aquele ditado, nadar e morrer na praia? Pois é, aplica-se bem a este caso, o que é lamentável, já que a Bruna está cativante no papel central.

Confira a crítica completa dos longas metragens no site Cinema com Crítica e amanhã volto com mais sobre Gramado.

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