Penúltimo dia da Mostra de Cinema tem coletiva com o ator Willem Dafoe

Ator é cotado para o Oscar por sua atuação no filme O Farol

Fonte: Márcio Sallem - Correspondente especial JP

Neste penúltimo dia da 43ª Mostra Internacional de Cinema, aconteceram coisas estranhas jamais ocorridas desde que acompanho o evento, em sua 35ª edição.

A primeira delas: pela primeira vez, conferi um mesmo filme duas vezes, neste caso, “O Farol” do diretor Robert Eggers (de “A Bruxa”). O motivo é compreensível: eu amei esta que é daquelas produções que levarei comigo. A revisita, apenas uma semana depois de eu conferi-lo no dia 22, também serviu para que eu confirmasse suspeitas que eu possuía em relação à interpretação dos eventos – adianto, haverá ‘textões’ e vídeos explicando símbolos e passagens.

É um daqueles casos em que literalidade e metáfora andam de mãos dadas, até que não possamos mais distinguir se o que estamos assistindo é somente o produto de uma mente perturbada que acredita que suas fantasias são reais ou, caso contrário, se existe algo táctil e palpável na história de dois faroleiros no início do século passado. Pode ser, ainda, que a resposta esteja no meio-termo, a área cinzenta interpretativa em que concordamos em discordar, considerando isto ou aquilo que se amolde à forma como enxergamos o terror e o isolamento.

“O Farol” estreia somente no dia 2 de janeiro de 2020 nos cinemas brasileiros, e se considerarmos ser preto e branco, pode ser que o circuito de São Luís não exiba – cruzemos os dedos que não aconteça. Quer assistir? Basta pressionar a cadeia exibidora local, a distribuidora (a Vitrine Filmes) e, em último caso, a RT Features.

Outro fato inédito em minhas coberturas de Mostra está na oportunidade de participar da coletiva de imprensa, que contou com a presença do diretor, do ator Willem Dafoe – que poderá estar na lista de indicados ao Oscar de melhor ator coadjuvante – e do produtor brasileiro Rodrigo Teixeira, que afirmou haver iniciado a campanha da produção para que dispute os prêmios deste ano.

Dentre as perguntas realizadas por jornalistas e críticos, uma que me chamou a atenção é a inspiração de Robert Eggers em “O Iluminado” para compor a ideia central de que a loucura pode ser induzida pelo local onde estamos. Deixei nos stories do Jornal Pequeno no instagram uma porção da coletiva de imprensa para que vocês acompanhem as perguntas e respostas da equipe.

Se você pensa que parei com minhas novidades, está enganado. Pela primeira vez, confundi a sala de cinema onde seria exibido um dos filmes que havia programado para este dia. Deve ser fruto da idade ou, quem sabe, da fadiga mental a que estou submetido, tendo ainda me obrigado a abrir mão do filme seguinte para participar do lançamento do livro “Curta Brasileiro – 100 Filmes Essenciais”. Lançado pela editora Livramento, com o apoio do Canal Brasil e organizado pela Associação Brasileira de Críticos de Cinema – Abraccine -, entidade de classe de que participo, o livro reúne críticas e ensaios sobre os curtas-metragens definitivos que você deverá conhecer de nossa filmografia. Este que vos escreve pôde comentar sobre “Meu Compadre, Zé Keti”, dirigido pelo saudoso Nelson Pereira dos Santos e que acompanha o adeus do famoso músico da Portela através de uma roda de samba. Uma despedida descontraída como Zé Keti sempre sonhou.

Para que este dia não seja, somente, o relato dos devaneios de um crítico de cinema perdido em São Paulo, organizei uma lista em ordem alfabética com as 10 melhores produções que assisti (foram 56 até agora). Aí vai:

  • Amazing Grace – documentário filmado em 1972 quando a cantora Aretha Franklin gravou com o coral Southern California Community aquele que viria a ser o álbum de gospel mais vendido de todos os tempos. O filme não tem data de lançamento no Brasil.
  • Até Logo, Meu Filho – produção chinesa que retrata a trajetória de duas famílias por 30 anos de história, da China comunista à abertura ao capitalismo. O filme não tem data de lançamento no Brasil.
  • Dente de Leite – tragicomédia australiana que narra a paixão súbita de uma garota com câncer terminal por um traficante de drogas, exigindo que sua família se adapte a esta fase. O filme não tem data de lançamento no Brasil.
  • Farol, O – terror norte-americano com produção da RT Features e estrelado por Robert Pattinson e Willem Dafoe. O filme estreia em 2 de janeiro de 2020.
  • Honeyland – documentário da Macedônia do Norte que narra a trajetória de Hatidze, uma apicultora que tem a vida modificada com a chegada de um família turca no vilarejo onde mora. O filme não tem data de lançamento no Brasil.
  • Papicha – produção franco-argelina, indicada para disputar o Oscar por este país, que relata a guerra civil ocorrida no país nos anos 90 a partir do olhar de uma estudante de moda. O filme estreia em 31 de outubro de 2019.
  • Paraíso Deve Ser Aqui, O – saga cômica em que o diretor Elia Suleiman discorre, por anedotas, como Nova York ou Paris não são tão diferentes assim de sua Palestina. Apesar de possuir distribuidora nacional, a Imovision, ainda não há data de lançamento no Brasil.
  • Parasita – o drama sul-coreano sensação do momento e que disputará muitos (eu digo, muitos) prêmios ao longo da temporada de premiações, comenta a desigualdade social com uma narrativa que não cessa de surpreender. O filme estreia em 7 de novembro de 2019.
  • System Crasher – o candidato da Alemanha ao Oscar do próximo ano retrata uma garota de nove anos com problemas de agressividade e descontrole. É um dos destaques da Mostra, porém o filme não tem data de lançamento no Brasil.
  • Vida Invisível, A – o candidato brasileiro ao Oscar é um melodrama tropical dirigido por Karim Aïnouz e viaja ao Rio de Janeiro dos anos 50 para revelar a separação forçada de duas irmãs que, como ensina o ditado, são carne e unha. O filme estreia no Brasil em 31 de outubro de 2019.

Amanhã, concluo a cobertura com os comentários do que assistirei no último dia da Mostra e a revelação dos vencedores dos prêmios.

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