Confira os premiados da 43ª Mostra Internacional de Cinema

A última noite contou com a cerimônia de premiação e exibição de documentários.

Fonte: Márcio Sallem - Correspondente especial JP

Após a exibição do documentário co-produzido por Áustria e Alemanha “Cães do Espaço”, encerrei a minha participação na 43ª Mostra Internacional de Cinema com 60 filmes colecionados na memória. Este é, aliás, o filme mais perturbador que assisti no festival, e relata a história da corrida espacial quando a União Soviética enviou o primeiro ser vivo ao espaço (e à morte certa): a cadelinha vira-lata chamada Laika. Em resposta, os americanos enviaram um chipanzé que, ao retornar à Terra, começou a exibir traumas e, enfim, veio a falecer em um zoológico, longe dos seus por haver convivido, a vida inteira, com humanos.

Estas histórias encontram paralelo na observação passiva da jornada de cães vira-latas na Rússia contemporânea, uma maneira de os diretores revelarem que se preocupam em exibir as experiências que seus protagonistas caninos vivenciam, diferentemente dos cientistas espaciais, que apenas monitoraram seus batimentos cardíacos, mas não seus sonhos (poético, não?).

A questão é que, a bem da observação, assistimos aos cães destroçarem um gato de rua. Noutra cena, descobrimos que os diretores não impediram o desfecho, mesmo sabendo o que estava acontecendo. Aqui entra a questão de responsabilidade. Ora, se você, durante seu ofício, testemunha atos de violência contra os animais, mesmo que praticados por um destes, você interrompe e evita algo pior, não é mesmo? Afinal, o que diferencia Elsa Kremser e Levin Peter daqueles cientistas que exploraram os animais enviando-os ao espaço? Nada, ainda que a mensagem da trama atinja o tom desejado, o egoísmo do homem em ver realizado suas aspirações, ainda que ao custo do bem-estar dos animais por que deveríamos zelar.

Antes deste, pude conferir outro documentário, desta vez o português “Campo”, a chance de conhecermos o maior campo militar da Europa, um espaço para testes militares de países diversos e, também, para encontro de astrônomos, criação de gado e muito mais. É o tipo de narrativa que não está inclinada em contar uma história, mas sim a registrar a rotina de um espaço e tempo, como se estivesse diante de um experimento social de ocupação de espaço. Interessante, apesar de não ser para todo o tipo de espectador – houve desistências a mil na sessão.

A obra de ficção a que assisti neste dia foi o indiano “As Ovelhas Douradas e a Montanha Sagrada”, uma curiosa narrativa sobre um pastor que conduz seu rebanho pelas montanhas do Himalaia durante a queda de um avião naquela região. Existe uma recompensa a quem ajudar nos trabalhos de resgate, afinal, quem melhor para quem conhecer esta região do que aqueles que dela retiram seu sustento no pastoreio?

Existe um quê de realismo na câmera estática que apenas acompanha, por exemplo, a descida do protagonista por um desfiladeiro de rochas durante um longo plano sem cortes, e esta abordagem é mantida na narrativa, que deixa livre a construção e resolução de suas questões. O resultado paira no espaço e existem símbolos mal-explicados, mas é até uma experiência curiosa e bem a cara de uma Mostra de Cinema.

Premiados

Além disto, a noite de hoje contou com a cerimônia de premiação, cujos vencedores estão em sintonia com aquelas produções que pude indicar ontem para vocês. Confiram:

O Troféu Bandeira Paulista concedido pelo Júri Internacional da Mostra – formado por Beto Brant, Lisandro Alonso, Maria de Medeiros e Xénia Maingot – premiou “Honeyland” como melhor documentário e “System Crasher” e “Dente de Leite”, empatados, como melhor ficção.

O Prêmio do Público escolheu, entre os estrangeiros, “Parasita” como melhor ficção e “A Grande Muralha Verde”, melhor documentário. Já nos nacionais, “Pacificado” recebeu o prêmio de melhor ficção e “Chorão: Marginal Alado”, de documentário.

O Júri da Associação Brasileira de Críticos de Cinema – composto pelos meus colegas Nayara Reynaud, José Geraldo Couto e Pablo Villaça – premiou “Currais” o melhor filme brasileiro entre os realizados por diretores estreantes. Já o Prêmio da Crítica foi, de novo, para “Honeyland”, como melhor documentário, e “Aos Olhos de Ernesto”, melhor ficção.

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