Por Márcio Sallem, correspondente especial do JP
Gramado/RS
A cerimônia de encerramento do 47º Festival de Gramado assistiu à consagração do longa-metragem cearense, “Pacarrete”, que faturou 8 prêmios Kikito. Pudera, aplaudido de pé e ovacionado na sessão da última terça-feira (20), seria difícil imaginar que seus concorrentes diretos (“Veneza” e “Hebe – A Estrela do Brasil”) pudessem arrancar o brilho da biografia da ex-bailarina e professora de dança que sonhava em premiar a cidade de Russas por seu bicentenário com um espetáculo autoral.
O costarriquenho “El Despertar de Las Hormigas” (O Despertar das Formigas) faturou o prêmio de melhor longa estrangeiro. Já a animação “Apneia”, que tive o prazer de selecionar na curadoria para participar do 42º Festival Guarnicê, venceu como melhor curta-metragem. Finalmente, o gaúcho “Raia 4”, que concorreu em duas mostras competitivas (longas nacionais e gaúchos), venceu nesta.
No palco do Palácio dos Festivais, a cantora Anaadi, participante do “The Voice Brasil” e vencedora do Grammy Latino de Melhor Álbum de Pop Contemporâneo Brasileiro (2018), interpretou canções brasileiras e latino-americanas acompanhada do Coral Bocalis e banda, no início e entre cada bloco de prêmios (Curtas-Metragens, Longas-Metragens Estrangeiros, Longas-Metragens Brasileiros e Melhores Filmes).
Uma novidade anunciada pelo Festival, após a morte de seus curadores anteriores Rubens Ewald Filho e Eva Piwaworski, o Diretor da Gramadotur Edson Néspolo anunciou os curadores da edição do ano seguinte: Pedro Bial e a atriz argentina Soledad Villamil que se juntam ao crítico de cinema Marcos Santuário para selecionar os filmes que serão exibidos no período de 14 a 22 de agosto de 2020.
Como no decorrer do Festival de Gramado, o Palácio dos Festivais foi palco de protestos e manifestações dos realizadores, não seria diferente que mais frases de resistência e apoio ao cinema nacional adviessem dos premiados. Uma delas, a atriz transgênero Wallie Ruy (Prêmio Especial do Júri por “Marie), pontuou corajosamente a respeito da diversidade e representatividade na produção cinematográfica nacional.
Se dentro as palavras eram de defesa à cultura brasileira e contra o desmonte da Ancine, com gritos ocasionais de “Fora, Bolsonaro!” e “Lula Livre”, do lado de fora a situação se desenrolou com maior dramaticidade. Isto porque, ainda no tapete vermelho, artistas entraram no Palácio dos Festivais carregando cartazes e faixas com gritos de ação e resistência, mas foram atacados covardemente pelo público separado por grades. Pedras de gelos e restos de comida foram arremessados e ofensas dirigidas, a ponto de exigir do Festival de Gramado o pronunciamento contra atitudes iguais a esta.
Por ser oportuno, reproduzo, na íntegra, o comunicado da Assessoria:
A cidade de Gramado e o Festival de Cinema têm uma história sólida, de fortalecimento e crescimento mútuo. São 47 anos ininterruptos de encontros que trazem à cidade atores, produtores e público do Brasil e América Latina para as mostras, os debates e outras atividades paralelas ligadas à cultura cinematográfica e ao mercado do audiovisual. Os dias em que acontece o Festival também mobilizam atividades paralelas, festas e shows, reforçando a vocação turística da cidade. O último fim de semana do Festival é particularmente concorrido, enchendo a cidade de diferentes públicos, entre cinéfilos e pessoas que buscam outros eventos. Todos são bem vindos e o tapete vermelho do Festival é democrático. Os espaços em seu entorno são públicos e de livre circulação. Servem de atrativo para os que apenas querem ver artistas e também para os profissionais do audiovisual que acreditam na importância e na história do mais antigo e respeitado Festival de Cinema do Brasil. Conviver com esta diversidade de motivos e desejos para estar na cidade é democrático e fundamental para a harmonia de tudo e todos. Como sempre fez em sua tela, o Festival de Cinema de Gramado acolhe, contempla e evidencia diferentes estéticas e opiniões, sendo historicamente um espaço para debates e manifestações. O que não se pode admitir é a violência como prática ou resposta a ideias e opiniões diferentes. Só a tolerância e o respeito seguirão fortalecendo a história da cidade, do festival, reforçando e saudando o convívio de todos.
A seguir, estão todos os vencedores na noite de encerramento deste evento mágico do cinema, senão pela ação de uns poucos do lado de fora, que totalizou R$ 285 mil em dinheiro, além de prêmios prêmios Edina Fujii CiaRio/ Naymar (R$ 48 mil) e Tecna PUC-RS (R$ 30 mil).
Longas Brasileiros:
Melhor Filme: “Pacarrete”, de Allan Deberton
Melhor Direção: Allan Deberton, “Pacarrete”
Melhor Ator: Paulo Miklos, em “O Homem Cordial”
Melhor Atriz: Marcélia Cartaxo, em “Pacarrete”
Melhor Roteiro: Allan Deberton, André Araújo, Natália Maia e Samuel Brasileiro, por “Pacarrete”
Melhor Fotografia: Edu Rabin, por “Raia 4”
Melhor Montagem: Joana Collier e Fernanda Krumel, por “Hebe”
Melhor Trilha Musical: Sascha Kratzer, por “O Homem Cordial”
Melhor Direção de Arte: Tulé Peake, por “Veneza”
Melhor Atriz Coadjuvante: Carol Castro, em “Veneza” e Soia Lira, em “Pacarrete”
Melhor Ator Coadjuvante: João Miguel, em “Pacarrete”
Melhor Desenho de Som: Rodrigo Ferrante e Cauê Custódio, por “Pacarrete”
Prêmio especial do Júri: “30 Anos Blues”
Júri da Crítica: “Raia 4”, de Emiliano Cunha
Melhor filme do Júri Popular: “Pacarrete”, de Allan Deberton
Longas estrangeiros:
Melhor Filme: “El Despertar de Las Hormigas”, de Antonella Sudasassi Furnis
Melhor Direção: Juan Cáceres, por “Perro Bomba”
Melhor Ator: Fernando Arze, em “Muralla”
Melhor Atriz: Julieta Díaz, “La forma de las horas”
Melhor Roteiro: Bernardo e Rafael Antonaccio, por “En el Pozo”
Melhor Fotografia: Rafael Antonaccio, por “En el Pozo”
Prêmio especial do júri: para as meninas Isabella Moscoso e Avril Alpizar do filme “El despertar de las hormigas’, por suas excelentes atuações.
Menção Honrosa: para a direção de arte de “Dos Fridas”
Júri da Crítica: “El Despertar de Las Hormigas”, de Antonella Sudasassi Furnis
Melhor filme Júri Popular: “Perro Bomba”, de Juan Cáceres
Longas Gaúchos:
Melhor filme: Raia 4, de Emiliano Cunha
Curtas Brasileiros:
Melhor Filme: “Apneia”, de Carol Sakura e Walkir Fernandes
Melhor Direção: Diogo Leite, por “O Menino Pássaro”
Melhor Ator: Rômulo Braga, em “Marie”
Melhor Atriz: Cassia Damasceno, em “Mulher que Sou”
Melhor Roteiro: Renata Diniz, por “O Véu de Armani”
Melhor Fotografia: Sebastian Cantillo, por “A Ética das Hienas”
Melhor Montagem: Daniel Sena e Thiago Foresti, por “Invasão Espacial”
Melhor Trilha Musical: Carlos Gomes, em “Teoria Sobre Um Planeta Estranho”
Melhor Direção de Arte: Gutor BR, por “Sangro”
Melhor Desenho de Som: Gustavo Soesi, “Um Tempo Só”
Prêmio especial do júri: para as atrizes Divina Valéria e Wallie Ruy, em “Marie”, por nos permitirem vivenciar deslocamentos corporais inesperados e por imaginarem um futuro travesti num país que mais mata trans no mundo.
Júri da Crítica: “Marie”, de Leo Tabosa
Melhor Filme Júri Popular: “Teoria Sobre Um Planeta Estranho”, de Marco Antônio Pereira
Menção Honrosa: a Ester Amanda Schafe, de “A Pedra”, pela vigorosa interpretação e pelo talento promissor que revela.
Prêmio Aquisição Canal Brasil: “Marie”, de Leo Tabosa