Maranhão não tem isolamento social adequado por falta de cultura da sociedade, diz Dr. Calixto

Para o médico, o freio no alastro da Covid-19 está em pessoas conscientizadas de que, se ficarem em suas respectivas casas, não vão contaminar ninguém

Fonte: Luciene Vieira

O Maranhão, teoricamente, completa 71 dias de quarentena neste domingo (31). Nesse período, o número de mortes avançou e já se contabiliza quase mil pessoas que perderam a vida devido ao novo coronavírus. Os governos municipal e estadual fecharam escolas e universidades, interditaram o comércio de serviços não essenciais, decretaram o lockdown, bloquearam a Rua Grande, e implantaram o rodízio de carros. Porém, há uma conspiração aliada à disseminação da doença: a pobreza cultural da sociedade. Para o médico urologista José de Ribamar Rodrigues Calixto, as pessoas somente entendem quando são “roubadas”, quando alguém perde outro alguém. Só então, quem perdeu, segundo o médico, sente falta daquilo que foi dito para fazer, e que não foi feito.

José de Ribamar Rodrigues Calixto é professor do Hospital Universitário Presidente Dutra há 26 anos. O filho dele, que é médico e trabalha no Dutra, teve Covid-19. A esposa de Calixto, também. A sogra do urologista morreu de coronavírus. “Eu tentei ir para a linha de frente; mas, após todos estes fatos, tive que me isolar. O meu isolamento se deu, também, pelo motivo de eu fazer parte do grupo de risco, sou hipertenso, e tenho 58 anos”, informou o médico que, mesmo a distância, atende aos casos urológicos graves da emergência do Hospital São Domingos, e permanece dando assistência remota ao Dutra.

O urologista e professor universitário de medicina disse que as pessoas, sequer, sabem a diferença entre vírus, bactéria e fungo.

“Vivemos num país pobre, com nível de cultura baixo. Quando se fala em ‘taxa de contaminação’ a população não entende. Na ‘marra’, houve um significativo respeito ao distanciamento social durante o lockdown. Mas, infelizmente, as pessoas criticam até aquilo que elas não têm o mínimo de conhecimento; às vezes, somente porque o vizinho criticou”, avaliou José Calixto.

Sobre o rodízio de carros e o lockdown, o médico disse que o governo do Estado tomou condutas para tentar controlar uma tempestade, quando o fenômeno já estava se manifestando, num espaço de tempo em que, de um jeito ou de outro, ele ia acontecer, e aconteceu. “Rodízio de carros e lockdown não vão resolver. O freio no alastro da Covid-19, está em pessoas conscientizadas de que, se ficarem em suas respectivas casas, não vão contaminar ninguém”, deu seu ponto de vista, Calixto.

REABERTURA DO COMÉRCIO DEVE SEGUIR GRADUAL

Seis dias atrás, começou no Maranhão o processo de reabertura gradual das atividades econômicas. Na sexta-feira (29), o governador Flávio Dino informou que, entre os setores que retornarão as suas atividades, de maneira gradual, estão as instituições de ensino, que tem previsão para voltarem a partir do dia 15 de junho, com os cursos de graduação e pós-graduação, posteriormente, ensino médio, fundamental e educação infantil. Para o Dr. Calixto, o retorno das atividades deve ocorrer, baseado no número de novas internações, consultas e mortes.

“Os comparativos devem ser das últimas duas semanas, e não de quarenta dias atrás. Logo, a reabertura do comércio deve continuar gradual, a partir do momento em que os números forem caindo, em relação às novas internações”, opinou o urologista.

PICO ENTRE FIM DE ABRIL E COMEÇO DE MAIO

 “Esta é a minha visão pessoal. O que foi registrado do dia 20 de abril ao dia 10 de maio é um verdadeiro terror, em São Luís. Todas as Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) e os hospitais UDI, Dutra, São Domingos, Carlos Macieira, superlotados, com ambulâncias fazendo filas. Então, esse período foi um horror. Minha sogra morreu no dia 2 deste mês, de manhã cedo, 11h já tinha alguém ocupando o leito dela, e outros três pacientes na fila esperando leitos na Unidade de Tratamento Intensivo (UTI)”, contou Calixto, considerando o fim de abril e o início de maio como o primeiro pico da pandemia, na capital maranhense.

O médico disse também que há uma possibilidade moderada de que em junho ou julho haja uma decrescente muito acentuada de casos de coronavírus. Sobre a volta à normalidade, Dr. Calixto disse que é necessário olhar para o lado, para os estados brasileiros, e para outros países, pois há uma dinâmica da pandemia, e não se pode ter uma absoluta certeza, mas se pode mensurar a partir de outros lugares infectados.

O médico comentou também sobre a utilização da máscara. “Na minha opinião, ela ainda será usada até setembro ou outubro, por receio da população. Na verdade, apenas quando existir o dia em que nenhuma pessoa foi internada por Covid-19 nele, é que se deve pensar na não utilização da máscara”, manifestou sua opinião, Calixto.

Em relação à volta das aulas escolares, o urologista disse que o ideal seria que ela acontecesse quando não existissem novos casos confirmados no Maranhão. Em relação ao comércio e aos shoppings, o médico disse que é mais fácil (no sentido de prudente) a reabertura dos estabelecimentos comerciais, do que as escolas.

Calixto disse que o atendimento no Hospital Universitário da Universidade Federal do Maranhão (HUUfma) está intenso:

“No Dutra, estão sendo utilizadas drogas que se usam no mundo todo, como anticorpos de largo espectro monoclonais. As UTIs do Dutra, assim como de outras unidades de saúde, evitaram que muitas pessoas entrassem para as estatísticas de óbito. No começo de junho, muitas pessoas ainda vão morrer, devido estarem nas Unidades de Tratamento Intensivo, com complicações crônicas”, informou o médico.

O urologista disse que fez um cálculo rasteiro de 16 a 29 de maio, em que o número de óbitos teria tido uma ligeira queda, cuja média nesse período foi de oito mortes por dia. “De fato, o que precisamos saber no momento é o número de novas internações, pois não há esse dado publicado”, concluiu o médico.

Fechar