Em um mês, Cidade Operária salta do quarto para o segundo lugar no ranking de casos da Covid-19

Mesmo já acumulando mais de 200 pessoas contaminadas pela doença, o registro de aglomeração ainda é visto com frequência no bairro

Fonte: Luciene Vieira

Desde os primeiros registros da contaminação pelo novo coronavírus, na capital maranhense, o bairro da Cidade Operária aparece como um dos que menos respeita o isolamento social, sendo notícia até em rede nacional de televisão. Talvez seja esse o motivo pelo qual o bairro ocupa, atualmente, o segundo lugar no ranking de casos da Covid-19; colocação alcançada no intervalo de apenas um mês.

A Cidade Operária saltou de pouco mais de 80 casos no início de maio para 236, no final do mês. Conforme a última atualização no site da Secretaria Estadual da Saúde (SES), a localidade possui 239 infectados pelo novo coronavírus, de março até ontem (2). O bairro com o maior número de pessoas com a doença é o Turu, com 283 ocorrências. A capital maranhense continua sendo o epicentro da pandemia no Maranhão, com 9.590 casos. Na região metropolitana, o número sobe para 10.400.

SEGUNDO BAIRRO COM MAIS CASOS EM UM MÊS

Conforme levantamento feito pelo Jornal Pequeno, no dia 4 de maio, a Cidade Operária estava em quarto lugar no ranking dos bairros com mais casos da Covid-19, totalizando 85 pessoas infectadas. Em terceiro, estava o Calhau, com 109; seguido por Renascença (112) e Turu (143). No dia 18, a Cidade Operária subiu para o terceiro lugar, com 165 contaminados; perdendo a colocação em quarto lugar para o Calhau (146), o segundo lugar era ocupado pelo Renascença (190) e o primeiro pelo Turu (237). Já no fim de maio, dia 31, a Cidade Operária passou a ser o segundo bairro com mais casos, alcançando a marca dos 236 doentes; o quarto lugar seguiu ocupado pelo Calhau (166), o terceiro passou a ser do Renascença (214) e o primeiro continuou com o Turu (278).

Desde o início da quarentena na capital maranhense, o JP tem feito constantes reportagens sobre o novo coronavírus na Cidade Operária. No dia 7 de maio, em pleno lockdown, a feira do bairro – localizada na Avenida Este – tinha um verdadeiro “formigueiro”. Nunca houve distanciamento adequando entre os vendedores ambulantes – que estão tomando a rua – e as pessoas que iam às compras.

A circulação de carros nas vias públicas da Cidade Operária também era maior do que a recomendada, naquela data. No dia 26 de março, o JP percorreu as principais ruas da Cidade Operária, e flagrou várias lojas de pequeno porte abertas, que vendiam móveis residenciais, material de construção civil, roupas e calçados, além de artigos e consertos de celulares.

Naquela data, o governo do Estado já havia suspendido as atividades econômicas de serviços não essenciais, por meio do decreto nº 35.677.

DESCONTROLE CONTINUA

Atualmente, sem lockdown, e com a reabertura gradual do comércio, a realidade de bastante movimentação, nas ruas da Cidade Operária, continua a mesma. Ontem (2), o JP flagrou aglomerações nas portas de bancos e loterias. No Banco do Brasil, na Avenida Este Externa, os clientes utilizavam máscaras, mas não mantinham o distanciamento de dois metros na fila.

“Se a gente não colar um no outro, a pessoa que está atrás começa a reclamar que a fila não anda; é capaz até de me empurrar”, disse Josiel Nogueira, de 23 anos.

No Banco do Bradesco, localizado na avenida principal da Cidade Operária, mais fila e aglomeração. Nas agências bancárias, os empreendimentos disponibilizaram senhas para o atendimento, e colocaram cones e fitas nas portas, como forma de impedir o avanço das pessoas às instalações internas dos bancos. Havia funcionários também dando auxílio aos clientes nas filas, e era disponibilizado álcool em gel. Em uma casa lotérica, a mesma cena, fila e desrespeito ao distanciamento social.

Já a Praça do Projeto Viva estava vazia ontem. Havia muitas pessoas nas lojas, nas ruas, além de muitos carros circulando. Diferente do final de semana, quando foi flagrada uma grande quantidade de pessoas no local, entre adultos e crianças. Mesmo que não houvesse ninguém sem máscara, distanciamento social não parecia ser algo importante para os moradores da Cidade Operária.

“Ninguém nunca ligou para isso antes. É algo meio que inimaginável até alguns meses atrás. Quem é que vai ficar dois metros de distância das pessoas na fila, numa loja, na feira, na rua? E se aparecer um ‘fura fila’? E se isso gerar uma briga, porque a ignorância reina nas filas de bancos”, disse um aposentado de 67 anos, que preferiu não se identificar.

Sobre o aumento de casos no bairro, as pessoas entrevistadas pelo Jornal Pequeno declararam que estão isentas de culpa. “Se tiver que pegar a doença, vai pegar. Se tiver que morrer, vai morrer; eu mesma é que não vou ficar em casa, ou ficar evitando me aproximar das pessoas”, disse a manicure Kátia Freitas.

“Agora, todo mundo tem Covid-19, é?! Se a população tivesse mesmo parcela de responsabilidade, o governador não pedia, mas mandava todo mundo ficar em casa. Se não estão prendendo nem multando, então, somos nós quem devemos julgar o que é certo e o que é errado”, disse o mototaxista Jair Nogueira.

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