Busca por rentabilidade faz Renault mudar estratégias

O CEO Luca de Meo alertou para as discussões visando a mudança de foco do grupo no mercado brasileiro de volumes para lucratividade

Fonte: Juliana Estigarribia

Após anunciar uma grande reestruturação global, incluindo demissões no mundo todo, a Renault está mudando sua estratégia de marcas, saindo do foco em volumes para rentabilidade — ou “valor”, conforme anunciado nesta quinta-feira, 14. Para o Brasil, a montadora também promete buscar o lucro.

“Estamos em discussões neste momento com a operação brasileira. Nosso foco não será mais market share, já começamos um trabalho de busca pela rentabilidade”, afirmou Luca de Meo, presidente do grupo Renault, em coletiva de imprensa em Paris, na França, após apresentação do novo plano global da companhia.

A Renault apresentou um extenso plano de negócios que tem como base o foco em veículos eletrificados, além da criação de uma unidade exclusiva de mobilidade.

De Meo, que foi empossado no ano passado, afirmou que o planejamento no Brasil incluía uma participação de 10% nas vendas, mas que a partir de agora o foco principal será a lucratividade.

“Nas discussões com a operação brasileira, deixamos claro que a prioridade não é mais market share. Quando o mercado melhorar, estaremos bem posicionados”, disse o executivo. A Renault encerrou 2020 como a quinta marca de automóveis mais vendida do país, com 7,43% de market share. Já na soma com comerciais leves, a empresa obteve 6,75% de participação, na sétima posição do ranking nacional.

O executivo lembrou que a fábrica da Renault em São José dos Pinhais, no Paraná, está operando em apenas um turno.

No Brasil, os modelos da Renault são feitos sob a plataforma Dacia, marca de design e conteúdo espartanos, com custos mais baixos. No entanto, a partir de agora o grupo promete uma “revolução” nas marcas — o plano lançado hoje foi intitulado “Renaulution” — com foco em eletrificação e design. Isso inclui os selos Dacia e Lada.

Reestruturação
A partir de agora, o grupo será dividido em quatro unidades de negócios: Renault, Alpine (de alta performance, incluindo a mudança do nome da escuderia da Fórmula 1 para Alpine), Dacia-Lada e Mobilize (de mobilidade).

O novo plano inclui os seguintes pilares:

Racionalização das plataformas de 6 para 3;
Todos os modelos a ser lançados com base em plataformas já existentes chegarão ao mercado em menos de 3 anos;
Diminuir a capacidade industrial de 4 milhões de unidades, em 2019, para 3,1 milhões até 2025;
Reinventar a eficiência com fornecedores.
Segundo De Meo, o mercado consumidor está se transformando e o grupo pretende se posicionar na liderança global. “Os automóveis vão mudar, novas oportunidades vão surgir. A Renault vai liderar a transição para elétricos, temos todos os atributos para fazer isso.”

Até 2023, o grupo tem como meta atingir mais de 3% de margem operacional, aproximadamente 3 bilhões de euros de fluxo de caixa livre operacional acumulado da divisão automotiva (entre 2021 e 2023), investimentos menores — para cerca de 8% de receita — e break even 30% mais baixo. Até 2025, a meta de margem operacional é de 5%.

Adicionalmente, o plano inclui atingir 20% da receita com serviços, tratamento de dados e comercialização de energia até 2030. “Vamos passar de uma empresa de carros que trabalha com tecnologia para uma empresa de tecnologia que trabalha com carros.”

Nesta reestruturação, De Meo afirma que o grupo não deve anunciar mais demissões. “Queremos ser lembrados por criar valor e também empregos.”

A nova estratégia criará um portfólio de produtos “reequilibrado e mais lucrativo”, segundo a companhia, com 24 lançamentos até 2025. Metade deles nos segmentos C e D (de SUVs, basicamente) e pelo menos 10 modelos 100% elétricos.

Aliança com a Nissan
Embora De Meo tenha falado pouco sobre a Nissan durante a conversa com jornalistas, o executivo reforçou que a aliança continua sendo de suma importância para a Renault. Segundo o novo plano do grupo francês, 80% das plataformas de produção serão compartilhadas com a Nissan e a Mitsubishi.

“Nossa aliança com a Nissan continua forte, tanto é que as plataformas utilizadas na nossa produção serão amplamente em conjunto.”

Desde a prisão e posterior fuga de Carlos Ghosn, ex-presidente da Aliança Renault-Nissan, a sustentabilidade da parceria vem sendo colocada em xeque. No entanto, De Meo fez questão de reforçar a importância da aliança, que rendeu cerca de 7 milhões em vendas para as marcas no último ano cheio.

Compartilhamento de carros
A nova unidade de negócios Mobilize propõe a maior utilização do carro que, segundo a Renault, fica 90% do tempo parado. A proposta também inclui o acesso mais amplo e rápido do veículo elétrico ao redor do mundo.

Além do compartilhamento de veículos para pessoas físicas, a unidade também terá serviços de gestão de frotas e tratamento de dados, visando melhor previsão de demanda e distribuição dos veículos.

Dentro dessa estratégia, a Mobilize terá quatro modelos elétricos dedicados. Um deles, de apenas 2,3 metros de comprimento para duas pessoas, visa mobilidade ágil e ocupando espaço mínimo no trânsito.

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