Negligência contra a pessoa idosa representa 31% das violações registradas na Defensoria Pública

5.743 ocorrências de violência foram registradas, o equivalente a três casos por dia.

Fonte: Luciene Vieira

Um levantamento feito pela enfermeira Helen Byanca Sousa Carvalho revelou que, de 2015 a 2020, na região metropolitana de São Luís, um terço dos casos de violência contra a pessoa idosa que foram parar na Defensoria Pública do Estado do Maranhão (DPE-MA) é de negligência.

A pesquisa de Helen faz parte da monografia da profissional de saúde, na Universidade Federal do Maranhão (Ufma). O Trabalho de Conclusão de Curso tem como tema “Violência contra a pessoa idosa e vínculo com agressor: qual a tendência predominante na região metropolitana de São Luís?”.

Enfermeira recém-formada realiza monografia sobre temática violência contra pessoa idosa, na Grande São Luís (Foto: Divulgação)

De acordo com Helen Byanca, de 1º de janeiro de 2015 a 31 de dezembro de 2020, houve na DPE-MA, por meio das fichas de atendimentos do Centro Integrado de Apoio e Prevenção à Violência Contra a Pessoa Idosa (Ciapvi), 5.743 ocorrências registradas de violência contra a pessoa idosa. O equivalente a três casos por dia.

A enfermeira informou que houve prevalência da negligência, com 31%, com crescimento nos relatos de abandono. Helen informou que, em relação aos dados da DPE-MA, ano passado teria havido queda significativa nos registros: em 2019 foram 1.194 ocorrências documentadas, em 2020 apenas 571.

“Foi devido a pandemia de Covid-19, pois diante da necessidade do isolamento social, a Defensoria passou a realizar os atendimentos de forma prioritariamente não presencial, por telefone, e-mail, ou chat do site. Os idosos não têm tanta habilidade para estes recursos, então isso pode ter impactado, sim, na quantidade de registros”, disse Helen.

Segundo a pesquisadora, grande parte da violação tem origem familiar, os suspeitos são predominantemente os filhos, com 48%. “Há um conflito interno: a maioria dos violadores são familiares”, frisou Helen.

A enfermeira avaliou que a escalada das violações contra as pessoas idosas está relacionada à configuração familiar. “O seio familiar tem se mostrado como o espaço que mais reproduz violência. Na literatura, existem autores que afirmam o predomínio dos filhos como os agressores estaria lapidado nos novos modelos familiares como, por exemplo, o retorno de filhos à casa de seus pais, fazendo com que os idosos novamente sejam ‘responsáveis’ pelo sustento deles”, declarou Helen.

A enfermeira recém-formada destacou ainda que as violações podem ser uma consequência da falta de conhecimento sobre como tratar os idosos. “Os familiares têm dificuldade para lidar com o processo do envelhecimento. Nós brasileiros não costumamos nos preparar para ‘velhice’. Frequentemente o idoso é marginalizado, colocado no perfil de pessoa improdutiva, inútil, que não tem mais valor”, destacou Helen.

MONOGRAFIA 

O levantamento feito por Helen faz parte da monografia para conclusão do curso de enfermagem da Universidade Federal do Maranhão. O trabalho foi defendido em uma cerimônia virtual, no dia 28 de abril de 2021, via Google Meet.

A enfermeira disse que sua pesquisa pode contribuir para um atendimento amplo, que leva em consideração as questões sociais e comportamentais, e somente à saúde física dos pacientes idosos. “Eu, e o meu orientador, que é o professor Rafael de Abreu Lima, na monografia, estudamos os tipos de violência que os idosos das quatros cidades da Grande Ilha mais sofreram, nos últimos cinco anos. Além disso, procuramos saber que tipo de idoso foi mais violentado. Após isso, analisamos o tipo de violência, a tendência dela no período avaliado, e os vínculos das vítimas com seus agressores”, informou Helen Byanca.

A enfermeira informou que seu trabalho de conclusão de curso tem vínculos com um projeto de pesquisa maior do professor Rafael de Abreu, e que se chama “Violência Contra a Pessoa Idosa no Maranhão”.

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