Obesidade está relacionada com a queda da testosterona

O excesso de gordura, especialmente aquela acumulada na região do abdômen, é capaz de fazer com que homens de meia-idade

Fonte: Da redação

Um estudo realizado por pesquisadores da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS), na Bahia, descobriu uma relação entre a obesidade e a deficiência de testosterona em homens. O estudo envolveu 3,5 mil pacientes homens entre 45 e 64 anos.

“O excesso de gordura, especialmente aquela acumulada na região do abdômen, é capaz de fazer com que homens de meia-idade, entre 45 e 64 anos, já possam apresentar níveis do hormônio masculino semelhantes aos de um octogenário”, conta o urologista José Bessa Júnior, professor da Universidade Estadual de Feira de Santana, na Bahia, e coordenador do estudo.

“Historicamente, se atribui a queda da testosterona ao envelhecimento. Como mensagem importante do nosso estudo, nós não podemos demonstrar essa diferença, a idade dos homens com e sem deficiência de testosterona foi a mesma”, destacou o urologista.

A cardiologista Stephanie Rizk explicou os motivos que podem gerar o distúrbio, que tem relação direta com células do corpo. “A célula gordurosa, quando está inchada, tem uma conversão no próprio tecido gorduroso, como se funcionasse como uma glândula. Pega testosterona e converte em estrogênio, o hormônio feminino. Além disso, tem também o distúrbio da glândula hipófise, que coordena a produção de hormônios no nosso organismo.”

Como foi o estudo
Bessa Júnior e seus colegas avaliaram 3.479 homens acima de 45 anos de idade. Sim, é até o momento o maior estudo sobre o tema realizado no país e esse é um de seus pontos mais interessantes: os pesquisadores incluíram homens que ainda não tinham chegado na terceira idade.

Os mais velhos, por sua vez, foram divididos em grupos de 65 a 74 anos, de 75 a 84 anos e daqueles acima de 85, hoje chamados de super idosos. Aliás, mais um ponto que o professor ressalta: “No mundo inteiro, há poucos trabalhos observando a diminuição da testosterona nessa última faixa”. O estudo brasileiro, porém, reúne 102 participantes acima dos 85 anos.

O hormônio de todos eles foi dosado, é claro. E foram considerados com excesso de gordura aqueles homens com uma circunferência abdominal acima de 102 centímetros.

Além disso, os pesquisadores registraram os níveis de triglicérides, de colesterol e de glicose em jejum para saber quem tinha síndrome metabólica, um pacote nefasto de encrencas, que inclui, além da própria obesidade, diabetes, hipertensão, esteatose hepática, colesterol e triglicérides nas alturas. Mas adianto: a obesidade sozinha pesou mais do que tudo.

“Homens com obesidade têm cinco vezes mais probabilidade de apresentarem deficiência de testosterona do que homens que não acumulam excesso de gordura”, revela o urologista, indo direto ao ponto.

Praticamente um em cada cinco homens de meia-idade — precisamente 19,4% dos 2.168 participantes dentro dessa faixa etária — já tinha níveis de testosterona aquém do esperado. Idem, redondos 20% apresentavam a deficiência no grupo de 65 a 74 anos. E por volta de 18% nos demais grupos, o dos homens entre 75 e 84 anos e o dos super idosos. Percebeu? Contrariando as expectativas, a prevalência do problema foi até ligeiramente menor nos mais velhos.

Não importa a idade, os níveis de hormônio caem conforme a cintura se alarga. Os gráficos que serão apresentados no segundo dia do CBU 2021 deixarão isso claro. Diante deles, fácil notar que a falta de testosterona ocorre em mais de 40% dos homens que — atenção, sejam mais moços ou mais velhos — têm uma circunferência abdominal acima de 110 centímetros.

No entanto, essa prevalência mal chega a 10% quando a gente olha só para aqueles que têm de 94 a 102 centímetros na medida da cintura. No caso dos moços — ou nem tão moços — com uma invejável circunferência abdominal menor do que 93 centímetros, nem sequer 8% tinham a deficiência do hormônio.

E como a gordura atrapalharia a testosterona?
“O que sabemos é que os mecanismos por trás dessa relação têm mais a ver com a hipófise”, diz o professor Bessa Júnior. Essa glândula situada no cérebro libera o hormônio luteinizante, mais conhecido por LH, que age como uma ordem química para os testículos, por sua vez, produzirem a testosterona.

“Uma série de forças adversas, porém, podem tornar os testículos mais frágeis e a tendência, então, é a sua produção de testosterona desacelerar”, explica o urologista. “No entanto, a hipófise faz uma espécie de compensação.”

Só que isso já não funcionaria tão bem quando há obesidade — é a hipótese. Afinal, as células de gordura, os adipócitos, liberam uma quantidade razoável de substâncias inflamatórias, além de um hormônio, a leptina, envolvido com a regulação do apetite. Mas aí é que está: todas essas substâncias interferem no trabalho da hipófise.

Não bastasse isso, o tecido adiposo aumenta a atividade de uma substância, a aromatase, que transforma a testosterona em estradiol, o hormônio feminino. Essa metamorfose também inibe a ação da glândula no cérebro.

“Para complicar, a relação entre obesidade e deficiência de testosterona é de mão dupla”, lembra o urologista. “O hormônio masculino baixo vai favorecer o acúmulo de mais e mais gordura no corpo.” Isso sem contar a diminuição da massa muscular provocada por sua falta. Ora, os músculos costumam torrar energia. Daí que um organismo que se torna menos musculoso tende a engordar com maior facilidade.

“A reposição do hormônio não costuma resolver de vez o problema”, adverte o médico. “Até existem estudos mostrando os benefícios desse tratamento para a sexualidade, mas não há evidências de que repor esse hormônio evitaria doenças cardiovasculares e problemas cognitivos, por exemplo”.

Sem contar, ressalta o professor, que a reposição de testosterona não é livre de efeitos adversos. Um deles seria a infertilidade. Aliás, tampouco é algo que você possa fazer hoje, só para “dar aquele up”, e parar amanhã. Simples: quando o corpo recebe o hormônio assim, de bandeja, os testículos diminuem sua produção natural. E nem sempre ela volta após a interrupção do tratamento.”Por isso, os jovens que inventam de usar testosterona para ficarem mais fortes talvez terminem dependentes dessa terapia”, comenta Bessa Júnior.

Emagrecer pode reverter situação, o que é recomendável. “Mas, primeiro, emagrecer não é tão fácil. Segundo, nem sempre a testosterona volta a subir completamente. Por isso, o ideal seria nem sequer engordar.”

A situação, então, é preocupante para os rapazes. De acordo com o Ministério da Saúde, 21,8% dos homens brasileiros estão com obesidade. E 57,5% têm sobrepeso. Pelo estudo, mesmo esses indivíduos que estão só com alguns quilos a mais concentrados na cintura já apresentam uma pequena queda da testosterona, o que pode ser o começo da ladeira hormonal abaixo.

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