Morte de comerciante completa um ano com suspeitos aguardando julgamento em liberdade

Investigações apontaram cinco policiais militares como os autores do sequestro e execução de Marcos Marcondes.

Fonte: Luciene Vieira

Os cinco policiais militares investigados pela morte do comerciante Marcos Marcondes do Nascimento Silva, ocorrida no dia 1º de fevereiro de 2021, permanecem em liberdade. A informação foi passada ao Jornal Pequeno pelo primo da vítima, o corretor de empréstimos Alesson Robert do Nascimento.

No dia 21 de novembro, do ano passado, a Justiça revogou as prisões preventivas do tenente Francisco Almeida Pinho, sargento Gilberto Custódio dos Santos e dos cabos Marcelino Henrique Santos Silva, Rogério Costa Lima e Robson Santos de Oliveira. Eles passaram quase dez meses presos. A decisão foi proferia pelo juiz Diego Duarte Lemos, do município de São Luís Gonzaga.

De acordo com Alesson Robert, os cinco policiais estão morando em Bacabal, enquanto aguardam o julgamento em liberdade. Eles estariam cumprindo medidas cautelares, como o uso de tornozeleira eletrônica, o comparecimento todo mês ao Fórum de Justiça e proibição de acesso ao 15º Batalhão da Polícia Militar de Bacabal. Estariam também proibidos de manter contato com testemunhas e vítimas do processo; de sair de casa após as 19h; além de terem sido afastados das funções policiais, e suspensão do porte de arma.

“Estamos muito revoltados. Há um ano, aguardamos que a Justiça dê uma resposta para a sociedade, e que este caso não seja mais um que fique impune. Foi traumatizante encontrar o corpo do meu primo. Éramos um grupo de dez pessoas, todos parentes, entre primos, irmãos e a esposa dele, que procurávamos por Marcos. Ele estava machucado, com marcas de algemas, tiro no peito, marcas de tortura. É algo que eu nunca vou esquecer”, declarou Alesson Robert.

MANUTENÇÃO DA PRISÃO

Em novembro de 2021, a Promotoria de Justiça de São Luís Gonzaga recorreu ao Tribunal de Justiça do Maranhão, pedindo pela manutenção da prisão preventiva dos policiais militares. No recurso, o promotor de Justiça Rodrigo Freire Wiltshire de Carvalho observou que a prisão foi decretada após exaustiva análise dos fatos, para assegurar a garantia da ordem pública e por conveniência da instrução criminal.

Rodrigo Freire, ao pedir o retorno dos policiais militares à prisão, lembrou que o crime de ocultação de cadáver demonstra a motivação dos réus em alterar a cena do crime, a fim de montar uma versão diferente dos fatos, que pudessem favorecê-los.

ENTENDA O CRIME

Gilberto Custódio dos Santos, Francisco Almeida Pinho, Marcelino Henrique Santos Silva, Rogério Costa Lima e Robson Santos de Oliveira teriam levado Marcos Marcondes da porta do seu comércio, no dia 1º de fevereiro de 2021. O comerciante teria sido morto em um loteamento chamado Mearim Glass, em Bacabal. Porém, o corpo foi encontrado na zona rural de São Luís Gonzaga.

De acordo com Alesson Robert, no dia 1º de fevereiro de 2021, José de Ribamar Neves, conhecido como “Riba”, estava na fazenda do sogro do policial Gilberto Santos, localizada na estrada Bela Vista, na zona rural do município de Bacabal, quando o policial o chamou para ir buscar ração para carneiros. Porém a vítima foi levada a um loteamento abandonado.

No local, os policiais começaram a torturar José de Ribamar para obrigá-lo a confessar o suposto furto de carneiros, que teriam sido vendidos a Marcos Marcondes, que seria ex-chefe de José de Ribamar.

“Meu primo foi levado do comércio dele por volta das 14h30. Chegamos a ir ao quartel da Polícia Militar pedir ajuda, mas disseram que nada poderia ser feito. Meu primo era evangélico, não tinha nenhuma passagem pela polícia. No dia do crime, circulou pelos grupos de WhatsApp, que tinha ocorrido um suposto tiroteio na zona rural de São Luís Gonzaga. No dia seguinte, por volta das 7h encontramos o corpo de Marcos”, contou Alesson Robert.

TORTURA

Gilberto deu um golpe chamado “telefone” (bater as duas mãos em forma de concha nos ouvidos) na vítima e Francisco começou a espancar e enforcar Riba, que foi amarrado. Francisco colocou um pano e começou a jogar água no rosto da vítima até que este perdesse os sentidos.

Depois de ser reanimado, Riba foi jogado no porta-malas de um veículo. Os denunciados foram ao estabelecimento comercial de Marcos e o forçaram a entrar no mesmo veículo. Os policiais começaram a agredi-lo, exigindo a confissão do furto.

Os acusados levaram as vítimas ao loteamento Mearim Glass, em Bacabal. No local, Marcos foi agredido a socos por Francisco, por enforcamento por Gilberto e Marcelino pulou com os dois pés no peito da vítima. Gilberto e Francisco começaram a despejar água sobre o rosto da vítima, enquanto os outros policiais seguravam as pernas dele para que não se movimentasse.

Com uma camisa enrolada na mão, Francisco começou a exigir a confissão do furto, batendo no rosto da vítima, que parou de respirar e morreu.

SIMULAÇÃO

Os policiais decidiram simular um confronto visando afastar suas responsabilidades com relação à morte de Marcos. Foram a uma estrada vicinal, numa fazenda no povoado Centro dos Cazuzas, na zona rural de São Luís Gonzaga. Retiraram o corpo de “Marcos do veículo, e os policiais Rogério, Marcelino e Robson seguraram o cadáver e Francisco efetuou um disparo de revólver no peito da vítima.

Francisco entregou a arma para Gilberto e mandou que matasse Riba. Porém, o revólver falhou, o sobrevivente saiu correndo pelo matagal e os policiais efetuaram vários disparos em sua direção. Após a fuga, os denunciados esconderam o corpo de Marcos.

Com o objetivo de simular o confronto policial, foi efetuado um disparo de arma na perna de Francisco. O fato foi testemunhado por Riba.

Os policiais perseguiram a vítima durante toda a noite do dia 1° de fevereiro e manhã do dia seguinte. Riba passou seis dias se escondendo e perambulando pela zona rural até chegar à casa do irmão dele na periferia de Bacabal, reaparecendo no dia 8 do mesmo mês.

CULTO

A família de Marcos Marcondes convidou parentes e amigos para o culto de um ano do seu falecimento, que foi realizado ontem, por volta das 19h, na igreja Batista da Paz, na Rua Clores Miranda (em frente ao Senai), em Bacabal.

Denúncia feita pelo Ministério Público    

À época, o Ministério Público, após analisar o inquérito policial que apurou a morte do comerciante Marcos Marcondes, ofereceu denúncia à Justiça. O juiz Diego Duarte de Lemos, da Comarca de São Luís Gonzaga, recebeu no dia 17 de fevereiro de 2021 a denúncia contra os cinco policiais do serviço velado do Batalhão de Bacabal.

Os policiais já estavam presos naquela data, e o juiz Diego Duarte decidiu pela permanência da prisão. Porém, no dia 21 do mesmo mês, os denunciados foram soltos.

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