Centro de Lançamento de Alcântara terá pela primeira vez decolagem de um foguete de empresa privada

Lançamento do HANBIT-TLV, da start-up sul-coreana Innospace, deverá acontecer nesta segunda-feira e testará potencial da base.

Fonte: Gil Maranhão

O Centro de Lançamento de Alcântara (CLA) prepara-se para viver um marco na sua história, desde que foi inaugurado em 1º de março de 1983. Pela primeira vez a base espacial maranhense terá a decolagem de um foguete de uma empresa privada, o que colocará à prova o seu potencial para lançamentos espaciais e ainda habilitará o Brasil a continuar na disputa de uma fatia desse mercado milionário.

O lançamento do foguete HANBIT-TLV, desenvolvido pela empresa sul-coreana Innospace, deverá ocorrer nesta segunda-feira (19), com a presença da comitiva do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), Ministério da Defesa, Comanda da Aeronáutica, dentre outros.

O foguete chegou ao Brasil em 3 de dezembro, no Aeroporto Internacional Marechal Cunha Machado, em São Luís, e de lá seguiu para Alcântara. A operação é resultado de um acordo tecnológico entre a Força Aérea Brasileira (FAB), por meio do Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (DCTA), e a Innospace, assinado dia 29 de setembro deste ano.

O contrato entre brasileiros e os sul-coreanos tem duração de 5 anos e ainda prevê que, a partir de 2023, outros foguetes sejam lançados da Base de Alcântara, com percurso orbital maior e configurações evoluídas do foguete, para colocar satélites no espaço.

“NEW SPACE”

O presidente da Agência Espacial Brasileira (AEB), Carlos Moura, ao discorrer sobre as expectativas para o lançamento, destacou que HANBIT-TLV é um pequeno lançador de satélites com 16,5 metros de altura e 8,4 toneladas.

Segundo ele, o voo previsto para esta segunda, mas dependendo das condições meteorológicas a data pode mudar, e acontecer até esta terça-feira (20). Trata-se de um teste para verificar o desempenho do motor do foguete.

“O veículo não vai ultrapassar 100 km de altitude, não entrando em órbita, ou seja, será na categoria suborbital”, ressaltou.

Moura avaliou o lançamento da Innospace como uma oportunidade do Espaçoporto de Alcântara e da própria AEB se mostrarem capazes de atenderem às necessidades do chamado “New Space” – a fatia do mercado aeroespacial voltada para satélites de pequeno porte. Ou seja, tornar a base maranhense num local atrativo para empresas do ramo.

O presidente da AEB reforçou que o lançamento desse foguete pode colocar o Brasil na rota de países usados para decolagem de voos aeroespaciais e lembrou que dos 50 lançamentos feitos por Alcântara desde sua inauguração, nenhum foi de empresa privada.

Ele lembrou o último lançamento ocorrido no CLA, dia 23 de outubro, com o VSB-30, produzido pelo IAE (Instituto de Aeronáutica e Espaço) e apontou como “exitosa” a operação. “A ideia é que a partir desse lançamento pioneiro nós tenhamos vários outros”, prevê Moura, anunciando que a canadense C6 já se planeja para lançamento no meio do próximo ano, e há outros lançamentos em negociação.

Foguete Sul-Coreano

O foguete HANBIT-TLV levará uma carga útil, chamada de SISNAV (Sistema de Navegação Inercial), que segundo a FAB é “um experimento tecnológico brasileiro essencial para a navegação autônoma de foguetes, que permitirá ao Brasil um grande passo em direção à independência no desenvolvimento de veículos para lançamentos de satélites de todos os tipos”.

O foguete tem 16,5 metros de altura e 8,4 toneladas. O principal diferencial é o motor, que será testado pela primeira vez. Desenvolvido e patenteado pela Innospace, o modelo que será testado no Brasil é alimentado por uma bomba elétrica, sendo considerado híbrido, pois além de propulsores à base de oxigênio, ainda tem mistura de parafinas, “o que proporciona composição química estável, fabricação mais rápida e de menor custo”, explicou a empresa.

“A Innospace está muito orgulhosa de todo o trabalho realizado até aqui, pois foram meses de estudo, planejamento e preparo das equipes. Essa Operação será marcada pela sinergia, esforço e pioneirismo. Entraremos para a história do Programa Espacial”, comentou o diretor de Negócios da Innospace do Brasil, Élcio Jeronimo de Oliveira.

A escolha de Alcântara, segundo a Innospace, faz parte de uma meta de ter bases de lançamentos em todos os continentes e afirmou que o CLA irá atender a demanda de países da América do Sul.

“Em Alcântara não há tráfego marítimo e aéreo, e é considerado um dos melhores locais para lançamentos de foguetes espaciais por ser vantajoso para segurança e proteção por estar fora de áreas residenciais”, destacou a empresa.

Fechar