A violência nas escolas não é um caso apenas de segurança pública, afirma Felipe Camarão

Jornal Pequeno conversou com o vice-governador do Maranhão e secretário de Estado da Educação para abordar os episódios recentes.

Fonte: Redação

Temos acompanhado o aumento de casos de violência nas escolas em todo país, que tem preocupado famílias, educadores, especialistas e segurança pública. Para falar sobre os recentes casos que tristemente chocaram a sociedade brasileira, o Jornal Pequeno conversou com o vice-governador do Maranhão e secretário de Estado da Educação, Felipe Camarão.

Jornal Pequeno – Vice-governador, recentemente temos acompanhado ataques a escolas, que antes víamos ocorrer mais em escolas fora do país, ocorrerem aqui no Brasil, inclusive com alguns casos no Maranhão. De que forma o Governo do Estado tem se preparado para enfrentar esse tipo de situação?

Felipe Camarão – Tenho acompanhado todos esses casos com muita tristeza e preocupação, como pai e como gestor público. Atualmente, já temos em funcionamento na Secretaria Estadual de Educação uma Supervisão que trabalha com a identificação desses casos e que, a qualquer sinal de ocorrência indevida, está apta a seguir com os protocolos cabíveis para evitar que situações como essas possam vir a ocorrer em nosso estado.

Essas ações perpassam, obviamente, o contato com a Ronda Escolar e o amparo policial, e a ida dos próprios servidores dessa Supervisão para pronta avaliação do caso e encaminhamentos necessários para a pronta resolução. Além disso estamos estudando a ampliação do aparato de nossos Agentes de Portaria, nos turnos diurno e noturno, por plantão nas escolas, e levar ao conhecimento de nossas comunidades escolares – por meio de reuniões de pais e implantação no projeto pedagógico das escolas – as medidas de segurança adotadas.

JP – Na sua opinião, que fatores têm contribuído para o surgimento e aumento desses casos no Brasil?

FC – Atualmente, essas ocorrências têm se mostrado cada vez mais complexas e impactantes. E hoje temos que lidar com fatores que vão para além da indisciplina infantojuvenil – propriamente dita – sendo esses elementos fatores que minam o sentimento de segurança em nossas escolas. Infelizmente, temos visto a cada dia o aumento de casos de bullying, cyberbullying e terrorismo entres nossas crianças e jovens. Então, é preciso que pensemos e atuemos em ações educativas para que esses casos sejam diminuídos e lutar para que sejam excluídos do nosso ambiente escolar, trazendo novamente o sentimento de “segunda casa” e acolhimento para nossas escolas.

Paralelo a isso, resgatar a aproximação das famílias com a escola, mantendo diálogo franco e aberto entre professores, gestores e responsáveis, que podem ajudar a minimizar situações conflitantes que possam existir e atuar antes que cheguem ao extremo.

JP – Você acredita que isso é um problema de segurança pública?

FC – É importante falar que esse é um problema que perpassa sim a segurança. Mas, que vai para além dela. Não sabemos a raiz exata do problema, mas o trabalho precisa envolver segurança, saúde mental, em ações conjuntas que devem ser realizadas entre família e escola. Por isso, se faz tão importante trazer cada vez mais a família para o ambiente escolar, em momentos que vão para além das reuniões de pais, mas também promovendo eventos que debatam de forma clara e educativa assuntos como: o vandalismo, consumo e tráfico de drogas, bullying, racismo, nazismo, e outras demandas que – infelizmente – têm feito parte do dia a dia de muitos jovens e que precisam ser esclarecidas.

JP – Diante disso, quais são as ações que estão sendo realizadas pelo governo do Estado no tocante a essa questão da segurança no ambiente escolar?

FC – Nossas ações seguem a proposta de um trabalho conjunto entre o pedagógico de nossas escolas, a segurança pública e o envolvimento com as famílias de nossas comunidades escolares. Desta forma, estamos buscando atuar em diversas frentes, desde a disponibilização de sistemas de câmeras, detectores de metais e ampliação do PROERD – da Polícia Militar – em nossas unidades escolares; o monitoramento de discursos de ódio na internet, como também, a realização de ações pedagógicas e de saúde mental que envolvam – além de nossas crianças e jovens – as famílias em Projetos educativos. E neste ponto específico estão: a realização de campanhas de conscientização, alerta e formações nas escolas sobre o risco de ataques e, principalmente – a implantação de protocolos que auxiliem a lidar na ocorrência dessas situações.

JP – Você acredita que esses ataques, mesmo que em momentos e lugares distintos, sejam coordenados e tenham alguma ligação?

FC – No último caso, ocorrido em Blumenau, a polícia informou que o assassino relatou a existência de um jogo, que estimula essas práticas, e diversos especialistas já tratam sobre o assunto, de que a divulgação de imagens e informações sobre os agressores causa o que os especialistas classificam como “efeito contágio”, estimulando outros ataques.

É de suma importância que essas ações de combate envolvam a sociedade de um modo geral. Não podemos, de forma alguma, negligenciar essas questões, que são complexas, multifatoriais e que necessitam de uma articulação conjunta para o enfrentamento adequado. Noticiar e manter a sociedade informada, sim! Mas midiatizar esses tristes casos e sobrecarregar a todos com informações detalhadas sobre criminosos e seus atos – com o intuito de ajudar a população a compreender melhor esses atos – acaba por alimentar o público de uma curiosidade mórbida e incitar novos ataques.

É preciso ética e cautela por parte da mídia para que esses criminosos não sejam mostrados como exemplos ou ‘passo a passo’ para novas ocorrências. Assim como cada um de nós também, que com o surgimento das novas mídias digitais e com aparelhos celulares nas mãos, acaba por querer repassar qualquer conteúdo para frente, sem fazer uma avaliação crítica.

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