Carlos Lula critica gestão de Braide e anuncia pré-candidatura a prefeito

Em entrevista exclusiva ao Jornal Pequeno, o ex-secretário de Estado da Saúde conta como preservou suas pontes com o executivo federal.

Fonte: Redação

Em seu primeiro mandato, o deputado estadual Carlos Lula (PSB) já figura entre os políticos mais influentes da nova legislatura na Assembleia. Em entrevista exclusiva ao Jornal Pequeno, o ex-secretário de Estado da Saúde conta como preservou suas pontes com o executivo federal, sobre o suposto estremecimento do grupo Dino-Brandão e, ainda, reafirma críticas ao poder executivo da cidade de São Luís.

O deputado Carlos Lula, em entrevista ao Jornal Pequeno, afirma que vai disputar a sucessão de Braide (Foto: Divulgação)

Jornal Pequeno – A polêmica em torno da situação do Hospital da Criança provocou um acalorado debate entre legislativo e executivo na capital. Houve também troca de acusações sobre a oferta de ajuda do Estado na época em que o deputado ainda era secretário de Saúde. Houve desfecho dessa história? Qual é a situação atual?

Carlos Lula – Infelizmente, a situação do hospital é a mesma, permanece crítica. Já era crítica quando eu, ainda secretário de Saúde do Maranhão, ofereci o Hospital Dr. Genésio Rêgo à prefeitura para servir de retaguarda do Hospital da Criança enquanto a obra fosse finalizada. A obra continua inacabada, a unidade de saúde está sucateada. Tem infiltração quando chove. Tem sala do raio-x pegando fogo. Por último, a negativa no atendimento a uma criança indígena que resultou em morte. O Hospital da Criança, infelizmente, é visto hoje pela sociedade como uma unidade abandonada pela prefeitura, que escolheu preferir a disputa política a resolver definitivamente o problema. Nosso objetivo é resolver o problema do hospital, nunca foi criar problemas com a administração do prefeito Eduardo Braide.

Jornal Pequeno – Como o parlamentar observa a situação de São Luís nas recorrentes crises do transporte público?

Carlos Lula – Em todos os anos da gestão Braide houve crise no transporte público e pagamento de subsídios aos empresários. No primeiro ano, o prefeito conseguiu evitar aumento da tarifa, mas já são dois anos consecutivos de aumento, nenhuma melhoria é proporcionada ao usuário e também não há transparência alguma sobre o repasse aos empresários e sobre o cálculo que definiu as novas tarifas. Na audiência pública da Câmara de Vereadores, o secretário responsável pela pasta do Transporte foi monossilábico, alguns “sim” e outros “não”, um total desrespeito aos vereadores e à sociedade. Infelizmente esta parece ser a marca da gestão da prefeitura de São Luís. O prefeito posta uma foto sorrindo dizendo que resolveu mais uma greve, aumentou a tarifa e o ônibus continua a passar de hora em hora, fede a lixo, isso quando não quebra no meio da viagem. Isso não pode continuar dessa forma.

Jornal Pequeno – Dentro desse tema, o deputado também propôs um Projeto de Lei sobre mobilidade urbana para todo o estado. Do que se trata a proposta?

Carlos Lula – Não dá para falar do problema sem apontar soluções. As cidades maranhenses não se preocuparam com a mobilidade urbana ao mesmo tempo em que os municípios cresciam. Nossas cidades são pensadas através de asfalto, avenidas e carros. Não temos ciclovias e não temos acesso a pé que facilitariam a locomoção. O nosso Projeto quer estabelecer diretrizes para a mobilidade urbana no estado de uma maneira geral. O que estamos propondo é que a mobilidade seja pensada através da interligação de modais, do uso do transporte coletivo como um meio para se buscar solução ao caos no trânsito. Ao mesmo tempo, prevemos também mecanismos de transparência, sobretudo, em relação ao aumento de tarifas. Atualmente, essa transparência inexiste por parte dos municípios.

Jornal Pequeno – O deputado continua sendo referência na saúde e conseguiu manter as portas abertas em Brasília. O que você espera conseguir a partir dessas articulações na capital federal?

Carlos Lula – Sem dúvidas, os quase sete anos na gestão da Saúde e os dois na presidência do Conselho Nacional de Secretários de Estado da Saúde, o Conass, abriram muitas portas para o Maranhão. Eu tenho um diálogo muito próximo com o Ministério da Saúde, principalmente nas áreas que lidam diretamente com políticas para os municípios. Recentemente, eu pude levar prefeitos para uma reunião no Ministério, a fim de apresentar as demandas das cidades na área da saúde. Nas próximas semanas, as cidades receberão representantes do Ministério para ver as necessidades e receber investimentos. No mês de março, eu estive no Ministério da Educação para falar sobre as obras paralisadas das creches e da necessidade de envio de mais recursos porque o cálculo do valor da obra já está defasado. Este é o canal que precisamos, essa interlocução com quem não apenas ouça, mas traga respostas, recursos, soluções às demandas dos maranhenses lá na ponta.

Jornal Pequeno – O deputado acredita que houve uma melhora no diálogo entre o Maranhão e o Governo Federal, a partir do retorno do presidente Lula?

Carlos Lula – Sem dúvidas. O governo Lula é conhecido por essa proximidade com as demandas da população e quem leva essa demanda a Brasília são os prefeitos, governadores, deputados. O tratamento é outro, absolutamente. O pacto federativo está sendo reconstruído. Agora, estamos aqui escrevendo uma nova história, com o protagonismo também do nosso ex-governador Flávio Dino, numa missão difícil, mas que tem sido bem-sucedida. É o momento de aproveitarmos essa abertura para conseguir recursos para projetos da saúde, educação, segurança. Levar políticas públicas para alcançar quem mais precisa.

Jornal Pequeno – Falam de um distanciamento na relação entre Flávio Dino e Carlos Brandão. O que há de verdade nessa história? O PSB se prepara para um possível racha no grupo??

Carlos Lula – Há muita especulação em torno disso. Um casamento não é feito apenas de lua de mel, mas o ministro Flávio Dino e o governador Carlos Brandão possuem maturidade política para discutir o futuro do grupo. O PSB quer manter sua força no executivo e no legislativo, bem como ampliar o número de candidatos eleitos em 2024. Este é o tema central das nossas reuniões e essa é a articulação que vem sendo feita. A união dos dois está mantida, e é essa união que permitirá ao Maranhão avançar ainda mais. Não podemos cometer o grave erro de dispersarmos nossas forças. O Maranhão gastou muitos anos nas últimas décadas com guerras e intrigas, é hora de unir forças para fazer o nosso estado avançar.

Jornal Pequeno – Com relação ao próximo pleito municipal, o deputado será candidato à prefeitura de São Luís?

Carlos Lula – Eu sou pré-candidato à prefeitura de São Luís e espero o apoio do grupo Carlos Brandão e Flávio Dino. Muitos outros nomes estão surgindo como pré-candidatos à disputa e isso é bom para a cidade. Este é o momento onde devemos discutir os problemas da capital e conhecer a variedade de propostas, mesmo sabendo que o processo eleitoral ainda está distante. Não tenho como não me colocar pré-candidato conhecendo o sofrimento da população diante da precariedade de políticas públicas na saúde, na educação, no transporte, no saneamento básico – quase inexistente. Mais do que apontar problemas, estou a ouvir a sociedade e a apresentar soluções.

Jornal Pequeno – Qual o balanço o deputado faz dos 90 primeiros dias de mandato?

Carlos Lula – Nós estamos cumprindo a promessa de entrar no parlamento para defender as bandeiras da saúde, educação e primeira infância. Apresentamos mais de 20 Projetos de Lei e o PL que institui o dia estadual em Memória às Vítimas da Covid-19 já é lei. Mas o nosso mandato também está atento às reivindicações do dia a dia da população, não fazemos um mandato conversando com as quatro paredes do gabinete. Fizemos indicações para recuperação de escolas, estradas e vistoria no Hospital da Criança. Acompanhamos de perto o conflito de terra em São Benedito do Rio Preto, a crise do transporte em São Luís. O gabinete não para, estamos ouvindo pessoas na rua, nas comunidades e recebendo as demandas nas redes sociais. Antes, eu estava em uma missão de cuidar de pacientes, agora a missão é cuidar das pessoas do Maranhão. É um enorme desafio que estamos dispostos a batalhar todos os dias.

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