Entenda por que a ozonioterapia é polêmica

Método promete tratar inflamações, infecções, dificuldade de cicatrização e outros, mas Anvisa não reconhece a eficácia

Fonte: Pedro Jordão

A ozonioterapia é um procedimento terapêutico que consiste na aplicação da mistura dos gases oxigênio e ozônio em pacientes.
O objetivo é tratar de inflamações a infecções.

Apesar das promessas, o método é criticado por falta de evidências científicas de sua eficácia.

“O ozônio é um gás com forte poder oxidante e bactericida. Devido a estas características, é utilizado para fins odontológicos e estéticos, não havendo, até o momento, nenhuma evidência científica significativa de que haja outras aplicações médicas para a utilização de tal substância nas modalidades de ozonioterapia aplicada em pacientes”, diz a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

Assim, a agência autoriza o uso do ozônio apenas nas seguintes modalidades:

Dentística: tratamento da cárie dental – ação antimicrobiana;
Periodontia: prevenção e tratamento dos quadros inflamatórios/infecciosos;
Endodontia: potencialização da fase de sanificação do sistema de canais radiculares;
Cirurgia odontológica: auxílio no processo de reparação tecidual;
Estética: auxílio à limpeza e assepsia de pele.

A nota da Anvisa data de junho de 2022. Apesar disso, conselhos federais de algumas profissões, como farmácia, fisioterapia, enfermagem e biomedicina já regulamentavam a prática anteriormente para seus profissionais internamente.

Na segunda-feira (7), o presidente Lula (PT) sancionou, a lei que autoriza a realização ozonioterapia em todo o território nacional, tornando a regra mais abrangente que anteriormente, quando dependia das normas de cada categoria.

No entanto, isso não permite que a prática seja aplicada em outras modalidades no Brasil, até que a Anvisa faça uma nova regulamentação

“Infinitas aplicações”

“O ozônio dá aquilo que as células precisam para se reproduzir”, explica Wanessa Ribeiro, especialista em ozonioterapia e sócia-fundadora do Instituto CER Saúde Integrativa. Segundo ela, o método seria capaz até de evitar amputações de membros de diabéticos, ao ajudar a avançar na cicatrização, por um baixo custo.

“Além de estar presente na camada da estratosfera, que nos protege, o ozônio é um gás com infinitas aplicações e que pode ser benéfico para o corpo humano”, complementa. “O ozônio possui propriedades anti-inflamatórias, antissépticas e para modulação do estresse oxidativo. Além disso, melhora a circulação periférica e oxigenação”.

Para a especialista, as críticas à ozonioterapia ocorrem por questões de mercado. “É mais uma terapia. É vista como concorrência. Mas não deve ser encarada assim porque é uma terapia de caráter complementar, que vem para potencializar os resultados de outras, como acupuntura e homeopatia”.

Diante das críticas, ela ainda afirma que “o que difere medicamento de veneno é a dose”. “Há casos de pacientes que tiveram problemas renais graves porque tomaram paracetamol demais. Para a ozonioterapia é preciso, como em outras terapias, buscar profissionais habilitados para sua aplicação com segurança”, completa Wanessa.

Sem reconhecimento

Apesar da defesa da especialista e de haver regulamentação por diversos conselhos, a medicina continua como principal área da saúde a não reconhecer a técnica.

O Conselho Federal de Medicina (CFM), por exemplo, já se posicionou afirmando que a ozonioterapia não é reconhecida para o tratamento de nenhuma doença.

“Trata-se de procedimento ainda em caráter experimental, cuja aplicação clínica não está liberada, devendo ocorrer apenas no ambiente de estudos científicos, conforme critérios definidos pelo Sistema CEP/CONEP”, disse a entidade.

O mesmo ocorreu com a Associação Médica Brasileira (AMB), que se posicionou, em 2021, contra a lei sancionada por Lula hoje.

“Não há na história da medicina registro de droga ou procedimento contra um número tão amplo de doenças, que incluem, entre outros: todos os tipos de diarreia; artrites; hepatites; hérnias de disco; doenças de origem infecciosa, inflamatória e isquêmica; autismo; e sequelas de câncer e de Acidente Vascular Cerebral (AVC)”, disse.

A Academia Nacional de Medicina (ANM) foi mais uma a se somar à contrariedade, se posicionando quando a lei foi aprovada no Senado. Para a ANM, não há conhecimento de trabalhos científicos que comprovem a eficácia da técnica e a prática pode trazer riscos à saúde.

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