Banco Central afirma que o Drex está praticamente pronto

A fase piloto, cujo propósito era investigar as soluções de privacidade na infraestrutura já construída da moeda, será finalizada em maio

Fonte: Com Valor Econômico

O Drex, o real digital que será emitido pelo Banco Central (BC), já está praticamente pronto do ponto de vista tecnológico para ser testado pela população, mas isso ainda levará alguns meses por questões jurídicas. O economista Fabio Araujo, coordenador do projeto do real digital no BC, afirmou que a autoridade monetária está trabalhando para cumprir a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) e o sigilo bancário. Ele participou de forma virtual de um evento na sede da Microsoft, em São Paulo, nessa segunda-feira (26).

A fase piloto, cujo propósito era investigar as soluções de privacidade na infraestrutura já construída da moeda, será finalizada em maio, mas não deve progredir com protocolos definitivos. “Avançamos em velocidade fantástica na parte de soluções, mas provavelmente não vamos conseguir atingir todos os requisitos regulatórios até o meio do ano”, disse.

A ideia é seguir construindo soluções de privacidade e protocolos de governança ao longo do segundo semestre, com a inclusão de ativos na plataforma, para ter um conjunto de serviços para oferecer em teste para a população. “Vamos continuar os testes de privacidade e tentar amadurecer algum outro aspecto do projeto, de outros casos de uso e outros participantes. Vai depender da burocracia e a forma que a gente deve encerrar a primeira fase do piloto”, reiterou o economista.

Ao lado de Araujo estava o diretor da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) Daniel Maeda, que destacou o potencial de impacto do projeto para o mercado de capitais, ao considerar a complexidade do funcionamento das transações envolvendo valores mobiliários e como a moeda digital pode simplificar as transações.

“O investidor hoje tem que viver essa experiência entrando no on-chain e no off-chain, e muitas vezes é um desafio pela estabilidade de preço, seja pelos algoritmos de lastros ainda complicados para que as stablecoins consigam manter a paridade de um para um, seja pelo custo de transação para o investidor”, afirmou. “Acho que o Drex agrega um apelo diferente, traz a estruturação de valores mobiliários para dentro do ecossistema cripto e leva a um patamar de possibilidades e de ganhos que nos interessa bastante.”

A eficiência que o Drex pode trazer ao mercado de capitais também foi ressaltada pelo head de tesouraria do Banco Safra, Carlos Ratto, que participou do painel sobre os aprendizados na implementação do real digital.

Ele disse que a digitalização de uma forma geral do sistema financeiro pode diminuir custos, tanto de emissão das empresas quanto para o próprio investidor.

Segundo ele, caso existisse a redução de custos e simplificação das transações, o número de empresas de sociedade anônima na bolsa seria muito maior. “O Drex pode melhorar a eficiência de liquidação, consequentemente diminuir o risco do mercado financeiro do tempo que existe entre fazer uma transação e ela se confirmar. Reduz esse risco no momento que junta as transferências do ativo com a liquidação no mesmo instante”, afirma. Mesmo com desafios pela frente, o executivo acredita que as soluções são viáveis.

Além de médias empresas, o Drex também pode contribuir para inclusão social, de acordo com gerente nacional de serviços financeiros da Caixa, Evandro Avellar. A possibilidade de “tokenizar” garantias, por exemplo, pode trazer oportunidades para pequenos empresários terem maior liquidez e mais acesso a empréstimos e financiamentos, especialmente no pagamento off-line. As pessoas físicas sem acesso a internet ou com poucos recursos também podem ser beneficiadas, avalia.

“Com o Pix a gente teve a digitalização da moeda e uma parte da população não bancarizada foi impactada por não ter mais dinheiro circulando na economia. Então, quando a gente pensa em ‘Drex off-line’, a gente está atendendo esse público e trazendo inclusão social para os desbancarizados, mesmo que eles não abram conta por falta de documentação ou outro motivo”, argumenta.

A ideia da Caixa é atender cerca de 4% dos beneficiários do Bolsa Família que tenham dificuldades de acesso a internet e smartphone com o recurso. “Nós escolhemos uma situação que é bem peculiar na Amazônia, que são os ribeirinhos. A ideia é, junto com a empresa parceira, fazer a transferência do real ‘tokenizado’ do Bolsa Família para um cartão com uma carteira off-line, e esse cartão ser usado na cidade de forma off-line. Então, o próprio pequeno comerciante também pode receber essa moeda e podemos fomentar a economia local.”

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