Seminário alerta para o grande índice de homicídios tendo adolescentes como vítimas

Ministério Público do Estado do Maranhão está preocupado com as mortes violentas nesta fase da vida.

Fonte: Luciene Vieira

Numa noite de inverno, Sheila Rodrigues chorou a morte da sua filha de apenas 18 anos, vítima de um assalto. Foi em 10 de julho na MA-201, também conhecida como “Estrada de Ribamar”, situada na Região Metropolitana de São Luís. Apenas um dos dois suspeitos está preso, segundo Sheila Rodrigues, que a convite da imprensa esteve ontem (7) na abertura do seminário sobre mortes violentas de adolescentes e jovens na Grande Ilha.

O seminário acontece até hoje (8), no Centro Cultural e Administrativo do Ministério Público, localizado na Rua Oswaldo Cruz, região central da capital maranhense. A morte de Mikaelly Ashlley Rodrigues foi totalmente uma surpresa. Ela estava numa van durante um assalto que ocorria no interior do veículo. A jovem, de apenas 18 anos, voltava para sua residência localizada na Vila Sarney Filho, na região do Conjunto Maiobão, em Paço do Lumiar, quando dois suspeitos que se passavam por passageiros anunciaram o assalto.

Sheila Rodrigues contou que a sua filha estava prestes a descer, e já na parada em que desceria, Mikaelly jogou o seu celular pela porta da van, na tentativa de que os assaltantes não ficassem com o aparelho. Ocorre que este ato de Mikaelly teria sido visto pelos suspeitos. “Puxaram a bolsa da minha filha. Chutaram a coxa dela. E disseram: ‘tu quer ficar com o teu celular, vagabunda?’. E, dizendo isto, eles empurraram minha filha para fora van. Mikaelly caiu de costa. Ela bateu a cabeça no asfalto e sofreu um traumatismo craniano. Devido à gravidade, Mikaelly morreu ainda no local”, contou Sheila Rodrigues, ao expressar sua dor de ter tido sua única filha assassinada.

“Minha vida acabou quando Mikaelly parou de respirar. Éramos apenas nós duas, morávamos na mesma casa”, disse a mãe da vítima. Sheila Rodrigues informou que já fez três manifestos em relação à morte de sua filha.

Os dois primeiros foram na Estrada de Ribamar, nas datas de 10 de agosto e 10 de setembro. O terceiro e mais recente manifesto ocorreu em frente ao Palácio dos Leões, no dia 30 de outubro, data em que Mikaelly faria aniversário. “Sempre me manifestarei. Quero justiça, quero os que fizeram isto com a minha filha punidos”, disse Sheila Rodrigues.

Ontem o delegado Felipe César, da Superintendência de Homicídios e Proteção à Pessoa (SHPP), informou ao Jornal Pequeno que as investigações sobre este caso foram concluídas, e que um dos assaltantes da van está preso, porém o segundo suspeito está foragido. No site da Secretaria de Segurança Pública (SSP) há a informação da prisão de Sebastião dos Santos Paixão, popularmente conhecido como “Sebá”. Conforme as informações da SSP, ele foi preso no dia 4 de setembro, na Vila Cafeteira, no município de Paço Lumiar.

Sebastião dos Santos Paixão foi autuado por latrocínio, que significa roubo seguido de morte. Mikaelly ilustra uma tenebrosa estatística nacional. No Brasil, adolescentes e jovens são as maiores vítimas de homicídio.

O Índice de Homicídios na Adolescência (IHA), divulgado em outubro de 2017, e que estima o risco de adolescentes com idade de 12 a 18 anos perderem a vida por causa da violência, chegou a um prognóstico alarmante: avaliando 300 municípios brasileiros com mais de cem mil habitantes, concluiu que, entre 2015 e 2021, o número de adolescentes assassinados nessa faixa etária vai ultrapassar a marca de 43 mil se não mudarem as condições que deflagram a violência nessas cidades.

Mais do que uma estatística, o IHA é um alerta. Na prática, o estudo mostra que mais de 43 mil adolescentes que em 2015 tinham 12 anos não completarão 19. Isso significa que, para cada mil adolescentes que completam 12anos, 3,65 morrem vítimas de homicídio antes de chegar aos 19, ou seja, ao longo do ciclo vital da adolescência.

De acordo com o IHA, o Nordeste apresenta um panorama assustador de crescimento quase constante do Índice de Homicídios na Adolescência, no período de 2005 (quando o IHA passou a existir) a 2014.Há cinco anos, das cinco capitais com maior IHA, quatro pertenciam à Região Nordeste.A única exceção foi Vitória, que ocupa a terceira posição e pertence à Região Sudeste. São Luís apresentou a posição sete, com o índice de 6,68% de homicídios para cada mil adolescentes.

O seminário sobre mortes violentas de adolescentes está na sua 3ª edição. Ele é promovido pelo Ministério Público do Maranhão, em parceria com as secretarias municipais da Criança e Assistência Social (Semcas), Educação (Semed), Saúde (Semus), Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente (CMDCA), Instituto Maranhense de Estudos Socioeconômicos e Cartográficos (Imesc) e Unicef. O objetivo do evento é identificar e compartilhar conhecimentos e metodologias para o enfrentamento de mortes violentas de adolescentes e jovens.

O conteúdo debatido deve oportunizar o desenvolvimento de programas e políticas públicas de enfrentamento e redução de homicídios. “Este seminário é pela vida dos nossos adolescentes e jovens, pela dignidade e cumprimento da nossa Constituição Brasileira, onde crianças e jovens são prioridade absoluta”, declarou o procurador geral de Justiça do Maranhão Luiz Gonzaga Martins Coelho, que chefe do Ministério Público.

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