Na BR-135, buracos se multiplicam em trecho entre Miranda do Norte e Alto Alegre do Maranhão

Percorrendo a rodovia federal entre as duas cidades, o único serviço de manutenção visto pelo JP era feito por populares.

Fonte: Luciene Vieira

Não se iluda com a natureza exuberante que abraça o trecho da BR-135, entre as cidades de Miranda do Norte e Alto Alegre do Maranhão. A rodovia, que começou a ser pavimentada na década de 70, no governo de José Sarney, tem “corpinho” secular. A estrada parece ter voltado aos tempos do imperador Dom Pedro I. No século 17, as viagens de carruagem levavam dias e eram fatigantes. Uma aventura que parece não ser muito diferente nos tempos atuais. Para os usuários, a BR-135 está esburacada, malconservada, e com sinalização precária. Não há, sequer, acostamento.

Buracos na BR-135, entre as cidades de Miranda do Norte e Alto Alegre do Maranhão, põem em risco a vida dos motoristas que são obrigados a trafegar pelo trecho (Foto: Gilson Ferreira)

A viagem pode durar horas a mais do seu tempo normal, se o motorista topar com acidentes. De acordo com a Polícia Rodoviária Federal (PRF), em 2019, ocorreram 25 acidentes na BR-135, no trecho entre Miranda do Norte e o povoado Caxuxa, em Alto Alegre do Maranhão. Do total de acidentes, 13 foram graves, e em quatro deles houve mortes.

“É vergonhoso. Há muito tempo estamos percebendo que as condições da estrada só pioram. Venho uma vez por mês, mas fico imaginando quem tem que passar por esta BR todo dia. Já perdi um pneu, ao passar por um buraco, neste trecho da rodovia. É muito indigno. Isso não é respeitoso”, afirmou a terapeuta Maria Klamas, que seguia de Matões do Norte a São Mateus.

Na manhã de sexta-feira passada, dia 17, sob um calor escaldante no trecho da BR-135, no povoado Alto da Cruz, em Matões do Norte, Welison Leitão retirava piçarra, com o auxilio de uma pá, da vegetação que fica ao lado da pista. Ele entupia os buracos na estrada, com o material recolhido. Welison, na companhia de Cleiton de Sousa Gomes, um garoto de 13 anos, disse que costumam fazer este serviço todas as manhãs, na expectativa de ganhar alguns trocados de motoristas, que estejam passando pelo local. “Estou desempregado, então, qualquer R$ 1 ou R$ 2, que os motoristas nos dão, ao nos ver tapando os buracos, já é uma ajuda”, contou Welison.

Alguns moradores vizinhos às rodovias tapam os buracos, visando ganhar trocados dos motoristas beneficiados pelo improvisado serviço de manutenção (Foto: Gilson Ferreira)

“Como eu estou de férias da escola, vim ajudar Welison, e tentar ganhar algo”, disse Cleiton. A poucos quilômetros da dupla, a equipe de reportagem do Jornal Pequeno encontrou outra: José Wilson Machado Morais e Raimundo Filho. Eles faziam o mesmo. Retiravam piçarra das laterais da rodovia, e com este material tapavam buracos. “A situação está crítica há meses. Os carros passam por este trecho quase parando”, disse José Wilson. “Preferiríamos estar empregados, mas a única coisa positiva que eu me atrevo a falar sobre os buracos nesta estrada, é que por causa deles a gente consegue algum dinheiro de motoristas, os tapando. Imagina só, estamos fazendo da forma mais simples possível, aquilo que é de obrigação do governo federal”, completou Raimundo Filho.

PESQUISA APONTA QUE ESTRADAS ESTÃO PÉSSIMAS

O trecho da BR-135 entre Miranda do Norte e Alto Alegre do Maranhão começa no Km 125 e termina Km 200. Neste espaço, há ainda as cidades de Matões do Norte e São Mateus. E neste pedaço de estrada, os buracos e o asfalto são o reflexo de uma situação que beira a calamidade não só ali, mas em grande parte das estradas federais que passam por terras maranhenses.

De acordo com a pesquisa da Confederação Nacional de Transporte (CNT) de 2019, no Maranhão, 21,2% das BRs estão em péssimo estado, e 15% em estado ruim. Enquanto percorria esta estrada, a equipe de reportagem do JP não encontrou um único serviço de manutenção do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit). Mas se deparou com uma infinidade de buracos, ondulações no asfalto, remendos, sinalização apagada e placas encobertas pelo mato.

Esta negligência põe vidas em risco e aparece evidenciada na Pesquisa CNT de Rodovias 2019. No levantamento da Confederação Nacional do Transporte, que leva em conta a pavimentação, a sinalização e a geometria das vias, no Maranhão, foram estudados 4.633 quilômetros, sendo que 694 quilômetros estão ruim, e 984, péssimos.

Em relação a pavimentação, em 10,6% (490 quilômetros) ela está péssima, e 13,3% (618 quilômetros) ruim. No povoado Boca do Cercado, em Matões do Norte, os buracos estão enfileirados, próximo a uma escola. Em Miranda do Norte, dentro da sede da cidade, há verdadeiras crateras. O cenário se repete no centro urbano de São Mateus.

OUTRO LADO

O Jornal Pequeno procurou o Dnit para solicitar um posicionamento sobre os buracos na BR-135. Em resposta, o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes disse que “o problema em questão está na base, na sub-base e, em alguns pontos, até no subleito da rodovia”.

O órgão informou que tem pleno conhecimento dos problemas apontados, e afirmou que está em andamento o processo de contratação do projeto de restauração de todo o segmento crítico (de Miranda do Norte ao povoado Caxuxa, em Alto Alegre do Maranhão), com a previsão da execução da obra para ser iniciada no final deste ano, ou início de 2021.

Para o momento, segundo o Dnit, nova licitação foi lançada na praça na última sexta-feira (17), para contratação de empresa de manutenção que vai garantir a trafegabilidade do trecho até a conclusão do novo projeto de restauração. “Ressaltamos que a última intervenção de restauração desse segmento ocorreu entre os anos de 2002 e 2007, e que em novembro de 2017 foi iniciado um projeto de Manutenção e Restauração (Crema); porém, problemas estruturais não previstos ensejarão a rescisão do atual contrato e realização desse novo projeto de restauração”, informou o Dnit.

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