Uma das primeiras ações do governo federal, após a promulgação, este mês, do Acordo de Salvaguardas Tecnológicas (AST) é a elaboração de um Plano de Negócios, que vai envolver vários ministérios e agências, o governo do Maranhão, a comunidade e autoridades de Alcântara e região da Baixada Ocidental Maranhense, onde está instalado o centro espacial que terá uso comercial para lançamento de foguetes e satélites pelos Estados Unidos (com proteção da sua tecnologia) e de outros países, como Israel.
Em entrevista exclusiva à reportagem do Jornal Pequeno, em Brasília, o presidente da Agência Espacial Brasileira (AEB), engenheiro Carlos Augusto Teixeira de Moura, esmiuçou detalhes dessa ação. “Esse Plano deverá abranger todas as questões técnicas, logísticas, legais, ambientais, só para citar algumas, de maneira que toda a região possa acolher e bem aproveitar as oportunidades que os empreendimentos espaciais irão acarretar”, destacou.
A AEB intensificará sua atuação em Alcântara, a partir desta semana, quando receberá a visita de uma comitiva de senadores e deputados federais, e ainda acompanhará visitas de campo de grupo de empresários que pretendem investir no Maranhão. Carlos Moura também fala as ações e serviços neste primeiro semestre de 2020 na base maranhense, e da possibilidade do Maranhão se transformar em um novo polo de desenvolvimento tecnológico, “com desdobramentos para a indústria, a educação, o turismo e toda uma gama de serviços do terceiro setor”.
Segue a entrevista.
JORNAL PEQUENO – Promulgado o Acordo de Salvaguardas Tecnológicas (AST) pelo presidente da República, o que a Agência Espacial Brasileira vai fazer agora?
CARLOS MOURA – Temos que estruturar as atividades da AEB como agência licenciadora das atividades espaciais e como interface primeira com os potenciais utilizadores do Espaçoporto de Alcântara, para que possamos ter um ambiente atrativo aos operadores de transporte espacial. Segurança e eficiência têm que ser nossa tônica. Em paralelo, coordenamos, com o Comando da Aeronáutica e outros entes de governo, a preparação dos sistemas técnicos e logísticos do centro espacial, assim como da região como um todo, de forma a que tenhamos condições de atrair e manter clientes e investidores para o empreendimento espacial em si, assim como para os serviços complementares.
JP – Como será elaborado este Plano de Negócios e como se dará na prática?
CM – Estamos, em coordenação com o MCTIC (Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações), elaborando a estrutura básica de um Plano de Desenvolvimento Integrado. Naturalmente, haverá que se recorrer à participação de alguns ministérios e agências diretamente envolvidos no aprimoramento da infraestrutura da região. Esse Plano deverá abranger todas as questões técnicas, logísticas, legais, ambientais, só para citar algumas, de maneira que toda a região possa acolher e bem aproveitar as oportunidades que os empreendimentos espaciais irão acarretar. Naturalmente, para cada possível operador espacial que deseje atuar em Alcântara, iremos discutir as necessidades técnicas e logísticas, assim como cronogramas e cadência de lançamentos. A partir dessas informações básicas, deverão ser elaborados planos de negócio específicos, a serem aprofundados vis-à-vis a capacidade de prestação de serviços de que dispomos.
JP – Quais são ações e serviços previstos para este primeiro semestre de 2020 na Base de Alcântara?
CM – O CLA (Centro de Lançamento de Alcântara) tem participado do levantamento de todas as capacidades disponíveis e desejáveis para que possa prover serviços em classe mundial. Esse diagnóstico dever ser concluído nesses próximos meses, permitindo-nos planejar as eventuais necessidades de complementação ou melhorias. A título de exemplo, está em curso o projeto das instalações complementares para que se disponha, na localidade, de um aeroporto (civil/militar), capaz de receber voos internacionais com cargas e passageiros. Esse investimento, com apoio da Secretaria de Aviação Civil, deve injetar, na região, cerca de setenta milhões de reais. São oportunidades de negócios e empregos, tanto na implantação, como na futura exploração das atividades da parte civil do Aeroporto de Alcântara.
JP – Há algum encontro ou debate programado com a comunidade local, autoridades e parlamentares do estado para este semestre?
CM – Certamente, assim que a estruturação para elaborar o Plano de Desenvolvimento Integrado estiver disponível, os entes envolvidos deverão atuar não somente junto ao executivo federal, mas com o Parlamento e as instâncias públicas do Maranhão e de Alcântara. Nos aspectos que envolvam a comunidade local, ela também será chamada a participar desse momento histórico e disruptivo para o desenvolvimento socioeconômico da região. Como temos apregoado, as atividades espaciais devem trazer não apenas progresso tecnológico, mas oportunidades e benefícios para todos.
JP – Tem algum lançamento ou teste no Centro Espacial de Alcântara agendado para 2020?
CM – O CLA deverá manter seu programa de manutenção continuada da operacionalidade. Deveremos, também, efetuar lançamento de veículo de sondagem, dentro do programa de ensaios em microgravidade.
Comitiva do Congresso Nacional visitará base de Alcântara na quarta-feira
Ao ser questionado pela nossa reportagem sobre a sua próxima viagem ao estado do Maranhão, Carlos Augusto revelou que a Agência Espacial Brasileira iniciará sua agenda de 2020 a partir deste mês, e acompanhando uma comitiva do Congresso Nacional à base maranhense.
“A AEB intensificará sua atuação em Alcântara, a começar da primeira visita de congressistas representantes da Frente Parlamentar Mista para o Programa Espacial Brasileiro, que deverá ser lançada em 19 de fevereiro próximo. Essa Frente está composta por cerca de duas dezenas de senadores e duas centenas de deputados, todos com elevado interesse em conferir, ao Brasil, um Programa de Estado à altura das necessidades de um país continental como o nosso”, acentuou.
“Deveremos, também, acompanhar as visitas de campo (“site survey”) que as empresas deverão empreender em Alcântara e São Luís, com vistas a bem aquilitar o nível de atendimento com que poderão contar quando vierem operar na região. Será um ano intenso de verificações, análise e planejamento rumo à decolagem de nosso Espaçoporto de Alcântara”, acrescentou Carlos Augusto.
“População alcantarense vem sonhando com o futuro de oportunidades para todos”, diz Carlos Moura
O presidente da AEB, Carlos Moura, também acredita na conciliação de desenvolvimento tecnológico, cultura e turismo em Alcântara. “A sociedade brasileira investiu muito no desenvolvimento de nossas capacidades tecnológicas relativas à exploração do espaço. Investiu, também, em Alcântara, colocando-a no mapa mundial do circuito científico e tecnológico”, explicou.
“Essa cidade, assim como o Maranhão, possuem uma riqueza histórica singular, que nos permite não apenas admirar e honrar nossa história, tradição e folclore, como nos valer de toda essa cultura maranhense para atrair e encantar os que visitam ou vêm trabalhar na região”, destacou Carlos Moura.
FUTURO
“Em particular, a população alcantarense vem sonhando com o futuro em que oportunidades surjam para todos. É chegada a hora de aproveitar esse cavalo selado: o mercado espacial necessita de sistemas de lançamento adequados às novas tendências (o chamado “new space”). Temos, sim, condições de nos inserirmos nesse contexto, semeando condições para o surgimento de um polo de desenvolvimento tecnológico, com desdobramentos para a indústria, a educação, o turismo e toda uma gama de serviços do terceiro setor”, aposta o presidente da AEB.
Carlos Moura disse que a AEB “conta com todas as entidades representativas da sociedade local, e com cada cidadão em particular, na busca de opções pragmáticas e viáveis para que o progresso venha para todos, para que a qualidade de vida seja um objetivo e uma realização concreta. Aqui tem espaço!”