Pesquisadores da Embrapa Cocais, Embrapa Amapá, Embrapa Amazônia Oriental e Embrapa Meio Norte se reuniram este mês de fevereiro em dois momentos (seminário técnico e dia de campo) para difundir as tecnologias de manejo e recuperação de açaizais nativos em municípios do noroeste do Maranhão, região responsável pela maior parte da produção de açaí do estado. O seminário foi realizado em Carutapera-MA e tratou do potencial do açaí na região do Gurupi-MA; o dia de campo mostrou o manejo de açaizais nativos e ocorreu em Amapá do Maranhão – MA, na Unidade de Referência Tecnológica – URT da Embrapa instalada na propriedade do agricultor Lauro Miranda de Paiva.
O seminário reuniu 186 participantes e contou com a presença do secretário de Estado da Agricultura Familiar-SAF, secretários municipais de agricultura dos seis municípios da região – Amapá do Maranhão, Carutapera, Cândido Mendes, Godofredo Viana, Boa Vista do Gurupi e Luís Domingues -, agricultores do estado do Pará, além de autoridades locais. Do dia de campo, participaram mais de 100 pessoas, com a presença da prefeita de Amapá do Maranhão, Tatiana Maia, e dos secretários municipais de agricultura dos seis municípios da região, agricultores do estado e autoridades locais.
A prefeita de Amapá do Maranhão disse estar muito satisfeita com o projeto, que está fortalecendo a cultura do açaí nativo na região. “A prefeitura vai dar todo o apoio necessário para que os produtores possam usufruir esses conhecimentos tecnológicos e para manter a atividade”. O agricultor Lauro Miranda de Paiva, dono da propriedade onde foi realizado o dia de campo, enfatizou a mudança já percebida nos açaizais. “O projeto começou ano passado e todos já veem a diferença e a minha alegria pelos resultados. Acredito nesse projeto e sei que colherei bons frutos”.
Ao final do seminário, foi assinado Acordo de Cooperação Técnica – ACT entre a Embrapa Cocais e a SAF, respectivamente pela Chefe-Geral da Embrapa Cocais, Maria de Lourdes Mendonça Santos, e o secretário de Estado da Agricultura Familiar, Júlio César Mendonça Corrêa, no âmbito do Programa da Cadeia Agroextrativista da Juçara/Açaí. Na ocasião, houve também entrega simbólica de mudas de açaí, banana e cupuaçu a beneficiários do programa.
Para Maria de Lourdes, a iniciativa é de extrema importância para a cadeia produtiva do açaí, que vem perdendo espaço no estado, e representa a valorização da floresta em pé e do extrativismo sustentável, aproveitando a riqueza da região e agregando valor aos produtos da biodiversidade, preservando-a e ainda, contribuindo para a segurança alimentar e geração de renda. “O mercado abre cada vez mais espaço para produtos que contribuam para a saúde e a qualidade de vida dos consumidores, com respeito à biodiversidade e às comunidades que tiram dali sua subsistência e geram renda a partir dos recursos naturais. É a chamada economia verde. E em todos esses quesitos, o açaí tem potencial imenso de crescimento, tanto nacional como internacionalmente”.
O secretário da SAF, Júlio Mendonça, enfatizou que o ACT formaliza ações que já vinham sendo realizadas pelos atores, como as pesquisas e inserção de novas variedades (Embrapa), fomento e estruturação da cadeia do extrativismo (SAF) e extensão rural (Agerp). “A parceria inclui as prefeituras e os movimentos locais, somando esforços para o desenvolvimento econômico do Maranhão”.
Para a presidente da Agência Estadual de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural do Maranhão – Agerp, Loroana Coutinho de Santana, a iniciativa é bastante relevante para a cultura do açaí na região e para quem dela vive, como produtores e as comunidades extrativistas. “Agradecemos o empenho de todos os envolvidos, em especial aos pesquisadores da Embrapa que mobilizados na difusão dos conhecimentos e tecnologias”.
O problema e a solução – O Maranhão é o terceiro estado maior produtor de açaí no País, perdendo somente para o Pará e o Amazonas. A região noroeste do estado, no passado, possuía produção cerca de dez vezes maior que a atual. Por falta de manejo adequado e de outros usos da terra, a produção vem declinando e perdendo espaço, ano a ano. A Unidade de Referência Tecnológica – URT, instalada há um ano pela Embrapa Cocais e parceiros com recursos do Fundo Amazônia na região tradicional em produção de açaí, ocupa área de 7,5 hectares onde, há 10 anos, produzia-se cerca 1500 latas de açaí. Antes da aplicação do manejo tecnológico, a produção estava para menos de 200 latas do fruto. A previsão é de que, em cinco anos a produção ultrapasse a produção original.
“Estamos juntos, especialistas em açaí da Embrapa, investindo em conhecimento e tecnologia para retomar a produção do açaí na região. Na URT, são aplicadas tecnologias simples, como o desbaste dentro das touceiras, assim como eliminação de espécies sem valor econômico”, declarou o pesquisador da Embrapa Cocais José Mário Frazão, responsável pela coordenação dos eventos.
Também participaram dos dois eventos, os pesquisadores José Antonio Leite de Queiroz, Silas Mochiutti, Ana Euler e José Tomé de Farias Neto, reconhecidos nacionalmente pela excelência de seus conhecimentos no cultivo e manejo de açaí, bem como no melhoramento e lançamento de novas cultivares de açaí. Clique aqui para assistir matéria e cobertura dos eventos divulgada pela Mirante e confira as entrevistas dos pesquisadores da Embrapa.
Manejo de açaizais nativos – Busca equilibrar a população de açaizeiros que ocorrem naturalmente na floresta de várzea, garantido mais alimento e renda às famílias ribeirinhas. Com essa técnica que não exige investimento em infraestrutura, a produtividade do açaizeiro pode dobrar de 4,2 t/ha para 8,4 t/ha de frutos. Ela baseia-se na limpeza e manutenção de numero restrito de plantas de açaí por touceira e na eliminação de outras plantas de espécies arbustivas e arbóreas de baixo valor comercial existentes na área, cujos espaços livres são ocupados por plantas de açaizeiros oriundas de sementes que germinam espontaneamente, de mudas preparadas ou transplantadas das proximidades e por outras espécies de valor econômico, como fruteiras e florestais. O segredo está na relação e no equilíbrio entre as plantas de açaí e outras espécies na mesma área, de maneira a permitir uma maior entrada de luz e acesso a alimento, para o desenvolvimento saudável e mais produtivos das plantas de açaí.
Nova Cultivar – Durante o seminário, foi apresentada a nova cultivar de açaí de terra firme da Embrapa, a BRS Pai D´Égua. Segundo os especialistas, o cultivo de açaí em terra firme com irrigação tem se mostrado mais atraente, pois permite que a maior parte das atividades sejam mecanizadas, inclusive a colheita, além de propiciar a obtenção de produtividades bem mais elevadas que a dos açaizais nativos manejados. Outra vantagem verificada no cultivo de açaí em terra firme com irrigação, é a eliminação ou redução da sazonalidade da produção de frutos, obtendo-se produção o ano inteiro.
O potencial de mercado do açaí cresceu de maneira significativa nos últimos anos. O fruto deixou de possuir uma dimensão regional para ganhar importância nacional e, mais recentemente, internacional. O crescimento do mercado do açaí está associado aos benefícios à saúde que a ciência vem atribuindo à ingestão desse alimento, que apresenta em suas propriedades, vitaminas do complexo B, C, além de sais minerais, ferro, cálcio,potássio e fibras.
Fundo Amazônia – Embrapa participa com o “Projeto Integrado para a Produção e Manejo Sustentável do Bioma Amazônia”, financiado pelo Fundo Amazônia e operacionalizado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). O projeto busca promover a produção e a disseminação de conhecimentos e tecnologias voltadas para a recuperação, conservação e uso sustentável da Amazônia, por meio de apoio a projetos e ações de pesquisa, desenvolvimento, transferência de tecnologia, intercâmbio de conhecimentos e comunicação rural. Trata-se de um projeto de grande escala, que requer esforços sincronizados e orquestração precisa de nove dos quarenta e dois centros de pesquisa da Embrapa em todo o Brasil, que atuam diretamente na região, além de parcerias institucionais de âmbito local e nacional. Ao todo são dezenove projetos, que compõem quatro arranjos maiores (grupos de projetos afins), cada um composto por projetos de abrangência regional, estadual ou local, selecionados através de chamadas internas e executados por centros de pesquisa que atuam naquele bioma: Monitoramento do Desmatamento e da Degradação Florestal e Serviços Ecossistêmicos; Manejo Florestal e Extrativismo; Tecnologias Sustentáveis para a Amazônia; e Aquicultura e Pesca.
A Embrapa Cocais atua no Arranjo 2 – “Restauração, manejo florestal e extrativismo”, cujas prioridades são: desenvolvimento e transferência de tecnologias de manejo florestal, com ênfase no manejo florestal comunitário e na agricultura familiar; avaliação e monitoramento do manejo de espécies madeireiras nativas da Amazônia; desenvolvimento e transferência de tecnologias para restauração florestal, incluindo manejo, produção e armazenamento de sementes e mudas e sistemas silviculturais para o bioma Amazônia; desenvolvimento e transferência de tecnologias de coleta, armazenamento, beneficiamento e agregação de valor de produtos da sociobiodiversidade; transferência de tecnologias e treinamento em boas práticas para a produção de produtos florestais não-madeireiros; e regularização ambiental e recuperação de Área de Preservação Permanente e Área de Reserva Legal.