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Para homenagear o Dia da Mulher, artista expõe quadros de nudez feminina

A mostra “Mother” ficará exposta até o dia 16 de março, no Centro Cultural do Ministério Público

Fonte: Luciene Vieira

Imagem de nudez é uma constante nas obras do jovem pintor e fotógrafo maranhense Marcelo Cunha, de 32 anos. A mostra “Mother”, que ficará exposta até o dia 16 de março, no Centro Cultural do Ministério Público, localizado na Rua Oswaldo Cruz, Centro, evidencia que, em termos simbólicos e poéticos, a nudez parece ser também a chave para se entender o processo criativo do artista. Todo frequentador do local pode ver a obra de Marcelo.

Nos quadros, a mulher jovem nua que segura o bebê dela é uma amiga (Letícia) do pintor. A representação profissional da nudez feita por ele não é carregada de sensualidade, porém uma homenagem delicada ao seu público feminino, em alusão ao Dia Internacional da Mulher, cuja data é oficialmente comemorada neste domingo (8).

Marcelo contou que o seu ensaio principal é o de pintura corporal, cujos trabalhos podem ser visualizados na rede social (Instagram) dele. O pintor tem um estúdio na região da Lagoa da Jansen. Seu público é formado 80% por mulheres, entre 19 a 33 anos. E ele já pintou cerca de 40 mulheres desde a década de 2000.

“É muito importante que nós possamos nos sensibilizar com essa relação mãe e filha. É possível perceber nestas imagens uma narrativa, onde existe um aspecto divino entre elas duas. É algo que não pode ser deixado de lado, principalmente na semana do Dia Internacional da Mulher. No contexto social, Mother traz a mensagem da dificuldade de uma mãe jovem, pelo semblante que a mulher pintada carrega, além de suas expressões corporais”, declarou o pintor e fotógrafo.

Marcelo é graduado em Belas Artes, pela Universidade de Fortaleza (Unifor). Suas experiências hoje são um desvendamento lógico de tudo que começou há dez anos. Ele contou que a nudez é uma característica do seu trabalho. E que a ideia de retratar as mulheres desta forma permite que o aspecto mais natural sobre o ponto de vista delas próprias seja explorado. “Meu trabalho traz um aspecto de transformação individual”, frisou, e continuou: “Eu consigo me utilizar da minha arte para fazer um tratamento psicológico com a pessoa, de forma sutil, suave, não é como alguém estivesse diante de um terapeuta. O lance é que eu traga as sensações reais das modelos, para que elas consigam transformar isto em expressões na tela, ou na fotografia”.

PROCESSO RITUALÍSTICO

Em outras palavras, o artista informou que o processo de pintar e fotografar é ritualista. Parece que o maior ganho deste olhar sobre a nudez é conseguir identificar que o artista sabia que precisava construir uma estrutura profissional na arte para, paradoxalmente, fundamentar a desestruturação.

Marcelo parece ter criado um método para enraizar uma série de rupturas que o processo do seu trabalho, talvez, involuntariamente, possa propor. “O grande lance é a gente focar no aspecto transformador. O foco é a pessoa dizer que quer se transformar ou contar ‘estou passando por um processo difícil e quero trabalhar isto de uma maneira artística’”, informou Marcelo, que também tem formação em psicologia.

Marcelo contou que se utiliza da psicologia junguiana para realizar sua “arteterapia”. A técnica, segundo Marcelo, procura, por meio de diversas atividades artísticas e modalidades expressivas, desenvolver e instigar a mente. Sendo assim, seus modelos – a maioria mulher – podem conseguir superar traumas e a falta de confiança. “As pessoas encerravam os ensaios dizendo que se sentiram diferente, leves, como se tivessem descoberto nelas próprias, algo que elas acreditavam que não existia. Fui, então, percebendo por meio destes discursos que havia uma transformação no ato de pintá-las”, disse Marcelo.

O artista utiliza tinta guache acrílico nos ensaios para pintar o corpo nu do modelo. Marcelo disse que levou tempo para aperfeiçoar suas pinturas humanas abstratas. Ele contou que o experimento foi feito com uma de suas ex-namoradas. Marcelo pinta o corpo, fotografa, e trabalha com pintura em tela. O ensaio dura seis horas. A edição dele, segundo Marcelo, é infinita.

O TRAUMA NA ARTE

Marcelo Costa morou durante um tempo em Fortaleza, capital do Ceará. Ele lembra que à época realizou um trabalho com uma modelo que havia sofrido um acidente de carro – ela foi lançada para fora do veículo e teve uma fratura exposta, e no hospital não fizeram a raspagem correta do asfalto que grudou no local fraturado, cicatrizando com uma mancha preta.

“Eu conversei com ela e perguntei se poderíamos colocar asfalto na tinta, e a mistura de tinta e asfalto seria utilizada para pintar o corpo da modelo. Ela topou. A ideia era que a pintura a fizesse tomar consciência de que precisava se libertar do trauma sofrido. No fim, quando ela tomou banho e retirou no chuveiro a pintura, foi como se estivesse trocando de pele”, explicou Marcelo.

“Nós precisamos muito da energia do mistério para criar certos trabalhos viscerais. Deste mistério, conseguimos trazer sensações reprimidas e colocar de fazer o ensaio. Então, é matéria prima do ensaio este mistério. Por isso, é mais fácil trabalhar com pessoas desconhecidas, apesar de que depois da finalização dos trabalhos, algumas se tornam minhas amigas”, finalizou o artista.

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