A produção espanhola O Poço, dirigida por Galder Gaztelu-Urrutia, está se tornando um fenômeno na Netflix. A trama fala sobre indivíduos que precisam sobreviver em uma plataforma que possui centenas de andares. Dependendo de sua posição na estrutura, o nível de seu sofrimento será maior ou menor.
*Atenção, os parágrafos abaixo contém spoilers
Em entrevista ao Digital Spy, o diretor fez uma análise sobre o desfecho do longa, considerado ambíguo para muitos: “Após Goreng perceber que não seria possível despertar a solidariedade nos participantes do ‘poço’, ele resolve mandar uma mensagem para os administradores do local, com a ajuda de Baharat”.
A decisão do personagem não é uma metáfora contra o capitalismo. Para o cineasta, a virada na trama elucida o quão falho os sistemas econômicos podem ser. “Eu acredito que haja uma melhor forma de distribuir as riquezas do que as que conhecemos atualmente”, explica.
A alusão às práticas capitalistas estão presentes até metade da obra. “Depois disso, nós também mostramos Goreng e Baharat tentando fracionar os alimentos. Este é o momento em que eles tentam colocar o socialismo para funcionar. Mas como vocês puderam ver, as consequências de agir por este raciocínio acabaram matando metade das pessoas na plataforma”, continua.
Com isso, percebemos que, de fato, a principal ideia do filme é apontar as falhas de nossas ideologias econômicas e políticas. “No final, o problema só aumenta quando eles tentam obrigar todos a colaborar. Ele até consegue atingir seu objetivo final chegando ao andar mais baixo do poço com a menina e a panacota, mas não muda o pensamento de ninguém com isso”, afirma o diretor.
O cineasta afirma que, por mais que vejamos a menina subindo para o térreo, não sabemos se tudo deu certo. “Para mim, Goreng já estava morto antes mesmo de chegar ao nível mais baixo. O que nós vimos a partir de certo ponto, é apenas a sua interpretação sobre o que deveria ter acontecido”.
Durante o processo de edição, Galder optou por um final diferente. Nele, veríamos a menina chegando à administração. Porém, no corte final, a cena foi deletada. A vontade do cineasta foi deixar o longa aberto à interpretação.
Porém, o artista admite: Mais importante do que apontar as falhas de nossas ideologias sociais, a principal mensagem do filme é abordar a forma em que nos comportamos em situações extremas. “É sobre os limites da solidariedade, e o quão fácil é ser bom no nível 10, e o quanto pode ser difícil ter uma postura benevolente no nível 182”, conclui.