Trabalhadores informais sofrem com a diminuição de renda por conta da pandemia

Categoria diz precisar com urgência do auxílio de R$ 600, que será liberado pelo governo federal, mas ainda não sabe como terá acesso ao benefício

Fonte: Luciene Vieira

A vida de quem trabalha no comércio informal sempre foi uma batalha cotidiana, mas esses trabalhadores talvez jamais tivessem imaginado que chegariam ao ponto de sair de casa em busca do dinheiro para o café da manhã.

O movimento está minguado no centro de São Luís. Mas estas pessoas têm rompido o isolamento, ido aos seus locais de venda, à espera de interessados em seus produtos. Elas disseram ao Jornal Pequeno que viram na televisão que o governo federal irá pagar R$ 600, como ajuda durante a crise provocada pelo coronavírus, e contaram que não sabem como a ajuda vai chegar em suas mãos, e o que fazer para tê-la, mas que seria muito bom se dessem o voucher o mais rápido possível.

Hernandes Carlos Vieira, de 64 anos, é um dos milhares de maranhenses que trabalham atualmente para garantir o pão de cada dia e que, de uma hora para outra, viram sua renda despencar ou zerar devido à pandemia do coronavírus. Hernandes tem uma barraca de venda de cabresto para chinelos de plástico.

O vendedor ambulante continua saindo de sua casa, um imóvel do Programa Minha Casa, Minha Vida, no bairro Amendoeira, região do Maracanã, até uma calçada da Avenida Magalhães de Almeida, numa esquina com a Rua Grande. Hernandes não paga passagens no transporte coletivo, ele utiliza o “passe livre”. Ao JP, contou que o movimento caiu e já faltam itens essenciais na despensa e na geladeira de sua casa.

“Eu moro só. Vendo cabrestos de R$ 3, R$ 4 e R$ 5. Há cadarço de tênis, também. Nos melhores dias, eu vendia R$ 50. Hoje (ontem), não vendi nada, e vim tentar algo para o café. A gente que é vendedor ambulante, vive fazendo empréstimos bancários. Está próximo a data que vencerá a próxima parcela de um empréstimo que eu fiz. A situação sempre foi difícil, ninguém que é pobre é feliz por completo, mas o momento atual é desesperador”, declarou Hernandes, ainda no começo da manhã.

O vendedor de cabrestos torce para que acelerem o pagamento do auxílio de R$ 600, sancionado na quarta-feira (1º) pelo presidente Jair Bolsonaro, a trabalhadores informais. De acordo com declarações do governador Flávio Dino, cerca de dois milhões de maranhenses serão beneficiados.

A dona de uma barraca de bebidas no Anel Viário, que pediu que nem ela nem seu estabelecimento fossem fotografados, disse que sempre passou por dificuldades financeiras, mas nunca viveu essa escassez. “O movimento caiu muito, quase parei de vender, por medo da Covid-19, ou porque houve dias destas últimas duas semanas, em que abrir o estabelecimento não compensou”, informou a comerciante.

Antônio William Conceição tem 67 anos, e é o dono de uma barraca de venda de balas doces, refrigerante, água mineral e de coco. O vendedor informou que mora na Vila Lobão, com sua esposa e mais um senhor acamado de 83 anos. Antônio vendeu na quarta-feira (1º) apenas duas águas de coco, cada uma por R$ 4. “Estou vindo também para espantar os ladrões, que podem aproveitar do pouco movimento no Centro Histórico para roubarem meus produtos”. A barraca de Antônio fica em frente ao Centro de Criatividade Odylo Costa Filho, localizado próximo ao estacionamento do Reviver.

O vendedor afirmou que os R$ 600 ajudariam bastante, mas mesmo assim não será suficiente. “A gente que trabalha aqui não tem salário fixo de nada. Eu não sei quando esse dinheiro vai sair, e se preciso fazer algo. O governo federal deve ter o cadastro de todos os brasileiros, afinal somos eleitores, e quase tudo que fazemos registramos nosso Cadastro de Pessoa Física (CPF). Tem a feira para fazer, pois ainda tenho arroz para hoje (ontem). E ainda tem que pagar alguém para cuidar do idoso acamado que mora comigo e minha esposa, pois eu saio para trabalhar, e ela não tem estrutura física para lidar com ele”, informou Antônio.

AUXÍLIO EMERGENCIAL

O auxílio emergencial de R$ 600 para trabalhadores informais de baixa renda foi aprovado na segunda-feira (30), pelos senadores, e sancionado na quarta-feira por Jair Bolsonaro. A medida durará, a princípio, três meses, mas poderá ser prorrogada.

O benefício será destinado a cidadãos maiores de idade sem emprego formal, mas que estão na condição de microempreendedores individuais (MEI) ou contribuintes da Previdência Social. Também é necessário ter renda mensal inferior a meio salário mínimo per capita ou até três salários mínimos no total. Para cada família beneficiada, a concessão do auxílio ficará limitada a dois membros, de modo que cada grupo familiar poderá receber até R$ 1.200.

O Início dos pagamentos depende de trâmites político e jurídico, segundo o governo federal. Os pagamentos serão feitos pelos bancos públicos federais (Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal) em três parcelas mensais. Os beneficiários receberão o valor em contas criadas especialmente para esse fim, que não exigirão a apresentação de documentos para criá-las, e não terão taxas de manutenção.

De acordo com o ministro da Cidadania, Onyx Lorenzoni, a ordem dos pagamentos deve ser: primeiro, trabalhadores informais que recebem o “bolsa-família”; informais que estão no cadastro único; microempreendedores individuais e contribuintes individuais; e informais que não estão em cadastro nenhum.

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