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“A economia só existe em razão da vida das pessoas”, diz secretário de Saúde ao recomendar o isolamento social

Carlos Lula companha de perto a luta para que o nível de contágio do novo coronavírus não avance de forma avassaladora no estado.

Fonte: Redação

O Jornal Pequeno entrevistou o secretário de Estado da Saúde, Carlos Lula, que está na linha de frente no combate à Covid-19 no Maranhão. Ele acompanha de perto a luta para que o nível de contágio do novo coronavírus não avance de forma avassaladora no estado.

O secretário é um dos responsáveis pelo Painel de Informações sobre a Covid-19, que mapeia por georreferenciamento os números de casos da doença por município e em cada bairro de São Luís. A iniciativa garantiu ao Maranhão o segundo lugar do país em transparência de informação sobre o vírus, segundo levantamento da Open Knowledge Brasil (OKBR).

Nessa entrevista, Carlos Lula fala sobre a importância do isolamento social, o que pensa sobre o uso da cloroquina e como o sistema de saúde do Maranhão está se preparando para um possível aumento no número de infectados:

Jornal Pequeno – O governador anunciou novas medidas restritivas de circulação, dessa vez com impacto nas rotinas das agências bancárias. Por que é importante apostar no distanciamento social, já que existe um movimento nacional que defende a flexibilização da quarentena?

Carlos Lula – O distanciamento social é a única medida efetiva e cientificamente comprovada para a redução da curva dessa epidemia que a gente vive. A gente sabe que é necessário conseguir neste momento manter o direito fundamental à vida, com a economia andando junto. Mas do que adianta a gente ter economia se a gente não tiver vida no planeta? A economia só existe em razão da vida das pessoas, por isso a medida sanitária, nesse momento, é de prevenção. A gente sempre tem que ter em perspectiva a gripe espanhola, lá em 1918, mais de 100 anos atrás, quando a mesma discussão aconteceu e a medida adotada à época foi justamente o distanciamento social. Era necessário afastar pessoas, era necessário fazer quarentena, era necessário fechar escolas, fechar igrejas, fechar comércios. Exatamente para evitar o contágio. A gente deve lembrar que lá em 1918, a estimativa é que a gripe espanhola chegou a matar entre 50 e 100 milhões de pessoas e as medidas adotadas à época são muito parecidas com as medidas que nós adotamos hoje, que é o distanciamento social. Se eu sei que a infecção se dá por meio da passagem de pessoa pra pessoa, tenho que evitar aglomerações. Para a ciência, essa é a medida correta e é a medida que a gente tem adotado no Maranhão.

JP – O governador destacou em entrevista coletiva que a maioria dos casos de Covid-19 está concentrada na Grande Ilha de São Luís e que, portanto, a maioria dos investimentos está sendo alocada na capital. O que tem sido feito para preparar os outros municípios caos haja uma possível escalada da doença no interior do Maranhão? É possível afirmar que com as medidas já adotadas, a maioria dos municípios pode estar fora de perigo?

Carlos Lula – O que a gente fez foi na verdade se precaver. A gente tentou proteger o sistema de saúde adotando o maior número de leitos, adotando o maior número de UTIs. Já construímos 132 leitos de UTI, 120 leitos de enfermaria, além dos leitos que já tínhamos, exatamente para receber os pacientes com essa sintomatologia. A rede de saúde, do jeito que ela funcionava, ela não dá conta de receber ao mesmo tempo esse número muito elevado de pessoas. O objetivo do distanciamento social é evitar exatamente que as pessoas adoeçam todas ao mesmo tempo, porque nenhum sistema de saúde no mundo tem condição de receber tantos doentes ao mesmo tempo. Colocamos leitos em Presidente Dutra, em Coroatá, em Timon, em Imperatriz, leitos extras, além dos leitos que já tínhamos, exatamente pra que a gente tivesse a condição de receber essas pessoas e, portanto, protegê-las e proteger o sistema de saúde.

JP – Com pouco mais de 200 casos confirmados, o Maranhão está abaixo da média nacional em números de contaminados. Como isso foi possível esse resultado e qual a meta para as próximas semanas?

Carlos Lula – O nosso objetivo é achatar ainda mais a curva. A curva [maranhense] tá andando de forma mais lenta que a curva brasileira, mas ainda assim, de uma maneira muito mais acelerada do que a gente desejava. Temos números menores porque tomamos medidas de contenção e distanciamento social antes do caso chegar ao nosso estado, isso é importante que se diga. A gente só tem esse número de casos porque nossas medidas foram tomadas de forma antecipada, antes mesmo de ter o surgimento do primeiro caso no Maranhão.

JP – Existe uma discussão nacional sobre o uso da cloroquina para o tratamento da Covid-19, inclusive com recomendação federal para o uso desse tipo medicação. Qual o protocolo que o Maranhão para o uso da cloroquina?

Carlos Lula – É importante a gente despolitizar esse tema, porque esse tema não é um tema afeto ao secretário, ao governador ou ao presidente, esse é um tema afeto à comunidade médica, é uma decisão médica. A decisão de que remédio utilizar e de qual medicação prescrever não passa por mim, eu apenas forneço os meios para que os médicos tenham. Se um médico disser: eu preciso de medicamento X, eu devo fornecer o medicamento X para ele, mas eu nunca vou poder interferir no protocolo clínico do médico. A gente utiliza aqui, sim, a cloroquina com azitromicina nos pacientes graves em nossa Unidade de Terapia Intensiva, seguindo protocolo muito parecido com o adotado em outros estados, mas nunca, jamais, a gente vai interferir politicamente em uma decisão que é científica. A gente precisa é de ciência, decisão, e mais do que isso, fornecer os meios para que nossos médicos possam cuidar dos nossos pacientes.

JP – Com a curva ascendente de contágio, em especial em São Luís, o Maranhão corre o risco de sobrecarregar seu sistema de saúde? Já foram pensadas medidas emergenciais em caso de colapso da rede de saúde?

Carlos Lula – Todos os sistemas de saúde serão testados. A gente ainda não tem um percentual grande de leitos ocupados, mas a gente acredita que nas próximas semanas, enquanto essa curva estiver subindo, a gente vai testar a força e o tamanho do Sistema de Saúde do Estado do Maranhão. A gente já tem uma previsão de ter mais leitos, exatamente já pensando no que pode acontecer nas próximas semanas. Nas próximas semanas a gente deve ter mais casos, e, portanto, mais pessoas hospitalizadas, mas ao mesmo tempo devemos ganhar novos leitos, porque é essa a programação da Secretaria de Estado da Saúde.

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