Crianças e tecnologias: discutindo o uso saudável em tempos de quarentena

A tecnologia tem sido de grande auxílio para enfrentar esses tempos difíceis de pandemia, e as crianças têm facilidade de se adaptar às novas ferramentas

Fonte: Dra. Melyssa Bentivi

Em tempos de confinamento obrigatório, com as crianças fora da escola e sem possibilidades de brincadeiras ao ar livre, mais do que nunca a tecnologia se tornou presente em todas as casas, seja para diversão, para aulas virtuais, para se comunicar com a família e amigos distantes. Diante disso, é importante pensarmos sobre o bom uso da tecnologia, o que é mais do que falar sobre o tempo de uso, embora esse tempo também precise ser considerado.

Já é difícil encontrar o equilíbrio para o uso de ferramentas tão sedutoras quanto games e programações infinitas de YouTube e canais de televisão. Especialmente nesse período em que nossa rotina foi tão radicalmente alterada, as crianças estão utilizando ainda mais as ferramentas disponíveis, e muitas vezes isso é importante para que pais e mães consigam ter algum tempo livre para realização de atividades domésticas, home office, dentre outros.

A tecnologia tem sido de grande auxílio para enfrentar esses tempos difíceis de pandemia, e as crianças têm grande facilidade de se adaptar às novas ferramentas. Mesmo assim, precisamos ficar atentos para preservar períodos e espaços livres de tecnologia.

A exposição contínua às telas, embora pareça facilitadora das rotinas da casa, piora o comportamento, prejudica o sono, aumenta a irritabilidade da criança. Não se trata de considerar as telas vilãs, mas de pensar no uso com responsabilidade e considerando também os possíveis efeitos prejudiciais à saúde de nossos filhos.

Já sabemos que o uso excessivo de telas pode contribuir para obesidade infantil, ansiedade, mal desempenho escolar e piora no comportamento. Assim como observamos prejuízos no desenvolvimento da linguagem no caso de crianças pequenas expostas precocemente às telas. Desta forma, é necessário definir o tempo que as crianças vão poder utilizar telas ao longo do dia, e, de preferência, combinar com elas a rotina a seguir nesses dias e quais as alternativas aos brinquedos tecnológicos.

Não é possível pensar nesse período de confinamento nas mesmas orientações à respeito de tempo que são feitas no período normal, em que reforçamos tanto a necessidade de brincadeiras ao ar livre e socialização. Mas, ao mesmo tempo, as orientações da Sociedade Brasileira de Pediatria servem de parâmetro para podermos ajustar, dentro da realidade de cada casa: de zero a dois anos, a orientação é de não usar telas; até 5 anos, 1 hora por dia; de 6-10 anos, 1-2 horas por dia (lembrando que tempo usado para atividades escolares não deve ser contato como tempo de tela).

Esses tempos são apenas parâmetros, para podermos pensar que, mesmo em um contexto tão desafiador, não dá para uma criança passar o dia inteiro na televisão ou no tablet, sem brincar. Além do tempo de uso, a supervisão da programação é muito importante. Nem todo programa ou jogo descrito com educativo ou adequado para determinada idade representa o que promete.

Os pais devem avaliar a qualidade do conteúdo, e sempre que possível, interagir com a criança sobre aquilo que foi consumido, inclusive orientando quais conteúdos são inadequados e a necessidade de acionar os pais caso surja algo que parece inadequado.

Sempre que possível, prefira que o uso da internet seja feito nas áreas comuns da casa. Tirar um tempo para navegar junto com a criança e o adolescente, conhecer os gostos e atividades é necessário e gera boas conversas. Não há um protocolo padrão para uso de jogos e da internet, mas a observação atenta da criança e do adolescente e a supervisão da programação, conversando e tentando chegar juntos a um acordo sobre uso ajudam muito.

Converse com eles sobre isso, inclusive para falar sobre regras de segurança e ouvir reclamações e protestos sobre os limites. É verdade que o tempo definido nunca vai parecer suficiente, mas crianças e adolescentes sempre ficam felizes quando sentem que os adultos estão atentos a elas.

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