Artigo: Dia da abolição da escravatura

Hoje voltamos os olhos para o dia 13 de maio de 1888, data que oficialmente fora abolida a escravização no Brasil

Fonte: Leandro Bento

Hoje voltamos os olhos para o dia 13 de maio de 1888, data que oficialmente fora abolida a escravização no Brasil. É importante olharmos para as implicações reais desse marco histórico em nosso povo.

Em meio a uma situação mundial em que a escravização já não era interessante politicamente nem economicamente, temos o consentimento da monarquia luso-brasileira para que a escravização não mais ocorresse de forma legalizada, do ponto de vista mercantil.

A lei assinada às pressas, para não estar fora do que o mundo comercial obrigava, tornou milhares de pessoas, subalternizadas por décadas, “livres”. Contudo, não houve plano de inserção dessas pessoas de forma humana, como o direito à moradia e recursos para a sobrevivência.

Ainda na contemporaneidade, negros continuam a ter a saúde negligenciada, recebem salários menores e são mais violentados pelo sistema penal. Indo além, as pessoas negras estão muito propensas a terem sua vida emocional defasada, tendo em vista os obstáculos que o racismo lhes impõe rotineiramente.

O que a Psicologia pode contribuir para pensar essa data? Ela nos ajuda a pensar criticamente sobre o real do racismo na sociedade. Porém, é necessário pensar também sobre a própria contribuição que esta teoria teve para que a dimensão racial fosse esquecida ou que o racismo ganhasse terreno no Brasil e no mundo.

Para isso, frisamos aqui a importância de compreender o que foi o eugenismo e sua intromissão nas ciências. É fundamental que reafirmemos a necessidade de sujeitos negros terem acesso à saúde mental de forma integral, que sejam acolhidos, tratados e que possam reconstruir o saber sobre si.

Uma vez que o colonialismo ainda provoca um esquecimento das origens de cada povo escravizado, é necessário que a práxis da psicologia possa auxiliar na reconstrução da narrativa do orgulho, da autoestima e da potência já sabida desses corpos.

Cabe à Psicologia e à sociedade como um todo o questionamento contínuo dos atravessamentos raciais neste país e no mundo. É fundamental que as pessoas negras tenham voz e possam falar sobre si, elaborando suas vivências e narrativas, uma vez que a linguagem, caminho pelo qual a subjetividade faz sua morada primeira, urge em ser falada.

Leandro Bento
Psicólogo Clínico
Integrante do projeto Saúde Mental para Todos, com foco na área de raça, gênero e classe

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