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Bloqueio da Rua Grande mantém esvaziamento das principais vias da região central de São Luís

O Jornal Pequeno registrou o vazio das ruas de Santana e da Paz. Na Rua Grande, algumas pessoas somente em bancos e farmácias

Fonte: Luciene Vieira

A Rua Grande sempre foi conhecida como a principal via do comércio popular de São Luís, reunindo lojas dos mais variados produtos, motivo pelo qual sempre esteve entupida de pessoas, mesmo depois de a Organização Mundial da Saúde (OMS) decretar a pandemia do novo coronavírus e apontar a necessidade do distanciamento social, como uma das principais estratégias para evitar a proliferação da doença.

Diante dessa situação, o governo do Estado determinou que a rua fosse bloqueada pela Polícia Militar, no dia 30 do mês passado, e que fosse permitido o acesso somente a quem fosse em busca de algum serviço essencial. E essa foi a realidade constatada pelo Jornal Pequeno, na manhã dessa terça-feira (12); somente as farmácias e agências bancárias possuíam pessoas nas proximidades.

O esvaziamento foi percebido, ainda, nas ruas de Santana e da Paz. Essas vias, também, atraem grande número de pessoas devido ao comércio intenso e diversificado, que ambas possuem.

O esvaziamento da região central de São Luís, também, pode ser percebido nas ruas da Paz e de Santana (Foto: Gilson Ferreira)

A decisão do governador Flávio Dino, no final de abril, se deu porque a população ignorava a Covid-19, e permanecia se aglomerando na Rua Grande, muitas para fazer compra nas mãos dos vendedores ambulantes, que também insistiam em permanecer na via.

Ontem (12), a Polícia Militar permanecia monitorando a Rua Grande, com a colocação de cones em todos os seus acessos.

RUA GRANDE ONTEM

O céu estava tão azul, que realçava as fachadas e janelas dos prédios antigos na Rua Grande. O acervo arquitetônico da via sempre foi injustamente ignorado, pois sua beleza perdia a notoriedade para as ofertas nas lojas de roupas, sapatos, eletrodomésticos e eletrônicos. Afinal, com tanta gente “zanzando” de um lado ao outro da via, com caixas de som nas portas de estabelecimentos anunciando as ofertas do dia, com tantas pernas apressadas, quem olharia para detalhes nos prédios seculares espalhados pela via? Na Rua Grande de ontem, isso era possível. Talvez graças ao bloqueio da via, que acontece desde o dia 30 de abril.

Em cada esquina da rua, a presença de policiais, em dupla ou grupos, coíbe a livre circulação de pessoas. Do início ao fim, os militares se fazem presente.

Ao JP, o comandante do 9º Batalhão da Polícia Militar, o tenente-coronel Wellington Araújo, garantiu que está livre somente o atendimento de bancos, farmácias e óticas. “O policiamento permanece na Rua Grande fazendo o isolamento”, enfatizou Wellington.

Ainda sobre o cenário de ontem da via, a reportagem do JP visualizou pequenas concentrações nas portas do Itaú e do Bradesco. As pessoas aguardavam dar 10h, que é o horário de abertura desses bancos. Elas não respeitavam a distância de 1,5 metro, mas todas usavam máscaras.

“Vim devido à necessidade de receber dinheiro e pagar contas”, disse a dona de casa Maria Raquel Sousa Faria, por volta das 9h, sentada bem próxima a outras pessoas, em um banco nas proximidades da porta de entrada da agência Bradesco.

“Eu moro aqui mesmo no Centro. Minha mãe está muito gripada, vim comprar remédios antigripais para ela. Na farmácia, pode entrar uma pessoa cada vez que outra sai dela, por isso esta fila”, contou o estudante Josué Carlos Silveira.

Já nas ruas de Santana e da Paz, repleto vazio. Nelas apenas os sons dos pneus dos poucos veículos de passagem pelas vias, e os passos de quem circula pelas calçadas. Mas, o vai e vem estava reduzido, se comparado até mesmo aos dias anteriores ao bloqueio da Rua Grande.

LOJISTAS AGUARDAM ORIENTAÇÕES SOBRE REABERTURA

Os empresários de São Luís aguardam orientações futuras sobre o protocolo para a reabertura do comércio de serviços não essenciais, prevista para o dia 21 deste mês, conforme dito pelo governador Flávio Dino, em uma de suas coletivas pelas redes sociais.

Até o momento, os lojistas dizem que não sabem como será o processo de retomada das atividades, mas já têm uma certeza: demissões estão em andamento, e muitos negócios poderão não reabrir as portas, na região central da cidade, como na Rua Grande.

“Estamos no meio de um incêndio. Só quando os bombeiros apagarem saberemos o tamanho do prejuízo”, afirmou, ontem, o lojista Luís Marcelo Mota. O empresário é dono da loja de roupas e calçados Contrato, instalada em uma via transversal à Rua Grande.

Segundo Luís, o pior momento do varejo nas últimas décadas foi nesta recessão, provocada pelo novo coronavírus. “Vim hoje (ontem) rápido à loja, apenas para saber se não houve nenhuma tentativa de arrombamento. Ou algum dano estrutural, devido ao prédio estar fechado há quase dois meses”, disse o lojista.

No dia 17 de março, Luís foi entrevistado pelo Jornal Pequeno, numa matéria em que falava sobre as preocupações do comércio com a Covid-19. Naquela data, quando a rotina das principais vias comercias do centro da capital maranhense ainda não tinha sido alterada, o comerciante já dizia que as vendas tinham caído. Quatro dias depois, veio o decreto novo nº 35.677, e as lojas de serviços não essenciais, incluindo a Contrato, foram fechadas. Após 55 dias de quarentena na cidade, Luís disse que já passou dificuldades financeiras.

“Graças a Deus, não tenho dívidas com os meus fornecedores. Mas houve dias em que eu não tinha dinheiro para os gastos com alimentos. Dei baixa na carteira de trabalho dos funcionários da loja, e estou pagando contas essenciais com a venda de macaxeira, do plantio do meu sítio”, informou Luís.

No mesmo dia 17 de março, o JP conversou com Osni Souza, que era gerente de uma loja de destaque na venda de sapatos, na Rua Grande. Devido ao fechamento do comércio, Osni foi demitido em abril. Na entrevista ao jornal, no mês retrasado, o ex-gerente, sem sequer imaginar que no dia 21 de março o governador Flávio Dino divulgaria o decreto 35.677, já se mostrava bastante preocupado.

“Por que as pessoas estariam comprando sapatos, se a tendência é que elas fiquem cada vez mais parte do seu tempo em casa?”, disse Osni à época. “Agora estou em casa. A ideia é sobreviver à pandemia, e ter saúde para correr atrás, quando a quarentena passar. Mas, já estou levantando possibilidades de negócios; e esperando o fim do isolamento, para procurar emprego”, informou Osni Souza, durante ligação telefônica com a reportagem do JP, na manhã de ontem.

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