Cardíacos, hipertensos e obesos são as principais vítimas do quadro letal da Covid-19, no Maranhão

Especialistas ouvidos pelo Jornal Pequeno apontam os principais fatores para a estatística e orientam quanto aos cuidados de prevenção ante a essas comorbidades

Fonte: Luciene Vieira

Pacientes hipertensos, portadores de doenças cardíacas em geral, juntos com os diabéticos, têm o maior risco de desenvolver quadro grave da Covid-19, de acordo com médicos maranhenses. Isso acontece porque pessoas com essas comorbidades possuem menor reserva funcional do corpo, com fácil descompensação dos vários sistemas orgânicos.

De acordo com o boletim divulgado pela Secretaria Estadual de Saúde (SES) do Maranhão, na sexta-feira (22), o estado tinha 722 mortes por coronavírus. Dessas, 425 eram pessoas com hipertensão arterial, 277 com diabetes, 86 cardiopatas e 34 obesas. Por isso, médicos reforçam a recomendação de que esse grupo fique em casa e se isole imediatamente em caso de problemas respiratórios.

O cardiologista Leudo Campos (CRM-MA 2507) ressalta que evitar o contato social é a melhor medida de prevenção. “Evitar o contato social seletivo, associado às medidas de higiene pessoal, como lavar as mãos frequentemente, uso de álcool e antissépticos, e uso de máscaras faciais, são medidas preventivas primordiais”, destacou o cardiologista.

O cardiologista Leudo Campos recomenda que os hipertensos, diabéticos e obesos se isolem, ao primeiro sinal de problemas respiratórios (Foto: Divulgação)

Leudo Campos integra o quadro do Hospital Universitário da Universidade Federal do Maranhão (HU-Ufma), e está tratando de pacientes com Covid-19. Ao Jornal Pequeno, o médico informou que, em pacientes internados, o vírus pode atingir o coração e provocar arritmias, isquemia miocárdica, miocardite e choque.

“O vírus pode atingir diretamente o músculo cardíaco e o sistema endovascular, provocando outras arritmias em quem já as possui. A Covid-19 é capaz de desencadear diretamente miocardites, isquemia miocárdica e infarto agudo do miocárdio. A doença deteriora a função cardíaca e pode ocorrer o choque cardiogênico e morte súbita”, relatou Leudo Campos.

POSSÍVEIS FATORES

Quanto aos fatores que levam os maranhenses a sofrerem de hipertensão, a endocrinologista Cibele Magalhães disse que as pessoas estão cada vez esquecendo de comer “comida de verdade”. “A população está adoecendo pela forma como se alimenta, e, desta forma, abrem a ‘porteira’ para as doenças metabólicas”, ressaltou Cibele.

A endocrinologista Cibele Magalhães disse que as pessoas precisam comer “comida de verdade”, para garantir uma vida mais saudável e fechar a “porteira” para as doenças (Foto: Divulgação)

Já o cardiologista Leudo Campos afirmou que o histórico familiar, obesidade e a ingestão excessiva de sal são os fatores que levam à hipertensão.

MEDICAMENTOS

Uma série de estudos recentes sugere que drogas utilizadas poderiam agravar a Covid-19. Mas tanto a Sociedade Brasileira de Cardiologia quanto as demais sociedades internacionais da área não recomendam a interrupção sem prescrição. Elas alertam que os pacientes não devem, de forma alguma, interromper o uso de medicamentos conhecidos como inibidores de enzima conversora de angiotensina (Ieca) e bloqueadores de receptores de angiotensina (BRA), sem consultar um médico.

Sobre a possibilidade de que drogas de tratamento de insuficiência cardíaca possam agravar a Covid-19, o médico Leudo Campos disse que os estudos nessa ordem são preliminares. “Uso de medicamentos para o tratamento da insuficiência cardíaca quanto a agravar ou não o novo coronavírus, é controverso. Estudos científicos estão em andamento. Só teremos essa resposta em alguns meses”, concluiu o cardiologista.

FATORES DE RISCO PARA MENORES DE 50 ANOS

De acordo com os dados da SES, um bebê cardiopata de 10 meses morreu em São Luís por Covid-19, no dia 3 deste mês. Duas das cinco vítimas de Covid-19, entre 10 a 19 anos, tinham hipertensão arterial e obesidade. Cinco das oito mortes de pessoas, entre 20 a 29 anos, ou eram obesas, diabéticas ou apresentavam doença renal crônica. Dez das 26 pessoas mortas, de faixa etária entre 30 a 39 anos, eram hipertensas e obesas. Morreram do novo coronavírus 49 pessoas entre 40 a 49 anos; 19 eram hipertensas e obesas, ou só uma doença ou outra.

Pelas estatísticas, além dos problemas cardíacos, a obesidade é um dos principais fatores de risco para pessoas com menos de 50 anos infectadas com o novo coronavírus, segundo dados da Secretaria Estadual de Saúde.

A endocrinologista Cibele Magalhães informou que a obesidade tem como base fisiopatológica a inflamação do corpo com maior presença de citocinas inflamatórias, principalmente, interleucina 6, liberadas pela gordura visceral.

Cibele explicou que, quanto mais obeso, mais vulnerável o paciente é à ação de vírus e bactérias. A médica informou que a vulnerabilidade do paciente obeso parece ter relação com a quantidade de enzima conversora de Angiotensina 2 (ECA 2) presente nas suas células. “O vírus entra nas nossas células por meio da ECA2; e, em seguida, a degrada. Sabemos que essas enzimas possuem um papel protetor contra inflamação no nosso corpo”, revelou a endocrinologista.

De acordo com Cibele Magalhães, o sistema imune dos obesos também pode ser prejudicado pela microbiota intestinal disbiótica, quando se há ingestão excessiva de alimentos industrializados e sem fibras. A médica relatou que tais comidas são capazes de adoecerem as bactérias do intestino.

“Isso geraria ainda mais inflamação e baixa imunidade. Melhorar o estilo de vida, a microbiota intestinal e perder peso com saúde com alimentação funcional anti-inflamatória é de extrema importância nesse momento para maior proteção dessas pessoas”, aconselhou a endocrinologista.

COMO AUMENTAR A IMUNIDADE?

O chamado passaporte imunológico tem sido a possível aposta, que garantiria, com a imunidade ao novo coronavírus, o fim seguro ao distanciamento social. O Jornal Pequeno entrevistou o nutricionista Fábio Pinheiro, que é especialista em nutrição esportiva e funcional. Ele dá dicas de como fortalecer o sistema imunológico.

Conforme o nutricionista Fábio Pinheiro, para fortalecer o sistema imunológico as pessoas devem priorizar uma alimentação saudável e dar fim ao sedentarismo (Foto: Divulgação)

JP – O que é o sistema imunológico, e qual a importância dele na proteção contra a Covid-19 e outros vírus?

Fábio Pinheiro – O sistema imunológico é um conjunto de elementos existentes no corpo humano, que interagem entre si, e têm como objetivo defender o corpo contra doenças, vírus, bactérias e micróbios. É desta forma que o sistema imunológico representa a defesa do corpo humano.

JP – Como fortalecer o sistema imunológico?

Fábio Pinheiro – Para fortalecê-lo, prevenindo o desenvolvimento de algumas doenças e ajudar o corpo a reagir àquelas que já se manifestaram, é importante comer mais alimentos ricos em vitaminas e minerais, diminuir o consumo de fontes de gordura, açúcar e industrializados, com corantes e conservantes, e pode ser indicado tomar remédios ou suplementos que aumentam a imunidade, mas isso vai depender da individualidade nutricional de cada paciente.

JP – Por onde começar? Suplementação melhora?

Fábio Pinheiro – Como somos o que comemos, uma reeducação alimentar priorizando uma alimentação saudável é o principal caminho, e, claro, sair da vida sedentária. A prática de atividade física é essencial.

JP – Em relação à Covid-19, diabéticos e hipertensos estão no grupo de risco por conta da imunidade mais frágil?

Fábio Pinheiro –Sim. Em portadores de doenças não transmissíveis como diabetes, hipertensão, obesidade, doenças respiratórias e cardíacas, geralmente, o sistema imunológico é afetado com mais facilidade. Por esse motivo, essas pessoas precisam sempre se preocupar com seu estilo de vida. Dando preferência por uma boa alimentação e prática de atividade física.

JP – Quais os cuidados especiais para idosos?

Fábio Pinheiro – Evitar alimentos sobrecarregados em açúcares refinados, produtos industrializados e gordurosos. Fazer uma caminhada com regularidade, sendo auxiliado por um profissional de educação física; ter uma boa noite de sono, também, é essencial.

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