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Tabagismo mediante a pandemia Covid-19 e seu impacto nas cardiopatias

O ato de fumar implica em levar as mãos do fumante ao contato com o rosto e lábios de um cigarro que pode estar contaminado

Fonte: SBC

O tabagismo é a principal causa evitável de doença e morte não só nos Estados Unidos da América como também no Brasil. Fazendo uma breve retrospectiva, nos Estados Unidos em 1900 mais ou menos 3.200 gramas de tabaco eram consumidos por cada adulto por ano. Destes, a maioria era consumida por mastigação ou inalação; cada indivíduo consumia menos de 500 gramas sob a forma de cigarros ou cigarrilhas. Em 1918, o consumo do cigarro tinha disparado em relação às outras formas de utilização, e a epidemia havia começado. O consumo aumentou sensivelmente na década de 50 e atingiu o pico em 63. Em 1990, o consumo foi avaliado em 2.800 cigarros por cada adulto.

A perspectiva de mortalidade atual pelo uso do cigarro em países desenvolvidos e em países em desenvolvimento é de 6 milhões. Para o ano de 2030, a perspectiva de mortalidade é de 3 milhões em países desenvolvidos e de 7 milhões em países em desenvolvimento, isto significa 10 milhões de mortes ligadas ao uso do tabaco no ano de 2030. Também segundo a OMS, o tabaco mata mais que a soma de mortes por AIDS, cocaína, heroína, álcool, suicídio e acidentes de trânsito.

Mesmo sendo o tabagismo uma prática antiga no mundo, só após os anos 80, a nicotina foi incluída como droga que causa dependência psicoativa entre os critérios diagnósticos de doenças (CID XI: DSM-V). Segundo a OMS existe hoje 1,3 bilhão de fumantes no planeta, sendo que nos últimos 10 anos, estimou-se que 100 milhões de pessoas foram a óbito por causa do cigarro.

Em 2005 o Congresso Nacional aprovou a Convenção Quadro de Controle do Tabaco, tratado mundial de saúde pública para controle do tabagismo que ainda é considerado uma pandemia e todos os seus agravos. Entre 1989 e 2018 a prevalência diminuiu de 35% para 9,3% o que contribuiu enormemente para reduzir doenças cardíacas, pulmonares e câncer de pulmão. Mesmo assim, ainda são gastos na saúde em torno de 7 bilhões por ano para cuidar de doenças do coração, pulmonares e os vários tipos de câncer.

Apesar do Brasil ter avançado enormemente na redução e no controle do tabagismo através de leis nacionais de fumo em ambiente fechado, e ter o tratamento já disponibilizado na atenção básica, ainda temos uma grande população de fumantes no país e o risco de novos fumantes principalmente os jovens que iniciam no cigarro através de experimentação de narguilé, juul entre outras formas de utilização do tabaco.

Com a nova pandemia do Covid-19 sabe-se que o tabagismo é um dos principais fatores de risco não somente para contrair a doença, pois o tabagismo ajuda na diminuição da imunidade, mas também na piora da sintomatologia pulmonar e agravamento do paciente, assim como na piora de cardiopatias já existentes.

Devemos lembrar que o ato de fumar, implica em levar as mãos do fumante ao contato com o rosto e lábios de um cigarro que pode estar contaminado. Ainda o uso do narguilé que por vezes é passado de boca em boca, facilita muito o poder de propagação do vírus, assim como a liberação de aerossóis que pode contaminar os fumantes passivos.

Estudos mostram que os pacientes de pneumonia com Covid-19 e sua progressão para formas mais graves e morte foram 14 vezes maiores entre fumantes do que para não fumantes. Uma explicação para isso é que muitos tabagistas já tem desenvolvida a doença pulmonar obstrutiva crônica, onde existe uma enzima que facilita a contaminação pelo vírus das células pulmonares. Isto também é possível ocorrer aos usuários de cigarros eletrônicos e tabaco aquecido. Fumantes que já apresentam doenças pulmonares e capacidade respiratória reduzidas e doenças cardíacas em andamento são mais susceptíveis a ocorrência da Covid-19.

Desta forma, se faz cada vez mais importante não somente porque o tabagismo é um importante fator de risco para DCNTs, mas pelo agora fator de risco e complicador para Covid-19, o controle cada vez maior dele assim como focar no tratamento para cessação de tabagismo.

A Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) tem um papel como entidade que agrega membros da cardiologia do país e equipes multiprofissionais que atuam na área, de deixar a população prevenida em relação a estas questões, assim como o trabalho maravilhoso que vem sendo feito nas escolas agora de todo país, na prevenção dos fatores de risco cardiovasculares. A Covid-19 outra consequência possível de ocorrer com mais facilidade em fumante também irá trazer consequências graves à queles que já tem uma cardiopatia em curso. Lembrando ainda, que uma das medicações que ajudam na Covid-19 a cloroquina podem trazer consequências negativas em termos de efeitos colaterais a pacientes cardiopatas e com isso deve ser utilizada com moderação e parcimônia.

Este ano a campanha mundial da OMS do Dia Mundial sem Tabaco foi focada em alertar e proteger o jovem de iniciação no tabagismo, pelo controle de cigarros eletrônicos, uso indiscriminado de narguilé e controle dos pontos de venda do produto assim como a formas como a indústria chama a atenção e atrai os jovens para iniciação do cigarro. Cabe a nós enquanto associação que prima pela saúde de nossos jovens e futuros adultos apoiar estas questões no controle de como estes dispositivos colocam nossos jovens em perigo pela sua utilização e possibilidade de posteriormente contraírem não somente as doenças por vírus, mas também no desenvolvimento de cardiopatias que ainda é uma das que mais causa mortes em nosso país.

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