por / Adilson de Paula Almeida Aguiar
Zootecnista, professor de Forragicultura e Nutrição Animal no curso de Agronomia e de Forragicultura e de Pastagens e Plantas Forrageiras no curso de Zootecnia das Faculdades Associadas de Uberaba (FAZU); Consultor Associado da CONSUPEC – Consultoria e Planejamento Pecuário Ltda; investidor nas atividades de pecuária de corte e de leite.
Quando tenho a oportunidade de planejar e executar a implantação de um novo projeto em uma área onde não havia a atividade pecuária, indico uma sequência de orientações para o produtor seguir. Esta sequência é a mesma que adoto para fazer o meu trabalho de consultoria em uma fazenda onde já existe um projeto de pecuária em andamento. Esta sequência é a seguinte: a escolha das espécies forrageiras, o estabelecimento das pastagens, a implantação da infraestrutura da fazenda, o manejo do pastejo, o manejo e o controle de plantas infestantes e pragas, o manejo da fertilidade do solo, a irrigação do solo, a suplementação dos animais e o planejamento alimentar do sistema. Estas são as bases para a implantação e a execução de projetos de produção animal em pastagens, tanto para fazendas de pecuária de corte como para as de pecuária leiteira.
Mas ao longo de 29 anos de trabalho junto ao produtor e a colegas técnicos tenho diagnosticado vários erros cometidos nestas 10 áreas citadas. Quais são estes erros? O objetivo deste artigo é relacionar alguns. Vamos lá.
1) A escolha das espécies forrageiras para o estabelecimento de novas pastagens: a maioria dos produtores e muitos técnicos têm feito a escolha de espécies forrageiras para o estabelecimento de novas pastagens sem base científica e validação técnica em áreas comerciais. Na maioria das vezes, a decisão de qual forrageira plantar é tomada com base em modismos, influenciado por propagandas das empresas que vendem sementes e mudas de plantas forrageiras. Um erro grave aqui é o monocultivo de uma determinada espécie em grandes extensões de pastagens, condição que coloca as mais vulneráveis a estresses abióticos, causados por extremos de temperatura e umidade, e bióticos, causados por pragas e doenças.
2) O estabelecimento da pastagem: os erros mais comuns começam com a compra de sementes e mudas de baixo padrão de qualidade, seguem com um preparo de solo incorreto, e a execução dos procedimentos fora das janelas ideais (para preparo de solo, semeadura, controle de plantas infestantes e o primeiro pastejo). Existe um mercado pirata de sementes de plantas forrageiras que representa quase 1/3 do mercado. São sementes com baixas porcentagens de pureza e germinação e contaminadas com sementes de plantas infestantes, ovos de pragas e esporos de fungos. É também comum mudas com misturas varietais e com estas impurezas.
3) Infraestrutura da pastagem: são cometidos erros no formato e na área dos piquetes, na ausência de sombreamento ou erro no dimensionamento da área de sombreamento por animal e seu posicionamento, erro na posição e no dimensionamento dos cochos para suplementação, erro no dimensionamento de bebedouro ou provisão de água de baixa qualidade para os animais em cacimbas, córregos e rios. Em sistemas de produção de leite encontram-se erros no posicionamento e dimensionamento da sala de ordenha e na construção e manutenção dos corredores de acesso para os animais dos piquetes para a sala de ordenha.
4) O manejo do pastejo: o principal erro é o manejo da pastagem com taxa de lotação acima da capacidade de suporte, o que leva a uma condição de superpastejo com consequências negativas no desempenho animal, com menores ganho de peso e produção de leite, redução no vigor da rebrota da planta forrageira e da sua persistência na pastagem, na degradação da estrutura do solo, que pode se compactar, e por fim, na redução da produtividade de carne e leite por hectare. Entretanto não é incomum o subpastejo, condição causada pela taxa de lotação abaixo da capacidade de suporte da pastagem, o que leva também a consequências negativas na produção animal em pasto.
5) O manejo e controle de plantas infestantes: os principais erros são a não adoção de manejo, o qual consiste em métodos preventivo e cultural e no controle em si, por causa da adoção de métodos de controle de baixa eficácia, tais como os métodos mecânicos, como roçadas manual e ou tratorizada, uso de fogo, subdoses de herbicidas e ingredientes de herbicidas não adequados para controles específicos.
6) O manejo e controle de pragas das pastagens: aqui os erros vão desde a ausência total de um programa de manejo integrado de pragas até a execução errada de métodos de controle. A principal praga que ataca pastagens são as cigarrinhas, a qual é de fato a praga específica desta cultura. No Brasil se tem mais de quatro décadas de pesquisa e conhecimento do ciclo de vida desta praga e seu controle, mas até hoje está causa prejuízos aos produtores por causa dos erros cometidos.
7) O manejo da fertilidade de solo: um dos erros mais comuns é a falta de coleta de solo para análise, passando por análises de solos incompletas, pela interpretação das análises de solos e recomendações de correção e adubação feitas por profissionais que não são especialistas em nutrição de plantas forrageiras e em manejo da pastagem. Segue com erros na escolha de corretivos e fontes de fertilizantes como também nas doses aplicadas e no momento de sua aplicação. Talvez esta seja a área dentro de um programa de manejo da pastagem que mais tem sido vendidas “soluções tecnológicas” que após pesquisas conduzidas por instituições de renome se comprova que não são eficazes.
8) A irrigação do solo da pastagem: o mais comum é a falta de diagnóstico do potencial do ambiente para irrigação, com base no balanço hídrico da região; falta de medida da vazão e da qualidade da fonte de água para fins de irrigação e erros do dimensionamento dos sistemas de irrigação.
9) A suplementação do rebanho: é comum a falta de um planejamento baseado nos seguintes parâmetros: o animal (grau de sangue, idade, sexo, peso, tamanho corporal), a qualidade (valor nutritivo) e a disponibilidade da forragem (kg de matéria seca por hectare) ao longo do ano, as metas de desempenho animal (ganho de peso, produção de leite, etc.) e na disponibilidade de produtos e coprodutos alimentares na região.
10) O planejamento alimentar: na maioria das fazendas o produtor não tem um planejamento alimentar de longo, médio e curto prazo, baseado na demanda por forragem (que é determinada pela taxa de lotação) e na disponibilidade de forragem (que é dada pelo acúmulo de forragem na região), o que leva às condições de subpastejo e superpastejo e quase nunca ao pastejo ótimo, que é a condição de pressão de pastejo ideal. Sem um planejamento alimentar fica muito difícil planejar com exatidão as estações reprodutiva, de nascimento e de desmama; as épocas de vendas e compras de animais; quando armazenar e quando fornecer volumosos suplementares (silagens, fenos, pré-secados), como dimensionar as áreas de produção de volumosos suplementares, etc.
Neste artigo eu apontei os erros cometidos. Mas como prevenir estes erros? Como corrigir estes erros? Por favor, leiam nos 33 artigos que escrevi para o sítio da Scot desde março de 2017. E pretendo continuar escrevendo porque avanços trazidos pela pesquisa e pelos resultados de campo em fazendas comerciais nos traz um riquíssimo banco de dados e informações para conversarmos.