Sem Migué! É com esta frase simples e direta, em forma de gíria maranhense, que o jornalista Jorge Martins entra de cabeça na guerra contra a proliferação de notícias falsas, em São Luís, durante as eleições 2020.
Com o objetivo de checar discursos e anúncios de autoridades a boatos disseminados nas redes sociais, o time coordenado por Jorge conta inicialmente com 30 colaboradores e está até esta sexta-feira (2) com o recrutamento de voluntários aberto. No sábado (3), acontecerá uma oficina pelo Google Meet aos inscritos, com orientações de como fazer as checagens.
O embrião da iniciativa teria sido o curso de Mestrado Profissional em Comunicação, da Universidade Federal do Maranhão (Ufma), no qual Jorge Martins estuda as categorias do fact-checking (checagem de fatos), desinformação, pós-verdade e crise no jornalismo.
Na internet, segundo Jorge, o Sem Migué está online desde o dia 17 deste mês, junto com as redes sociais do projeto: @ semmigueslz no Facebook, Instagram e Twitter.
A fake news é uma mistura de fatos verídicos com deduções. A checagem de dados é fundamental. O jornalista e mentor do Sem Migué afirmou que o movimento de notícias falsas reforça a importância do jornalismo profissional praticado por empresas consagradas de mídia. Para Jorge, é urgente encontrar meios de fortalecer o jornalismo profissional.
“O jornalismo profissional como um todo passa por crise, mas eu acredito que o jornalismo local é o mais prejudicado com isso. É preciso reinventar de alguma forma os modelos de negócio das organizações jornalísticas para que elas consigam se sustentar, sem comprometer o que têm de mais precioso: a credibilidade”, frisou o jornalista.
HÁ 229 SITES DE FACTCHECKING NO MUNDO
Em 2003, Brooks Jackson fundou o primeiro site independente de fact-checking do mundo. Com a ajuda da Universidade da Pensilvânia e do AnnebergPublicPolicy Center, inaugurou o FactCheck.org. Naquela época, Bush, o filho, tentava a reeleição nos Estados Unidos (EUA).
Hoje, de acordo com Jorge Martins, com base no projeto Duke University nos EUA, chamado Reporter’sLab, há pelo menos 299 sites de fact-checking ativos, por todo o planeta.
Além do Brasil – com dez sites checados pelo Reporter’sLab -, há jornalistas conferindo na Argentina (Chequeado.com), no Chile (Fake News Report), na França (The Highlighters), e até em países com regime duro como o Irã (The Book ofFacts e Rouhani Meter).
“Eu me inspirei bastante na metodologia adotada pelas agências Lupa e Aos Fatos, que estão entre as maiores do país. As duas são certificadas pela IFCN (InternationalFactChecking Network)”, disse Jorge.
O “boom” de fact-checking tem a ver com a era da informação. “Mentira é uma coisa tão antiga quanto a humanidade, mas agora isso ganhou uma dimensão sem precedentes por causa do alcance e da rapidez com que essas informações se espalham pelas redes digitais. Com isso em mente, eu percebi que não conhecia nenhuma agência ou outro tipo de iniciativa totalmente voltada para a checagem de fatos aqui no Maranhão. Daí surgiu essa ideia que eu submeti como projeto de pesquisa no Mestrado Profissional em Comunicação, da Ufma”, informou Jorge, ao citar o fenômeno das redes sociais, onde a maior parte dos boatos se prolifera.
CHECADO
O projeto Sem Migué está hospedado no site da Ufma, e pode ser acessado pelo link https://bit.ly/SemMigueSLZ. Até essa segunda-feira (28), havia quatro publicações no site. Nele, a postagem mais recente (feita no sábado, 26) é sobre um tuite do candidato a prefeito Eduardo Braide, no Twitter, no dia 18 deste mês. O candidato teria escrito que “a Prefeitura de São Luís exige das escolas comunitárias 22 documentos para que recebam repasses do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb), enquanto em outras capitais são exigidos apenas seis”.
De acordo com o que foi checado pelo Sem Migué, o número de documentos exigidos pela Prefeitura de São Luís é próximo do apresentado pelo candidato Braide. Segundo o Sem Migué, com base no último edital de convocação publicado no Diário Oficial do Município, no dia 21 de janeiro de 2020, são exigidos 24 documentos das escolas comunitárias.