Diversificação dos negócios para a oferta de produtos e serviços, aproveitando o mesmo espaço ocupado pela atividade original e valendo-se da tecnologia digital. Esta, talvez, seja uma das alternativas que não tenha sido colocada em pauta por todas as 44 bancas de revistas e jornais de São Luís, durante o confinamento forçado pela pandemia de Covid-19, na busca de estratégias que permitiriam superar a crise do novo coronavírus.
A Associação dos Jornaleiros do Maranhão informou que, neste ponto, cada empreendimento adotou seu próprio artifício para sobreviver. Hoje, na capital maranhense, quase a metade das bancas de jornais e revistas, que estavam abertas antes da pandemia, ainda permanece fechada.
De acordo com a associação, já houve em São Luís cerca de 100 bancas de revistas e jornais espalhadas pela cidade. Sete meses atrás – antes do dia 21 de março, quando o governo do Maranhão fechou o comércio – haviam 44 estabelecimentos funcionando. Atualmente, são apenas 24.
Há possíveis diversos fatores para a retração do setor. Um deles é que bancas de jornais e revistas são um segmento atingido em cheio pela migração da leitura para os meios digitais (segundo pesquisa do jornal Valor Econômico de 2019, 77% dos brasileiros leem notícias pelo celular).
“A crise econômica, que ameaça o jornaleiro, também vem como consequência do processo tecnológico”, destacou a presidente da Associação dos Jornaleiros do Maranhão, Josenira Rosa Santos da Luz.
No Brasil, de 2014 a 2019, a circulação das edições impressas dos dez maiores jornais brasileiros, monitorada pelo Instituto Verificador de Circulação (IVC), caiu pela metade, ao passo que a venda das assinaturas digitais quase dobrou. E a saída dos jornaleiros para sobreviver ao fenômeno – que atinge também as revistas – tem sido agregar novos produtos ao negócio.
“Foi utilizado bastante o WhatsApp para nos comunicarmos com alguns clientes, entre nós mesmos, e fornecedores”, informou Josenira, que não soube dizer se, do diversificado portfólio de produtos que pode ser encontrado nas estruturas físicas das bancas de revistas e jornais, durante o isolamento social, os itens tenham sido comercializados sobretudo via internet, por meio de aplicativo de delivery, como muitos outros segmentos comerciais fizeram.
“A banca não vive mais apenas de jornais e revistas. Mas, cada jornaleiro montou seu próprio jeito de venda, durante a quarentena”, disse Josenira.
SEM REVISTAS NAS PRATELEIRAS
A Associação dos Jornaleiros do Maranhão informou que, durante o isolamento social, em São Luís, distribuidoras nacionais interromperam a entrega de revistas.
“Ficamos sem revistas, digo, sem os lançamentos, mantendo nas prateleiras apenas as usadas, e as que já tínhamos antes do fechamento do comércio. O produto ainda mais vendido nas bancas são as revistas, então fomos bastante prejudicados. Com revistas, conseguiríamos nos manter, pois há um público fiel, que vai não somente para ler a revista, mas, também, para ter conosco um ‘bate-papo’”, informou Josenira.
Acessórios para telefone móvel, bijuterias, brinquedos e bombons compõem o leque de produtos que, segundo Josenira, dividem com as publicações impressas os espaços das bancas. Já sobre as revistas, uma das possibilidades para que as distribuidoras deixassem de fazer entregas de revistas na capital maranhense, segundo os jornaleiros, é que a logística das distribuidoras, que já não era vantajosa, uma vez que há poucos pontos de venda em São Luís, se tornou menos ainda durante a quarentena.
DILEMA DAS BANCAS EM ESPAÇOS PÚBLICOS
Na quinta-feira (15), duas bancas de revistas e jornais foram remanejadas da Avenida Miécio Jorge, no bairro do Renascença 2, para um espaço provisório, no mesmo bairro, mas entre o Monumental Shopping e McDonalds, na Avenida Colares Moreira. A realocação seguiu uma determinação do Ministério Público, por meio da Promotoria de Meio Ambiente e Urbanismo, que tem à frente o promotor Fernando Barreto.
No dia em que ela aconteceu, os jornaleiros não aceitavam sair da Miécio Jorge, e acionaram a Defensoria Pública do Estado (DPE). Ocorre que houve a mudança de endereço, mas, uma articulação provocada pelo defensor público Jean Carlos Nunes, que coordena o Núcleo de Direitos Humanos da DPE, com a Vara de Direitos Difusos e Coletivos, a Secretaria Municipal de Trânsito e Transporte (SMTT), a Blitz Urbana, e a promotoria de Urbanismo, além dos donos das bancas, resultou que as instalações definitivas das duas bancas seria o estacionamento em frente ao Tropical Shopping, também no Renascença 2.
A fim de continuar articulando com as devidas autoridades para que aquilo que ficou acertado na quinta-feira seja cumprido, nessa terça-feira (20), a Associação dos Jornaleiros do Maranhão e proprietários de bancas estiveram reunidos com Jean Carlos, na sede da Defensoria Pública.
Durante a reunião, donos de estabelecimentos localizados em outros pontos da cidade também participaram e se manifestaram. Um deles é José de Ribamar, que disse ter trabalhado por 40 anos na Praça Deodoro, até o início da obra no logradouro, em 2017, quando todas as cinco bancas de revistas e jornais foram retiradas do espaço.
“Fomos remanejados para a Avenida Silva Maia. Das cinco estruturas, só restam duas, uma delas é a minha”, disse José de Ribamar. Outra reunião deve ocorrer após a associação apresentar ao defensor público Jean Carlos, um mapa com o endereço de cada uma das 24 bancas de jornais e revistas.
Além disso, Jean pediu que a categoria leve à DPE experiências positivas de bancas de jornais e revistas em outras cidades brasileiras, que justificariam suas permanências em espaços do poder público, tendo em vista a viabilidade econômica. A associação pediu um mês para preparar o material.
“A ideia da confecção de um projeto pela associação, que contempla a qualidade do atendimento e com serviços culturais agregados, torna nosso interesse pela permanência das bancas em locais público mais viável. E é interessante um levantamento de histórico e relato do que já é feito hoje por bancas de jornais e revistas, com atividades agregadas (como o atendimento ao turista)”, informou Jean, aos jornaleiros.
DPE consegue liminar que garante mudança
definitiva de bancas para frente de shopping
Em resposta à ação judicial protocolada pela Defensoria Pública do Estado (DPE/MA), na última sexta-feira (16), a Vara de Interesses Difusos e Coletivos de São Luís deferiu o pedido, liminarmente, determinando o Município de São Luís a proceder o remanejamento definitivo das bancas para o estacionamento em frente ao Tropical Shopping, adotando as medidas cabíveis relacionadas a construção das bases de concreto para fixação dos estabelecimentos e das devidas instalações elétricas.
A liminar foi um dos assuntos em pauta durante reunião ocorrida, nessa terça-feira (20), na sede da DPE, entre o defensor público Jean Nunes, titular do Núcleo de Direitos Humanos (NDH), e representantes de donos de bancas de revistas de São Luís, na intenção de ampliar a atuação da instituição em favor de profissionais que vivem desse tipo de renda na capital, resguardando direitos em caso de possíveis remoções.
CONCILIAÇÃO
Conforme despacho do juiz titular da Vara, Douglas de Melo Cunha, foi determinado, ainda, a adoção, por parte do Município de São Luís, de medidas indispensáveis para a reparação dos danos estruturais que foram causados pela operação de retirada das bancas do Renascença, ocorrida no dia 15 de outubro.
O magistrado definiu para o próximo dia 27, às 9h, a realização de audiência de conciliação, por videoconferência. O Município de São Luís tem o prazo de 72 horas para se manifestar sobre o pedido de tutela de urgência.