Tesouro Direto fica no azul em novembro; saiba quais são as perspectivas

A alta dos índices que acompanham a variação de preços tem motivado a busca por títulos do Tesouro com retorno calculado pela inflação

Fonte: Bianca Alvarenga para Exame

Assim como a bolsa de valores e a maioria das aplicações financeiras de renda fixa, as negociações do Tesouro Direto tiveram um bom desempenho em novembro. Dos 28 títulos públicos disponíveis no mercado, apenas dois registraram desvalorização no mês. Depois de dois meses de alta volatilidade, inclusive entre os títulos mais conservadores, os investidores do Tesouro Direto puderam respirar mais aliviados.

A grande novidade do mês foi o crescimento da demanda por títulos atrelados à inflação. Os títulos IPCA+, especialmente os de vencimento longo, estavam sendo solapados desde o início da pandemia do coronavírus, em razão da queda da taxa básica de juros e das expectativas de inflação. Mas agora, com um repique na correção dos preços, esses títulos voltaram a ter variação positiva no mercado secundário.

“Houve, sim, uma melhora de expectativas para a economia no curto prazo, mas a procura maior por esses papéis também reflete uma tentativa do investidor de se proteger da inflação. O IPCA está subindo, e a diferença da inflação para a taxa básica de juros só tem crescido”, diz Alan Ghani, especialista em renda fixa da EXAME Research.

O IPCA+ com vencimento em 2045, por exemplo, subiu 2,29% em novembro, mas ainda acumula perdas de mais de 10% desde janeiro. Veja abaixo o rendimento dos títulos do Tesouro Direto em novembro:

Título Variação em novembro (em %) Variação no ano (em %) Variação em 12 meses (em %)
Tesouro IGPM+ 2031 com juros semestrais 3,21 22,09 24,32
Tesouro IGPM+ 2021 com juros semestrais 3,06 24,04 26,67
Tesouro IPCA+ 2045 2,29 -10,83 -11,11
Tesouro IPCA+ 2035 1,80 -4,16 -3,91
Tesouro IPCA+ 2030 com juros semestrais 1,50
Tesouro IPCA+ 2035 com juros semestrais 1,47 -0,02 0,59
Tesouro IPCA+ 2024 1,13 6,26 7,45
Tesouro IPCA+ 2026 1,12
Tesouro IPCA+ 2024 com juros semestrais 1,10 6,18 7,36
Tesouro IPCA+ 2026 com juros semestrais 1,09 4,96 6,18
Tesouro IPCA+ 2045 com juros semestrais 0,97 -4,69 -3,00
Tesouro IPCA+ 2055 com juros semestrais 0,95
Tesouro IPCA+ 2050 com juros semestrais 0,81 -6,26 -4,23
Tesouro IPCA+ 2040 com juros semestrais 0,73
Tesouro Prefixado 2025 0,39 3,68 4,13
Tesouro Prefixado 2022 0,37 6,89 7,35
Tesouro Prefixado 2023 0,36 6,55 7,05
Tesouro Prefixado 2023 com juros semestrais 0,29 6,33 6,78
Tesouro Prefixado 2026 0,28
Tesouro Prefixado 2025 com juros semestrais 0,25 5,13 5,66
Tesouro Prefixado 2027 com juros semestrais 0,21 3,31 3,98
Tesouro Selic 2021 0,15 2,57 2,96
Tesouro Prefixado 2021 0,14 4,33 4,83
Tesouro Prefixado 2021 com juros semestrais 0,13 4,26 4,71
Tesouro Selic 2023 0,11 2,25 2,63
Tesouro Prefixado 2029 com juros semestrais 0,10 1,94 2,97
Tesouro Selic 2025 -0,01 1,69 2,08
Tesouro Prefixado 2031 com juros semestrais -0,63

Tesouro IGPM+ e IPCA+

A expectativa dos economistas é que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), indicador que acompanha o custo de vida dos brasileiros e que serve de referência para a rentabilidade de parte dos títulos do Tesouro, encerre 2020 perto de 3,5%. “As pessoas estão sentindo na pele o efeito da inflação. Hoje quem vai ao supermercado ou compra menos ou gasta mais para comprar os mesmos produtos de antes. Isso tem estimulado a busca por proteção. “, afirma Guilherme Artmann, chefe de renda fixa da corretora Easynvest.

Ele explica que, com uma taxa básica de juros em 2% ao ano, as aplicações corrigidas pela Selic ou pelo CDI perdem atratividade. Os juros, no patamar em que estão, não são suficientes para cobrir a inflação, o que cria o chamado juro real negativo. Para proteger-se desse cenário, investidores têm buscado os títulos do Tesouro atrelados aos índices inflacionários.

“Se o investidor aplica em LFT (Tesouro Selic), ele está, na prática, perdendo de 1,5% a 2% ao ano para inflação. Então ele acaba indo para NTN-B (Tesouro IPCA), que tem títulos pagando até o IPCA + 4% ao ano”, conta Artmann.

As aplicações atreladas ao Índice Geral de Preços ao Mercado (IGP-M) tiveram alta ainda mais intensa desde o início do ano. A valorização desses títulos no mercado secundário se deve à própria variação do IGP-M, que acumula crescimento de quase 22% no ano. A questão é que os títulos IGP-M+ têm baixa liquidez, pois não são mais emitidos pelo Tesouro. Ou seja: é muito difícil encontrá-los nas plataformas das corretoras.

Tesouro Prefixado

Os títulos públicos prefixados viveram dias de glória no início da pandemia, quando o Banco Central começou a derrubar a taxa Selic, em uma tentativa de estimular a economia. Como não se sabia quanto tempo a crise econômica duraria nem qual dose de estímulo monetário adicional seria necessária, os investidores começaram a ver vantagens nas taxas pré-contratadas. Agora, com a projeção de alta na taxa básica de juros ainda em 2021, a janela de oportunidade dos títulos prefixados parece ter se fechado.

O título prefixado do Tesouro com vencimento em 2031, por exemplo, registrou o pior desempenho do mês, com perda de 0,63%.

Tesouro Selic

Nos últimos meses, esses títulos, muito usados na composição da reserva de emergência, deram um susto nos investidores mais conservadores. Em setembro, o Tesouro Selic registrou desempenho negativo, algo que não acontecia desde 2002. A tímida recuperação das cotações desses títulos em outubro e novembro não foi suficiente para recuperar o tombo de setembro. “Digamos que o Tesouro Selic recuperou metade do que perdeu e agora parece ter estabilizado”, analisa Artmann, da Easynvest.

O padrão desses títulos é o de variar pouco (tanto para cima quanto para baixo), o que indica que o mercado está de volta a alguma normalidade.

Por que os títulos do Tesouro Direto variam?
Os títulos do Tesouro Direto são emitidos pelo Tesouro Nacional e servem para custear a dívida pública federal. Os títulos possuem datas de vencimento diversas e seguem diferentes índices para calcular a rentabilidade anual. O investidor que possui um desses títulos em carteira e decide vendê-lo antes do prazo de vencimento estará, na verdade, negociando-o no mercado secundário, já que não é possível resgatar as aplicações no Tesouro Direto de forma antecipada. A cotação dos títulos no mercado secundário é chamada de marcação a mercado.

A marcação a mercado é o que define o preço de um título do Tesouro Direto no momento de compra e venda. Dependendo das condições econômicas e do cenário de inflação e juros, essa cotação pode variar para cima ou para baixo. Por isso, é possível que um investidor tenha lucro ou prejuízo ao revender os títulos do Tesouro Direto. É possível dizer, portanto, que essas aplicações são de renda fixa, mas apresentam volatilidade no mercado secundário.

No entanto, o investidor que decidir carregar o título do Tesouro até a sua data de vencimento não terá perdas, pois receberá o retorno previamente acordado, de acordo com a taxa de correção da aplicação.

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