A atual crise nacional de saúde valoriza ainda mais a alimentação saudável e faz subir o prestígio dos produtos locais e orgânicos. Neste período de pandemia, agricultores maranhenses disseram ao Jornal Pequeno do crescimento na demanda e produção de alimentos verdes, como folhas, entre elas coentro, alface, couve. Mesmo durante o isolamento social, os produtores afirmam que permaneceram amparados por programas voltados ao agronegócio, como o Agroamigo, do Banco do Nordeste (BNB), que atua nessa faixa, e já conta com 46 mil clientes no Maranhão.
Cleusilene Oliveira da Silva Dias, de 34 anos, trabalha com seus pais e sobrinhos na Chácara Beira Rio (Balsas-MA), de propriedade da família, na produção de alimentos verdes, popularmente chamados de verduras. A agricultora informou que uma parte da produção é distribuída em cinco restaurantes, e outra em três supermercados, e que nenhum desses empreendimentos suspendeu a compra durante o isolamento social.
“Aumentamos a nossa produção neste ano subiu em 20%, em relação ao mesmo período de 2019; e, a comercialização continuou, inclusive nas feiras populares da cidade, mesmo durante o pico da pandemia, com todos os cuidados de higienização sendo atendidos”, destacou Cleusilene.
A produtora informou que as entregas são feitas de carro por iniciativa própria de sua família. Em um cenário de crise para diversos setores, o plantio e a venda de alimentos livres de agrotóxicos tiveram seu valor reconhecido. Para a moradora de Balsas, o aumento no consumo de orgânico na cidade se deu por diversos fatores: famílias em casa e mais preocupadas com a saúde. “É a valorização dos produtos que saem da roça direto para a cozinha de restaurantes ou para a venda em supermercados”, detalhou Cleusilene.
TRABALHADORES RURAIS
SÃO ESSENCIAIS
Em Paraibano, o jovem Cássio de Sousa Silva, de 22 anos, disse que trabalha desde os dez anos no plantio de verduras, a agricultura é a principal fonte de renda de sua família. Para Cássio, a pandemia de coronavírus trouxe um tipo incomum de reconhecimento: mão de obra agrícola considerada como “essencial” para o Maranhão. “Minha família sempre foi referência no cultivo de produtos orgânicos. Praticamente tudo que produzimos vendemos para supermercados e restaurantes, tanto de Paraibano quanto da cidade vizinha de Pastos Bons. Há quem valorizou mais os alimentos sem agrotóxicos, a partir da pandemia de Covid-19”, destacou Cássio.
“Horta São Francisco”. É assim que se chama o negócio da família de Cássio. “Não temos empresa registrada, mas a nossa cadeia produtiva e de comercialização é conhecida na cidade como Horta São Francisco. Somos referência em Paraibano”, finalizou o jovem, ao atribuir o sucesso da atuação de sua família na atividade agricultura familiar ao programa Agroamigo: “Somos clientes do BNB há dez anos. Logo, ter tido este amparo financeiro foi fundamental”, concluiu Cássio.
Cleusilene Oliveira, que também é beneficiada pelo microcrédito disse também reconhecer a importância do crédito. “O Agroamigo é uma grande ajuda”, declarou Cleusilene.
A mãe de Cleusilene, Helena Oliveira, que é a responsável pela Chácara Beira Rio, informou que tem o apoio desse programa do BNB há mais de sete anos. ‘Dona’ Helena contou que com o crédito já conseguiu ampliar a área de cultivo, organizar a comercialização, adquirir máquinas e equipamentos, e transformar a vida da família.
“Antes, eu tinha só canteiros pequenos, que eu molhava com baldes. Com a ajuda do Agroamigo, eu consegui investir e tenho minha irrigação automatizada, com motor. Já ampliei a minha área de plantação. Inclusive, construí minha casa com os lucros da roça”, compartilhou Helena.
AGROAMIGO
Com 18 anos de carreira no Banco do Nordeste, o atual superintendente estadual do BNB no Maranhão, o baiano Danivan Borges Lacerda, durante entrevista, disse ao JP que coleciona milhares de histórias de transformação em empreendimentos rurais alcançados com a ajuda de financiamentos acompanhados e orientados. O Agroamigo, que é um microcrédito de valor máximo financiado de R$ 20 mil, existe desde 2005. O programa atende quem desenvolve atividades geradoras de renda no campo ou em aglomerado urbano próximo, sejam agrícolas, pecuárias ou outras atividades não agropecuárias no meio rural, como turismo, agroindústria, pesca, artesanato e serviços.
De acordo com Danivan, a taxa de inadimplência do programa é de apenas 5%. O percentual demonstra que vale a máxima que diz que os pequenos produtores são bons pagadores. O público alvo brasileiro do Agroamigo fez também, segundo o superintendente estadual, que o programa esteja entre os três principais na linha de atuação, no mundo; outros dois países neste ranking são China e México.
Danivan informou que o BNB além de liberar dinheiro – aprovado mediante a apresentação de documentos – realiza assessoria financeira e faz consultoria de mercado aos seus clientes trabalhadores rurais. “Tanto na parte antecedente ao crédito, quanto durante e fase posterior à liberação do dinheiro, prestamos o serviço de orientação e assistência técnica”, frisou Danivan.
O superintendente estadual informou que o banco atua nas 217 cidades do Maranhão. Em outrora, a demanda para o Agroamigo era quase que exclusivamente espontânea, ou seja, o agricultor procurava o BNB. Atualmente, há a atuação de agentes de crédito, colaboradores do Banco do Nordeste que acessam até aos municípios longínquos ou de difícil acesso.
Danivan informou que o acesso a qualquer região do território maranhense, feito pelos agentes de crédito, faz parte de uma metodologia, que ajuda quem não tem condições de se fazer presente em uma das 29 agências do BNB espalhadas por todo o estado.
“Por meio da atuação dos agentes de crédito, estamos levando recursos para mais perto dos agricultores maranhenses, potencializando sua capacidade produtiva e auxiliando na melhor aplicação dos valores financiados, a fim de gerar rentabilidade e significativa melhoria na qualidade de vida. Somente este ano, aumentamos em 20% a quantidade de operações contratadas, com crédito subsidiado, o que amplia as condições de lucratividade, transformando a realidade de milhares de produtores rurais no Maranhão”, destacou Danivan.
Conforme o superintendente estadual, há ainda os “agentes de desenvolvimento”, que articulam parcerias locais para que as aplicações do Agroamigo alcancem números e objetivos da política pública do Banco do Nordeste, para que se chegue ao máximo de famílias beneficiadas.
Números
De janeiro a outubro de 2020, aproximadamente 46 mil famílias maranhenses de produtores rurais foram assistidas pelo Banco do Nordeste. No mesmo período de 2019, o número é de 39 mil famílias. Também neste ano, agricultores familiares tiveram aumento de 23% no volume de recursos recebidos por meio dele. Já foram financiadas mais de 47,5 mil operações de crédito, superando R$ 246 milhões aplicados.
“Os números são muito bons, a quantidade de pessoas atendidas este ano pelo Banco do Nordeste, dentro do segmento agricultura familiar, deve se aproximar a algo em torno de 60 mil famílias”, destacou Danivan.
Desde sua criação, em 2005, o programa já investiu, R$ 19,5 bilhões, abrangendo mais de 5,5 milhões de operações. O programa mantém 1,3 milhão de clientes ativos e volume de recursos ativo de R$ 4,8 bilhões.