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Onde investir em 2021: conheça as principais apostas

A chegada das vacinas, a recuperação da economia e a alta nos juros são fatores que devem mexer com o retorno dos investimentos no novo ano

Fonte: Bianca Alvarenga

Novo ano, novos investimentos. A esperada chegada da vacina contra o coronavírus, a possível recuperação da economia e a provável alta dos juros vão mexer com o retorno das aplicações financeiras em 2021. A combinação de fatores cria um cenário bastante imprevisível, mas as expectativas ainda são as de uma melhora progressiva.

“Por mais que tenhamos alguns bons indicadores sinalizando uma tendência de recuperação da economia global, também temos outros indicando que os casos de coronavírus voltaram a uma trajetória ascendente, sendo este o principal fator de risco e incerteza para quase todas as classes de ativos — pelo menos enquanto não tivermos uma vacina disponível para a população”, escreveu em relatório Gabriel Casonato, analista de investimentos do BTG Pactual digital.

Para navegar durante a turbulência esperada para o início do ano e para surfar a onda da possível recuperação, o investidor deve se preparar.

Renda fixa
É consenso entre os economistas que os juros básicos não vão permanecer na casa dos 2% por muito tempo. A inflação subiu além do esperado nos últimos meses, e as incertezas com as contas do governo federal continuam. A combinação dos dois fatores aponta para a necessidade de um aperto na política monetária. Já há quem veja a taxa Selic em 4,5% ou 5% no final de 2021, embora não seja ainda a visão predominante no mercado — a medida do último boletim Focus aponta a Selic em 3,13% daqui a um ano.

“Por mais que os nossos juros possam voltar a subir ainda continuaremos muito distantes daquela era de ouro para a renda fixa no Brasil. O investidor que almeja uma rentabilidade expressiva em seus investimentos terá necessariamente que sofisticar suas aplicações, pensando mais no longo prazo e montando uma carteira muito mais diversificada e balanceada”, avalia Casonato, do BTG.

A expectativa de alta dos juros jogou a última pá de cal nos ativos prefixados. A janela de oportunidade desses ativos, que foram bastante buscados no momento mais agudo da crise causada pela pandemia do novo coronavírus, ficou para trás. A partir de agora, é possível que a negociação dessas aplicações no mercado secundário seja bem menor, o que significa que é importante avaliar a possibilidade de zerar as posições.

“Estamos trabalhando com os limites mínimos em renda fixa prefixada, para neutralizar a volatilidade para as carteiras, em razão dos desafios à frente. Todavia, quando há incertezas, oportunidades podem surgir. Por isso os percentuais não foram zerados”, pondera Sandra Blanco, estrategista-chefe da corretora Órama.

Os títulos atrelados à inflação ganharam destaque recentemente e devem continuar assim em 2021. A rentabilidade dos títulos NTN-B do Tesouro Direto, por exemplo, tem voltado a subir, em razão de uma busca maior dos investidores. “Além da remuneração atrativa em termos reais, o título público Tesouro IPCA+ oferece proteção contra o aumento dos preços”, observa Odilon Costa, analista de renda fixa e crédito privado do BTG Pactual. Proteger-se da inflação em um cenário de incerteza é fundamental.

Guilherme Artmann, chefe de renda fixa da corretora Easynvest, aponta duas opções de NTN-B para o investidor avaliar. A primeira, o Tesouro IPCA+ com vencimento em 2026, é mais recomendada para as carteiras conservadoras, já que o prazo de vencimento é menor. Já o IPCA+ com vencimento em 2055 pode oferecer retornos adicionais de curto prazo. “Caso o risco caia ao longo do ano esses papéis devem ter taxas menores, gerando um ganho adicional”, explica Artmann.

Destaque: crédito privado

Mesmo com a possível alta de juros no horizonte, a demanda pela migração para ativos de maior risco continua sendo presente. Para buscar uma alternativa na renda fixa e um rendimento maior que o CDI, a principal aposta será em títulos de crédito privado.

“O investidor pode buscar os títulos incentivados, como debêntures, ou até os fundos de crédito privado. Muitos desses fundos, aliás, estão se movendo para melhorar a qualidade de seus ativos. Vemos fundos que estão comprando títulos de dívidas de empresas estrangeiras, ou até que estão colocando uma ‘pitada’ a mais de crédito estruturado”, analisa Nelson Muscari, coordenador de fundos da corretora Guide.

Ele alerta, no entanto, para a necessidade de avaliação de risco desses ativos, que podem apresentar mais volatilidade que as outras aplicações em renda fixa.

Renda variável
A escalada da bolsa de valores na reta final de 2020 fez muitas corretoras reavaliarem suas estimativas para o Ibovespa em 2021. A expectativa é que a recuperação da economia, estimulada pela chegada das vacinas, e o cenário de alta liquidez global darão um bom incentivo para a continuidade da valorização das ações.

“Estamos saindo de uma recessão causada pela covid-19 e temos muitas incertezas sobre o chamado ‘novo normal’. No entanto, talvez a única certeza é que teremos muito dinheiro na mesa. Influenciado pelas políticas monetárias e fiscais das principais economias do mundo, o excesso de liquidez no mercado cria um cenário positivo para economias emergentes, como o Brasil”, pontua Filipe Villegas, estrategista da corretora Genial Investimentos.

Tudo ainda dependerá do empenho do governo brasileiro em equilibrar os estímulos de retomada econômica com a necessidade de retomada da disciplina fiscal. O receio de um descontrole das despesas federais e de um eventual rompimento do teto de gastos ainda não está descartado pelo mercado. Mas a recuperação da bolsa no final de 2020 gerou esperanças de que a possibilidade de o Brasil surfar a onda ainda está viva.

“Se a bolsa chegar aos 120.000 pontos no começo do ano (encerrou aos 119.017 pontos), parece razoável contar com 140.000 pontos no final de 2021”, prevê Ronaldo Guimarães, diretor da área de gestão de patrimônio do banco digital modalmais. Ele destaca as ações dos bancos, de empresas de commodities, como Vale e JBS, e alguns papéis de serviços, que podem se beneficiar da retomada da economia, como Cyrela, Movida e EcoRodovias.

Vale ponderar, no entanto, que o possível surgimento de mutações da covid-19 e o atraso na distribuição de vacinas podem causar novos soluços nos setores de serviços e consumo, adiando a esperada retomada da bolsa.

Destaque: fundos multimercado

Os fundos multimercado com uma composição maior de renda variável são a bola da vez, principalmente para os investidores que precisam migrar parte da carteira de renda fixa. O destaque são os fundos que têm aumentado a exposição a ativos no exterior. Isso porque não dá para saber, ainda, se o Brasil vai conseguir se beneficiar de forma abrangente da retomada econômica global, mas é certo que as nações desenvolvidas devem registrar um bom crescimento em 2021.

“Temos visto um crescimento grande da plataforma de fundos com ativos estrangeiros, e a gama de produtos para o investidor pessoa física aumentou. Além de ter descorrelação com ativos brasileiros, protegendo o investidor dos riscos locais, a carteira pode ter uma nova fonte de retorno”, diz Muscari, da Guide.

Ele cita fundos com ações negociadas nas bolsas americanas, com títulos da dívida americana e fundos cambiais. Mas é importante ficar atento às projeções para o dólar. A moeda americana deve ceder aos poucos ao longo dos próximos meses, embora não haja expectativa de que o dólar caia para a casa dos 4 reais em 2021, patamar registrado no começo de 2020.

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