Mais uma área pública é alvo de invasores na Cidade Operária, em São Luís

Dois terrenos da Avenida Este estão ocupados por pessoas que dizem viver de aluguel.

Fonte: Luciene Vieira

Vizinho ao ecoponto existente na Avenida Este, Unidade 101, da Cidade Operária, em São Luís, um terreno público municipal foi ocupado na quarta-feira (6), por pelo menos 40 famílias. A poucos metros dali, outra área pública, também do Município, permanece invadida desde 2017, quando foi loteada para a instalação de casas de alvenaria, bares e borracharias.

Área pública está sendo demarcada por pessoas que dizem não ter casa própria nem condição de pagar aluguel (Foto: Gilson Ferreira)

Os dois casos são exemplos de um descontrole urbano, sendo o mais recente agravado, provavelmente, pela crise econômica da pandemia do coronavírus. A ocupação de quatro anos atrás ganhou na época o nome de “Residencial 12”, e fica entre um campo de futebol e uma creche pública.

Na verdade, é uma reocupação, pois houve várias desapropriações no local, feitas pela Prefeitura de São Luís, por meio da Blitz Urbana. O terreno supostamente receberia uma praça. A intervenção não aconteceu e, aos poucos, várias famílias removidas começaram a voltar e se fixaram de vez na área.

A ocupação mais recente, essa que começou a ser feita há dois dias, ainda não tem nome. Na segunda quinzena de dezembro de 2020, a área arborizada invadida, apesar de ficar em frente a um ecoponto, ainda era utilizada no descarte impróprio de resíduos.

Há alguns dias, o Comitê Gestor da Limpeza Urbana do Município limpou o espaço. Nessa quarta-feira, se deu início à invasão. Na manhã de ontem (7), segundo os ocupantes, 40 pedaços de terra, de cinco metros de largura e sete metros de comprimento, tiveram suas demarcações finalizadas.

Um dos espaços demarcados “pertence” ao Felipe Estra, de 28 anos, que disse trabalhar no serviço de delivery de uma lanchonete da Cidade Operária, no turno da noite.

Na invasão ocorrida em 2017 os imóveis são quase todos de tijolo e de dois pavimentos (Foto: Gilson Ferreira)

Casado, sua esposa grávida, e com um filho de quatro anos, Felipe contou ao Jornal Pequeno que ainda está em um imóvel alugado, mas já passa o dia no local invadido, como forma de garantir a propriedade.

“‘Foi uma explosão a ocupação. Assim que os boatos de pessoas ocupando este terreno chegaram até mim, eu, literalmente, corri e me assegurei de ter um pedaço da terra. Moro de aluguel há quatro anos. A vida de um entregador de lanche é apertada, quando paga aluguel, e se tem uma família para cuidar, é uma subvida”, declarou Felipe.

Enquanto Felipe disse estar cauteloso sobre uma possível operação de reordenamento, Brito, que aceitou se identificar apenas pelo seu primeiro nome, batia o martelo num prego que seguraria uma lona preta num pedaço de galho, dando forma ao seu casebre.

Brito disse que ainda ontem se instalaria de vez no terreno invadido. Ele é autônomo, trabalha na fabricação e conserto de cadeiras, tem 32 anos de idade, seis filhos, e mora com a sua família de aluguel há pelo menos dez anos.

Brito contou que a crise econômica da pandemia de Covid-19 afetou seus negócios, que nunca foram muito “prósperos”, mas que até antes de a doença se alastrar por São Luís, sua margem de lucro era melhor que a dos últimos dez meses.

“Invadir um terreno público foi uma questão, também, de sobrevivência. Eu estava morando na Vila Flamengo, região próxima da Cidade Operária”, frisou Brito.

RESIDENCIAL 12

Não sobrou nada deste espaço público, onde foi construído o Residencial 12. Nele, tudo está construído de alvenaria, para dificultar a demolição. As construções atuais contrariam o que os ocupantes diziam à época, que não tinham condições de pagar aluguel; muitos morando de favor na casa de parentes.

Hoje, a maioria dos imóveis é de dois pavimentos, com sacadas, portões grandes e até carros na garagem. Nessa quinta-feira, o JP conversou com Raimundo Carlos, de aparência entre 55 a 60 anos, que em 2018 comprou um imóvel construído na invasão.

“Naquele ano, eu e minha esposa saímos da nossa cidade Turiaçu. Ela estava doente e ficou na época internada no Hospital Clementino Moura (Socorrão 2). Eu precisava de um lugar para ficar. Comprei este pedaço de chão com quatro paredes levantadas. Dei ao lugar forma de casa. Hoje minha casa tem pavimento superior, e aqui na parte de baixo um simplório bar com mesa de sinuca, de onde tiro o sustento da minha família”, contou o Turiense.

Há quem diga pela vizinhança da antiga ocupação que a gestão urbana do lugar virou um grande negócio. “Sempre houve alguma influência, mas agora as ocupações são orquestradas pelo poder ‘paralelo’, que facilita a permanência dos loteamentos. Dizem, e eu creio nisso, que a invasão antiga só ficou por conta da interferência de um vereador”, contou uma moradora vizinha à invasão, que preferiu não informar seu nome.

OUTRO LADO

Por meio de nota, a Secretaria Municipal de Urbanismo e Habitação (Semurh) informou que enviará equipe técnica aos dois locais, para, em seguida, adotar as medidas legais. A Semurh comunicou, ainda, que reforçará as ações de fiscalização de espaços e logradouros públicos com o apoio dos outros órgãos do município, garantindo a preservação desses lugares para o uso adequado pelos moradores daquela região.

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