Em menos de 24 horas, sete pessoas de uma mesma família do distrito Nova Maracanã, na zona rural do município de Faro, no oeste do Pará, morreram com sintomas da Covid-19.
Três mulheres e quatro homens não resistiram muito tempo após sofrerem problemas respiratórios entre esta segunda-feira (18) e terça-feira (19). A Unidade Básica de Saúde (UBS) da comunidade onde eles foram atendidos não tinha cilindros de oxigênio para o atendimento das vítimas.
As duas últimas mortes, de dois homens, aconteceram na tarde desta terça-feira, pouco tempo após chegada de seis cilindros de oxigênio ao distrito.
De acordo com a última atualização do boletim sobre casos e mortes de Covid-19 na cidade, divulgado nas redes sociais da Secretaria Estadual de Saúde na tarde desta terça, há 161 casos positivos confirmados ativos e 100 sob investigação. Ainda segundo o informativo, 41 pacientes estão internados e 120 pessoas estão em isolamento domiciliar. O primeiro óbito em decorrência da Covid-19 foi registrado em dezembro: desde então, 7 pessoas morreram.
O sistema público de saúde do município entrou em colapso na segunda-feira por falta de oxigênio. Não havia, no hospital municipal de Faro, até então, cilindros reservas para enviar ao distrito de Nova Maracanã, onde a família estava internada.
As sete mortes na mesma família foram confirmadas no início da tarde desta terça-feira (19) pelo secretário municipal de Meio Ambiente de Faro, Arthur Brasil.
Carregamento de cilindros
Diante do aumento do número de casos suspeitos de Covid-19 em Faro, o prefeito Paulo Carvalho (PSD) fez um apelo às prefeituras de municípios vizinhos e também a empresários por cilindros de oxigênio. Ele conseguiu alguns emprestados, mas não o suficiente para atender a demanda de pacientes.
Na madrugada desta terça-feira o município recebeu 20 cilindros de oxigênio enviados pela Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa), que devem ser divididos entre a UBS Morumbi, na cidade, e UBS de Novo Maracanã, que funcionarão como centros de atendimento a pacientes infectados pelo novo coronavírus.
Dos 20 cilindros que chegaram na madrugada de hoje a Faro, apenas seis foram enviados para o distrito de Nova Maracanã. Como o município havia emprestado cilindros de outras cidades, precisou devolver, sendo 1 para Terra Santa (PA) e 2 para Nhamundá (AM). Os 11 restantes ficaram na UBS Morumbi, na zona urbana de Faro. O transporte dos cilindros de oxigênio para o distrito Nova Maracanã foi acompanhado pelo prefeito Paulo Carvalho.
Dificuldade para tratar pacientes
Segundo a secretária municipal de Saúde de Faro, Edilza Farias, o aumento no número de casos da Covid-19 e o fato de a cidade não dispor de estrutura de Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) deixam ainda mais difícil realizar o tratamento dos pacientes. “Esses pacientes precisariam ter que ser transferidos para Itaituba ou Juruti, que soubemos que ainda dispõe de leitos para receber pacientes graves”, disse.
Ainda de acordo com a secretária, um ofício foi enviado ao secretário regional de Governo no oeste do Pará, Henderson Pinto, e ele, acompanhado da diretora do 9º Centro Regional de Saúde (CRS) da Secretaria de Saúde Pública do Pará (Sespa), Aline Liberal, estiveram na comunidade Nova Maracanã.
O que diz o Governo do Estado
Em visita em Santarém, durante cerimônia de imunização da primeira pessoa contra a covid-19, o governador do Pará, Helder Barbalho (MDB), disse que é fundamental que as estruturas municipais sejam fortalecidas para atender a demanda de pacientes acometidos pela doença.
“Ao distrito de Nova Maracanã, a cidade de Faro deve garantir a oferta de oxigênio. O governo do estado não estará mais omisso, por isso o secretário regional de governo e a diretora regional da secretaria de saúde estiveram lá na segunda-feira para nos colocar à disposição. Fiz questão de estar próximo para reunir com todos os prefeitos de cidades que fazem fronteiras com o Amazonas, dialogando com as empresas que ofertam oxigênio, que atuam na distribuição de oxigênio”, esclareceu Helder.
O governador disse ainda que a prefeitura municipal precisa cumprir com a sua obrigação no sentido de contratar os serviços para salvar a vida da população. “Nós não podemos permitir que a população não tenha oxigênio ou não tenha atendimento em saúde por falta de gestão. Abrimos 10 leitos em Juruti que fica próximo à cidade, além de cinco leitos clínicos e estamos com o serviço aeromédico para remoção de pacientes”, ressaltou.
Segundo Helder, foi feito um pedido à Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) para que fosse autorizado o pouso de aeronaves em Faro para fazer a remoção dos pacientes e deslocá-los para o Hospital de Juruti, Hospital de Santarém ou para o Hospital Regional de Itaituba.
“Nesse momento a região está com 90 leitos de UTI disponibilizados pelo Governo do Estado, temos oferta de leitos, garantimos o acesso, agora esse diálogo é decisivo para que nós não assistamos um cenário dramático das pessoas perderem a vida por falta do serviço. Quero tranquilizar a população, portanto não vamos confundir falta de gestão, como se o produto tivesse escasso, está longe de acontecer isso”, reiterou o governador do Pará.