Como obter sucesso na produção de pastagem?

Entrevista com o professor da Universidade de São Paulo (USP) Sila Carneiro da Silva Professor titular na Universidade de São Paulo (USP). Suas áreas de interesses são: ecofisiologia de plantas forrageiras, ecologia do pastejo, manejo do pastejo e sistemas de produção animal em pastagens. Além de mestre em nutrição animal e pastagens pela Universidade de […]

Fonte: Scot Consultoria

Entrevista com o professor da Universidade de São Paulo (USP) Sila Carneiro da Silva

Professor titular na Universidade de São Paulo (USP). Suas áreas de interesses são: ecofisiologia de plantas forrageiras, ecologia do pastejo, manejo do pastejo e sistemas de produção animal em pastagens. Além de mestre em nutrição animal e pastagens pela Universidade de São Paulo, obteve seu título de doutor e pós-doutorado em pasture agronomy pela Massey University na Nova Zelândia. Silva publicou mais de 100 artigos em periódicos especializados, 165 trabalhos em anais de eventos, um livro e 43 capítulos de livros. É consultor de sete revistas científicas e orientou cerca de 100 estudantes, considerando trabalhos de iniciação científica, trabalhos de conclusão de curso, mestrados, doutorados e pós-doutorados.

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Atualmente, o prof. Dr. Sila Carneiro da Silva é professor titular na Universidade de São Paulo (USP). Suas áreas de interesses são: ecofisiologia de plantas forrageiras, ecologia do pastejo, manejo do pastejo e sistemas de produção animal em pastagens.

Além de mestre em nutrição animal e pastagens pela Universidade de São Paulo, obteve seu título de doutor e pós-doutorado em pasture agronomy pela Massey University na Nova Zelândia.

Silva publicou mais de 100 artigos em periódicos especializados, 165 trabalhos em anais de eventos, um livro e 43 capítulos de livros. É consultor de sete revistas científicas e orientou cerca de 100 estudantes, considerando trabalhos de iniciação científica, trabalhos de conclusão de curso, mestrados, doutorados e pós-doutorados.

Scot Consultoria: Na sua opinião, quais têm sido os principais descuidos por parte dos produtores que contribuem para a má qualidade do pasto?

Sila Carneiro da Silva: Por questões de tradição, infelizmente, o uso de corretivos e fertilizantes em pastagens ainda é considerado “custo” ao invés de necessidade para solução. Pastos mal nutridos e solos depauperados são a principal causa da perda de vigor das plantas e degradação das áreas de pastagens. O agricultor profissional é exemplo mundial disso, não admite fazer um plantio sem a devida implantação das práticas de conservação de solo, correção e ajuste da fertilidade, uso de sementes de qualidade e planejamento agrícola e de safra esmerado, com base em conhecimento técnico e monitoramento do processo produtivo. Essa lógica é a mesma para a produção animal em pasto, porém ainda pouca atenção é dada ao processo produtivo como deveria ser feito.

Outro ponto importante, é conhecer o ponto ideal de colheita do “capim”. Assim como qualquer outra cultura em agricultura, o pasto também tem ponto de colheita que não é determinado ou pode ser regulado pelo calendário juliano que utilizamos (dias, semanas, meses etc.). Apesar do volume de informações já disponibilizadas sobre o assunto no país, especialmente durante os últimos 20 anos, existe resistência de uso da tecnologia, porque assume-se que é muito trabalhoso ter que monitorar o pasto para identificar a hora certa de colocar ou retirar os animais do pasto relativamente a fixar um intervalo fixo entre pastejos.  Isso leva invariavelmente a situações de super ou sub-pastejo, condições que extrapolam a amplitude agronômica ótima de uso de qualquer planta forrageira. Assim, o mau manejo do pastejo associado a não reposição e ajuste de fertilidade do solo, gera a condição central responsável pela baixa produção e produtividade além da degradação de área significativa de pastagens no país.

Scot Consultoria: Em relação ao período de descanso da pastagem, como o produtor pode realizá-lo sem definir dias fixos de descanso, que poderiam aumentar a altura do pasto e prejudicar a qualidade da pastagem e o consumo dos animais?

Sila Carneiro da Silva: Isso pode ser feito utilizando-se as metas ou alvos de manejo como norteadores de todas as tomadas de decisão. A manutenção dos pastos dentro dos limites ou amplitudes agronômicas ótimas das metas permite que o ajuste em taxa de lotação (para cima ou para baixo), uso de adubação nitrogenada, irrigação e suplementos seja feito de forma coerente e condizente com o ritmo de crescimento da pastagem, consequência da qualidade do ambiente que ela possui para crescer.

Dessa forma, se houver restrição de fertilidade do solo, água ou luz (função de tipo de solo, política de reposição de nutrientes no solo, época do ano, uso de irrigação) a planta crescerá mais lentamente e isso implicará em mais tempo para que a planta se recuperar e estar pronta para novo pastejo, ou seja, o período de descanso será mais longo. Se essas restrições forem solucionadas ou não existirem, a velocidade de crescimento da planta é maior e o tempo de rebrotação (o período de descanso) será mais curto.

Mas a quantos dias isso corresponde? Como iremos saber quantos piquetes serão necessários? Essas são as perguntas mais comuns quando começamos a pensar no uso de metas ou alvos de manejo ao invés de intervalo fixo de descanso em dias. A resposta é que isso não é importante. O importante é colher a planta sempre no seu ponto de colheita adequado e, assim como em qualquer cultura agrícola, quanto melhor as condições de crescimento existentes, mais rápido a lavoura cresce e mais rápido ela completa seu ciclo. O pasto é a mesma coisa!

Mas como dimensionar a fazenda ou o módulo de pastejo rotativo então? Quantos piquetes são necessários? O que se faz é possuir em torno de 15 a 20 piquetes e o que varia, é o número de dias que os animais permanecem em cada um deles, ou seja, varia o período de ocupação. Com isso gera-se múltiplos de 15 ou 20 que irão dar uma variação, em período de descanso, grande o suficiente para contemplar qualquer situação de crescimento. O ajuste em taxa de lotação faz parte dessa equação, pois normalmente o tamanho dos piquetes é fixo e o período de ocupação variável, o que faz o período de descanso ser variável, de conformidade com o ritmo de crescimento do pasto.

É preciso mudar o referencial para controle do processo de pastejo. O ponto de colheita da planta não é em função do número de dias que a planta cresce, mas sim da área foliar que ela possui no momento da colheita. Se ela está crescendo rapidamente, fará mais área foliar por dia e atingirá o ponto de colheita com menos dias de descanso. Se ela está crescendo mais devagar, o inverso ocorre. O que é que não muda? O ponto ideal de colheita que, no caso do pastejo rotativo, é a altura de entrada dos animais no pasto. A altura de saída será sempre a metade da altura ideal de entrada.

Scot Consultoria: Entre plantas daninhas e solo com baixa fertilidade, qual é mais limitante levando-se em conta a lotação animal?

Sila Carneiro da Silva: Com relação à importância de ocorrência de plantas daninhas e baixa fertilidade do solo sobre a taxa de lotação, é importante esclarecer que a ocorrência de plantas daninhas em pastagens começa quando a planta forrageira tem sua velocidade de crescimento e vigor extremamente reduzidos, condição em que começa a perder sua vantagem competitiva com as invasoras. Isso acontece quando a fertilidade do solo vai sendo reduzida e é potencializada pelo mal manejo, especialmente o super pastejo.

Dessa forma, não existe uma causa mais importante que outra, pois a ocorrência de plantas daninhas é consequência da baixa fertilidade e perda do vigor e velocidade de crescimento da planta forrageira no pasto. Não é por acaso que práticas e estratégias de recuperação de pastagens em degradação são baseadas na redução drástica da taxa de lotação existente e reposição de nutrientes no solo.

Scot Consultoria: Sabemos que a interação planta-animal-meio ambiente é extremamente complexa quando tratamos de produção animal a pasto. Na sua opinião, qual o maior desafio para atingir o equilíbrio e maximizar a produtividade nesse sistema produtivo?

Sila Carneiro da Silva: O maior desafio, com base no que existe hoje de conhecimento sobre o assunto, é colocar em uso esse conhecimento. Reconhecer que a pecuária profissional precisa usar a tecnologia para ser produtiva, competitiva e sustentável. Tecnologia não é sinônimo de custos com compra de insumos, máquinas e equipamentos. É também uso de informação, como as metas ou alvos de manejo para controle do processo de produção e colheita da forragem de forma consistente com a qualidade do ambiente disponível para a pastagem no local onde se encontra. Se isso for feito, está assegurado o respeito aos limites de tolerância e resistência da planta ao pastejo. Se isso acontece, ela estará sempre vigorosa, não permitindo oportunidade de acesso a invasoras e ocorrência de solo descoberto. A forragem produzida será sempre de bom valor nutritivo. Se a quantidade sendo produzida, contudo, estiver baixa, ai a questão é detectar a origem do problema e partir para a solução, que pode ser aumento da fertilidade de base do solo, adubação com nitrogênio, irrigação e suplementação animal.

O que precisa ficar claro é que para que exista produção animal em pasto é preciso que haja pasto, em primeiro lugar. Dessa forma, em um primeiro momento, o casamento planta-meio ambiente precisa ser robusto e, nessa condição, o animal que faz o pastejo é somente mais um agente desfolhador do pasto como são as lagartas, por exemplo. Nesse primeiro nível de complexidade, o que importa é que a planta, nesse ambiente caracterizado pela constante e frequente desfolhação, esteja em equilíbrio e capaz de se manter perene e produtiva na área, ou seja, que sua amplitude ótima de manejo seja respeitada. Se essa premissa for realizada, ai ganha destaque o animal e sua produção. Esse é o racional e a ordem hierárquica de planejamento e tomada de decisão em sistemas eficientes, produtivos e sustentáveis de produção animal em pasto.

Scot Consultoria: prof. Sila, como o senhor observa o cenário atual das pastagens no Brasil e quais são os principais desafios que o setor tem pela frente para avançar em produtividade na sua opinião? Como o senhor enxerga a utilização de sistemas lavoura-pecuária para os próximos anos, visando o incremento da produtividade brasileira?

Sila Carneiro da Silva: Vejo com otimismo! Construímos ao longo dos últimos 20 anos uma base de conhecimento compatível com aquela existente em países de clima temperado, considerados desenvolvidos e líderes em termos de produção animal em pasto. Ou seja, temos as ferramentas para aumentar a produtividade de nossas áreas de pastagens, produzindo mais com menos área, liberando áreas para outros usos agrícolas e reduzindo a pressão sobre o desmatamento. Existem evidências de que o bom manejo, além de aumentar a produção e a produtividade animal, diminui a intensidade de emissão de gases causadores do efeito estufa, o que é uma grande vantagem competitiva para a produção animal nos trópicos. O grande desafio é colocar em uso esse conhecimento! Para isso ações de divulgação e extensão rural, bem feitas, seriam muito bem vindas.

Nesse contexto, o uso de sistemas integrados de produção (lavoura-pecuária e lavoura-pecuária-floresta) possuem uma importância estratégica muito grande, pois seriam uma forma de propiciar a recuperação de uma área grande de pastagens e devolvê-las ao processo produtivo, contribuindo para a produção de alimentos, segurança alimentar e a economia do país.

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