O culto da beleza e a busca do corpo atlético e “bombado” e da melhor performance atlética na adolescência esbarram no risco eminente do surgimento de comportamentos que podem levar ao uso indevido de esteroides androgênios anabolizantes (EAA). Os meninos parecem ser as maiores vítimas.
Dessa forma, a grande preocupação com o uso de EAA ultrapassou a barreira do “doping” entre atletas praticantes de esportes profissionais e olímpicos para fazer parte da rotina que envolve a orientação e educação do adolescente e suas famílias.
Para piorar, a ampla facilidade de venda desses produtos de maneira ilícita, via redes sociais, farmácias ou nas próprias academias de ginástica por indivíduos sem conhecimento nessa área, vem disseminando de maneira geométrica o uso desses compostos. No entanto, pouco se repercute sobre esse assunto que pode levar a consequências graves na vida desses jovens.
Os esteroides são componentes presentes em todos os animais e são produzidos a partir da gordura (colesterol) produzida no corpo. Já os EAA são hormônios naturais ou produzidos sinteticamente, que levam ao crescimento das células, afetando principalmente o músculo e o osso. Os EAA são substâncias que são parecidas com a testosterona, que, por sua vez, é um hormônio essencial, normalmente produzido em grande maioria pelos testículos nos meninos.
A testosterona pode ser utilizada apenas em doenças que resultem na ausência da produção desse hormônio pelos testículos, condição chamada de hipogonadismo. A prescrição da testosterona deve ser orientada pelo médico endocrinologista/urologista, mas não está isenta de efeitos colaterais. Por isso, o seguimento próximo e apurado dos pacientes portadores de hipogonadismo deve ser realizado por toda a vida.
Os principais efeitos relacionados ao uso indevido dos EAA:
1- Aumento do colesterol ruim e diminuição do bom colesterol no sangue: permite o surgimento de placas de gordura nas artérias e veias do corpo, levando à aterosclerose, que, por sua vez, aumenta o risco de derrame cerebral ou infarto do coração.
2- Alterações do fígado: seu funcionamento fica prejudicado, com consequente destruição desse órgão, chamada de cirrose. Além disso, pode ocorrer formação de machucados no fígado preenchidos por sangue, chamados de peliose, que podem sangrar, levando a consequências graves. Tumores no fígado também podem aparecer.
3- Alteração na fertilidade/sistema reprodutor: os meninos correm risco de ficarem estéreis (sem condições de ter filhos). Além disso, o uso dos EAA favorece o crescimento de mamas nos meninos (ginecomastia), que é efeito colateral muito frequente.
4- Estatura final prejudicada: O uso dos EAA no período da adolescência leva à aceleração do processo normal da puberdade. Dessa forma, a altura final dos meninos fica comprometida, pois os ossos do crescimento amadurecem antes da hora, resultando em baixa estatura.
5- Alterações psicológicas: O campo psíquico fica extremamente afetado, pois seu uso está relacionado à agressividade e ao surgimento de doenças psiquiátricas. Além disso, o uso de EAA abre portas para outras drogas ilícitas. Em casos mais graves, homicídio e suicídio já foram relatados.
6- Outros: acne, queda de cabelos (calvície), roncos excessivos, engrossamento do sangue com formação de coágulos nas veias, conhecido como trombose, são outros efeitos relacionados ao uso desses compostos.
Dra. Flávia Amanda Costa Barbosa, médica especialista em Endocrinologia e Metabologia pela Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), doutorado em Endocrinologia Clínica pela Universidade Federal de São Paulo – Unifesp/EPM e research fellow – Harvard Reproductive Endocrine Sciences Center – Harvard Medical School, Boston (EUA)