A pandemia da Covid-19 ainda parecia uma ameaça distante quando Jeniffer Pereira Melgaço, moradora de Barra Mansa, no Sul Fluminense, tornou-se a primeira pessoa do estado do Rio de Janeiro a testar positivo para o novo coronavírus. Era 5 de março de 2020 e, à epoca, apenas oito casos da doença, todos importados do exterior, haviam sido confirmados no país.
A advogada, de 29 anos, vinha apresentando sintomas como tosse, febre e coriza por cerca de duas semanas, desde que voltara de uma viagem à Itália, quando passou pela região da Lombardia, primeiro epicentro de contágio no país europeu.
— Estou sem olfato e paladar mesmo passado um ano, só sinto algo meio distorcido. Eu fui a um otorrino, que me passou um remédio e uma tomografia, mas a medicação não teve efeito algum. Depois, eu tentei sentir cheiro de café e de alguns óleos fortes, mas nada — conta Jennifer, que continua: — Mas eu sou muito grata, porque fiquei muito assustada e com muito medo de contaminar as pessoas. Graças a Deus, não passei para ninguém.
Nenhum outro familiar de Jennifer testou positivo, mas, entre amigos e pessoas do trabalho, a jovem contabiliza pelo menos meia centena de conhececidos que contraíram a doença na cidade, que soma, até o momento, 299 mortes e mais de 10 mil casos. Entristecida, a advogada lamenta já não constatar, na atual reaceleração da pandemia no Brasil, os mesmos cuidados de prevenção do período inicial da crise sanitária:
— Acho que as pessoas se “acostumaram” com as mortes e com essa situação, e acabam não levando mais a sério. Esse absurdo entrou no dia a dia, o que é desesperador, porque a gente sabe da gravidade da doença que, para muitos, é fatal. A gente sabe que, se tiver superlotação em algumas cidades, não vai ter como atender todo mundo.
A jovem deseja, agora, que a “vacina chegue para todo mundo”. E comemora que a imunização em Barra Mansa já tenha alcançado a avó. Falta, agora, voltar a aproveitar todos os mimos de neta…
— É horrível ficar sem sentir o cheiro e gosto, pois a comida deixou se ser um prazer. Não sinto mais o cheirinho de chuva, ou o do arroz da minha avó.
Enquanto esteve doente, Jennifer chegou a sofrer ataques pelas redes sociais de pessoas que a culpavam por trazer a pandemia ao Brasil. Hoje, embora exista mais conhecimento disponível sobre o vírus, o crescimento do negacionismo preocupa a advogada:
— A gente tem de se cuidar e seguir o que a ciência diz. A ciência cuidou da gente o tempo todo, e sempre deu um resultado positivo. Se a ciência fala que não é para aglomerar e que tem que usar máscara, a gente tem que fazer isso. Se todo mundo fizer a sua parte, sairemos dessa.