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Profissionais do sexo cuidaram da saúde em São Luís no Dia Internacional da Mulher

Na região conhecida como “Oscar Frota”, elas foram beneficiadas com testes de Covid-19, além de exames de HIV, sífilis e hepatite.

Fonte: Luciene Vieira

Carla (nome fictício), de 23 anos, garota de programa desde os 14, é mãe de um bebê de cinco meses, e ficou quase um ano sem trabalhar na sua profissão. Não devido à pandemia de coronavírus, mas porque estava em um relacionamento estável e engravidou. O companheiro foi preso, e o bebê nasceu. Era hora de voltar, para Carla. Ela, como muitas trabalhadoras do sexo, atua com o mínimo de segurança num ofício que tem como premissa fazer tudo aquilo que infectologistas não recomendam: trocar fluídos e manter muito contato corporal.

Mas, ontem (8), no Dia Internacional da Mulher, uma ação de saúde, e, também, de cidadania, ofertou a essa classe testes de Covid-19, além de exames de HIV, sífilis e hepatite.

Cerca de 60 testes rápidos de coronavírus, além dos exames e consulta in loco com uma médica clínico geral, foram realizados sob uma tenda, na região conhecida como“Oscar Frota”, que fica nas imediações do Mercado Central, centro de São Luís.

A ação foi realizada pelo Centro de Assistência Psicossocial de Álcool e Drogas (Caps-AD) e Polícia Civil – por meio do delegado Joviano Furtado –, a convite do projeto “Por elas, empoderadas”, que existe há três anos, e é coordenado por Maria de Jesus Almeida Costa.

É rotineira a divulgação pela imprensa de ‘enxames’ de pessoas, nas ruas da região metropolitana de São Luís. Imagens de praias lotadas também são corriqueiras. Sinal de que a pandemia passou, ao menos na cabeça de alguns maranhenses. Na realidade, o coronavírus não foi a lugar algum e continua matando centenas de brasileiros todos os dias. Porém, o que para muitos são oportunidades de lazer, para as profissionais do sexo, é a de trabalho. Se as pessoas estavam dispostas a ocupar as ruas, também estariam a ocupar camas com terceiros.

“É O PRIMEIRO TESTE DECOVID-19 QUE FAÇO”

Nessa segunda-feira (8), Carla saiu de sua casa no bairro do Anil em direção ao“Oscar Frota”, para mais um dia de trabalho. Ela deixa o filho com sua mãe e, às vezes, com uma vizinha.

“Vim para trabalhar e me deparei com a tenda. Estou aguardando minha vez para realizar o teste-rápido, primeira vez que o farei, desde o início de tudo (da pandemia) em São Luís”, frisou a garota de programa, que fez um questionamento difícil de saber: “Quais profissionais foram afetadas?”.

POR ELAS, EMPODERADAS

De acordo com a coordenadora do programa, Maria de Jesus, o “Por elas, empoderadas” (antiga Associação das Profissionais do Sexo do Maranhão), dá às mulheres consciência de sua situação, e assistência das mais diversas. “É um projeto independente, mas com patrocinadores. Atuamos em diversos bairros da capital maranhense, como São Cristóvão, Cohab, Cidade Operária, Turu (Avenida São Luís Rei de França), e Olho d’Água, além do centro da cidade, incluindo o Oscar Frota”, informou.

Os membros do “Por elas, empoderadas”, Rosana Lima e Carmem Lúcia de Jesus Almeida Teixeira informaram que, em 2020, foram entregues pelo programa 400 cestas básicas a trabalhadoras do sexo.

“Colocar alimentos na mesa de quem teve o trabalho afetado, devido o isolamento social impulsionado pela pandemia, é um tipo de conforto”, disseram Rosana e Carmem.

Sobre os desafios do projeto, Rosana e Carmem falaram sobre falta de estrutura. “Há várias frentes no mundo da prostituição para serem trabalhadas, como a pobreza, o desemprego, o desemparo familiar, e a inserção de adolescentes a partir dos 13 anos, são algumas delas. Se tivéssemos melhor estrutura, mais poderia ser feito por esta classe historicamente marginalizada”, disseram as participantes do “Por elas, empoderadas”.

CAPS-AD

De acordo com o diretor do CapsAD, médico Marcelo Costa, há hoje 46 mulheres sendo tratadas no Centro de Assistência Psicossocial de Álcool e Drogas.

Marcelo contou que entre estas pacientes, há as garotas de programa, cuja maioria troca sexo por uma pedra de crack. Na ação, Marcelo e sua equipe de profissionais da saúde, além do delegado Joviano Furtado, deram assistência a quem apresentava quadro de dependência química, com encaminhamentos ao Caps-AD.

“Temos pacientes mulheres que perderam o eixo familiar. No Caps-AD, há o amparo médico, mas também oferecemos cursos de bijuteria e cozinha, além de outros, como ocupações, que possivelmente podem se transformar em fonte de renda para as pacientes”, informou Marcelo.

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