Aglomeração na Rua Grande, em São Luís, com grande risco de contágio pelo coronavírus

Falta de fiscalização facilita a proliferação do comércio informal, ocupando grande parte do espaço da via.

Fonte: Luciene Vieira

Quem costuma andar pela Rua Oswaldo Cruz, também conhecida como Rua Grande, principal centro comercial de São Luís, se depara com a enorme quantidade de vendedores ambulantes. No chão, nos bancos, nas fachadas de lojas e pelas paredes externas de pontos comerciais é possível encontrar mercadorias. Fora a ocupação irregular do espaço público, facilitada pela falta de fiscalização, ainda existe o risco de contágio pelo novo coronavírus, uma vez que não há respeito ao distanciamento social por parte de quem atua no comércio informal na via, sendo poucos os que utilizam máscara de proteção.

Maria Edite Gonçalo, de 45 anos, mora no Centro há duas décadas e disse achar que, de um ano para cá, houve um aumento significativo de ambulantes na região. Para ela, a situação não é confortável.

“O espaço fica limitado, muito cheio e difícil de caminhar. Tem muita aglomeração o dia inteiro, é complicado”, reclamou Edite.

A contadora Marinalva Soares disse que os moradores e lojistas não querem simplesmente a expulsão dos vendedores, pedem apenas algum controle, pois os produtos na calçada atrapalham o fluxo de pessoas. Boa parte dos bancos instalados durante a reforma da Rua Grande, também, é ocupado por vendedores ambulantes e suas mercadorias.

“Os pedestres querem mais espaço para circular”, disse Marinalva.

Nessa terça-feira (16), o Jornal Pequeno percorreu a Rua Grande, quando fez o caminho entre suas extremidades, nos pontos em que começa e termina o fluxo de vendedores ambulantes na via. Durante o percurso, nenhum funcionário da Blitz Urbana foi visto. Sequer, um policial militar ou guarda municipal.

VERDADEIRA FEIRA

Há na Rua Grande vendedores de tomate, cebola, pimentão, milho assado ou cozido, churros, quentinhas, mingau, salgados, relógios, guarda-chuvas, banana, veneno para rato, sapatos, roupa de cama, brinquedos, controle e antena para TV, película e capas para celular. É uma extensa e variada lista de mercadorias, citados aqui apenas alguns produtos.

Os alimentos são vendidos em carrinhos do tipo caçamba. Os lanches, no transporte de modelo “carrinho ambulante pipoca”. Os eletrônicos, capas e películas para celulares ficam expostos em telas. Roupas e sapatos são colocados em lonas no chão, sendo essas as mercadorias que ocupam mais espaço na Rua Grande. Há quem use cabides (araras) para pendurar camisas de time de futebol à venda.

A ocupação do espaço destinado para as pessoas caminharem pela Rua Grande não é feita unicamente pelos camelôs, mas, também por lojistas. A loja Avenida usa totalmente a área em frente ao empreendimento. O ponto comercial expõe na calçada travesseiros, confecções, almofadas e sapatos.

Outras lojas colocam manequins do lado de fora, ocupando assim o calçamento da via. É um verdadeiro “shopping a céu aberto”, sem limites, sem regras. O endereço é o retrato do que não deveria haver em meio à crise sanitária: muita gente aglomerada.

Nessa terça-feira, a reportagem do JP não percebeu pessoas sem máscara, mas isso é comum de ser visto. Porém, o distanciamento social era “zero”, os camelôs estavam quase que um em cima do outro.

Enquanto nas lojas o álcool em gel fica disponível na entrada, o produto não está à mostra nas mercadorias dos ambulantes para o seu próprio uso ou de seus clientes.

DESEMPREGO SERIA O PRINCIPAL MOTIVO

Maria Flor de Lis vende mochilas infantis na Rua Grande. Aos 54 anos, apesar da pandemia e do risco de contágio, ela continua expondo seus produtos para venda.

Segundo Flor de Lis, apesar da aglomeração na via, o resultado no seu caixa ao fim de cada dia tem sido decepcionante. “Os consumidores estão com o dinheiro contado, e a concorrência é cada vez maior”, declarou a ambulante.

Flor de Liz disse que faz parte de um grupo de milhares de pessoas que estão entre os mais afetados pelos efeitos econômicos da pandemia: trabalhadores informais que atuam nas ruas como ambulantes. Sem direitos trabalhistas e sem contar com auxílio emergencial, ela defendeu que a categoria depende do vai e vem de pessoas para pagar suas contas.

Segundo o IBGE, o desemprego atingiu mais de 14 milhões de pessoas no país no fim do ano passado. De acordo com o Instituto, cerca de 1,3 milhão de pessoas passou a buscar trabalho só entre julho e setembro de 2020.

Semurh diz manter diálogo com
representantes do comércio informal

Por meio de nota, enviada à redação do Jornal Pequeno, a Secretaria Municipal de Urbanismo e Habitação (Semurh) disse manter diálogo com representantes do comércio informal de São Luís, a fim de buscar solução para a ocupação irregular da Rua Grande. A seguir, a íntegra da nota.

“Sobre os problemas citados na reportagem, a Secretaria Municipal de Urbanismo e Habitação (Semurh), por meio da Blitz Urbana, informa que tem mantido constante diálogo com representantes do comércio informal de São Luís, a fim de identificar a melhor forma de solucionar o problema da ocupação irregular de ruas e calçadas da capital e também a solução para o correto desempenho das atividades realizadas pela categoria.

A Blitz Urbana tem realizado o trabalho de fiscalização com que equipes realizam ações, periodicamente, em diversos pontos da cidade, tanto de caráter educativo e de conscientização quanto para notificar vendedores e estabelecimentos identificados em descumprimento das legislações relacionadas ao ordenamento do comércio e ocupação de espaços públicos da cidade.

Em relação ao descumprimento de normas pela loja citada na reportagem, a Blitz Urbana informa que uma equipe será enviada ao local para orientar, em mais uma ação do órgão, sobre a proibição da disposição de produtos na área destinada ao passeio público.”

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