“Lembrar de como tudo começou é bem difícil, os primeiros momentos foram muito angustiantes e tensos, por diversas vezes chorei e me desesperei, não foi fácil. Existem imagens que nunca saíram da minha cabeça e eu creio que nunca sairá, mas apesar disso, coisas muito boas também aconteceram”. O depoimento é da fisioterapeuta e coordenadora da equipe multiprofissional do Hospital Dr. Carlos Macieira (HCM), Alessandra Mesquita, que relata os momentos vividos durante um ano de pandemia da Covid-19.
O Hospital Dr. Carlos Macieira (HCM), da rede da Secretaria de Estado da Saúde (SES), foi a primeira unidade a receber leitos específicos para tratamento da Covid-19, antes mesmo do registro do primeiro caso da doença no dia 20 de março de 2020, e, logo se tornou uma das referências no estado para tratamento de casos mais graves do novo coronavírus. A unidade, que começou com 30 leitos de UTI para tratamento da doença, hoje conta com mais de 200 leitos de UTI e enfermaria, além de centenas de profissionais no combate à Covid-19.
“A luta contra o coronavírus no Hospital Carlos Macieira começou muito antes do primeiro caso, ainda em janeiro de 2020, através de capacitação das equipes para que, a partir de março, tivéssemos uma Unidade de Terapia Intensiva específica montada no hospital, que inicialmente começou com 30 leitos [de UTI] e foi expandindo no ano de 2020. Atualmente, em 2021, aumentamos em mais de 50% a capacidade que o hospital tinha”, afirma o diretor da unidade, Edilson Medeiros.
A internação do primeiro paciente acometido pelo novo coronavírus marcou os profissionais de saúde da unidade como relata o médico da UTI, Dr. Almir Guimarães. “A chegada do primeiro paciente foi um momento de medo, mas também decisivo, quando muitos colegas decidiram trabalhar no tratamento da Covid-19, assim como eu. Naquele momento, eu tive que escolher entre estar com a minha família ou trabalhar na UTI Covid”, contou.
O médico complementa. “Saí da minha casa e fui morar com outros amigos médicos, passei cinco meses sem contato direto com a minha família, vendo eles apenas pela janela. Foram cinco meses muito difíceis, onde também trabalhamos em jornadas exaustivas para combater a doença”, relembra.
Durante esse período, os profissionais da saúde, tiveram que lidar com os inúmeros casos de óbitos causados pela doença, tanto de pacientes quanto dos seus próprios familiares.
“Esse ano foi uma caminhada muito longa e difícil, vi muitas pessoas falecerem, inclusive o meu avô. Mesmo diante de tudo isso, não me deixei abater, me levantei, pois vi que outros pacientes continuavam precisando de mim. Não podemos negar o quanto essa situação é difícil, mas nossa equipe é muito unida e cada alta de paciente é uma felicidade, assim como cada óbito é um momento de tristeza”, conta a técnica de enfermagem, Dir Lene Maria de Sá Leite.
Além disso, muitos profissionais da saúde acabaram contraindo a doença. “Chegamos a internar colegas nossos de outras unidades que também estavam na linha de frente e contraíram a doença. Esse momento foi bastante difícil no que diz respeito ao acompanhamento deles, justamente por conta da relação próxima que nós tínhamos”, relata o médico Almir Guimarães.
Apesar de toda a dificuldade, medos e incertezas, os profissionais da linha de frente no combate à Covid-19 não se deixam abater, como afirma o auxiliar de transporte, Litiele da Costa Santos. “Eu trabalho com o transporte dos pacientes, e sempre acabo me apegando a eles, a gente chora e sorri. Às vezes o plantão é tão difícil que não conseguimos comer ou beber água, ainda assim, nunca passou pela minha cabeça desistir, essa equipe e esses pacientes são como se fossem a minha família e família a gente não abandona, por isso, a gente continua lutando para vencer essa batalha”, declara Litiele Santos.
Sentimento compartilhado pela enfermeira da UTI Covid, Andressa Mendonça. “O que me faz levantar da cama e vir para o trabalho todos os dias de manhã é saber que o meu trabalho ajuda muitos pacientes a vencerem a doença e voltarem para as suas famílias. Sei que a nossa equipe unida vencerá essa guerra”, almeja.
Os profissionais contam ainda que a diminuição dos casos da doença em 2020 trouxe a sensação de que a guerra estaria chegando ao fim, mas o surgimento da nova variante da Covid-19 trouxe a mudança de sentimento. “Apesar do ano tenso, chegamos em um momento em que realmente achamos que o pior já tinha passado, porém, neste ano estamos vendo que o turbilhão voltou novamente e com mais força. Hoje, nós temos muito mais leitos do que tínhamos no ano passado, os esforços são muito maiores, as equipes também. É nítido o desgaste físico e emocional dos colaboradores”, diz a coordenadora da equipe multiprofissional, Alessandra Mesquita.
De acordo com cientistas, a estimativa para as próximas semanas é para um agravamento do cenário epidemiológico.
Da linha de frente, tendo que lidar com altas e óbitos, os trabalhadores da saúde reforçam o apelo à população.
“Os profissionais estão exaustos, estão muito cansados, a sociedade tem que nos ajudar a vencer essa guerra e a maneira mais correta de nos ajudar é usando máscara, evitando aglomeração e fazendo essa higienização para que possamos diminuir a transmissão. Com as taxas que nós temos hoje de transmissão, podemos ficar em uma situação ainda mais dramática em breve, e podem não ter leitos para todos. Estamos cansados, porém, estamos prontos para continuar na guerra pelo nosso povo do Maranhão”, sensibiliza o diretor do Hospital Dr. Carlos Macieira, Edilson Medeiros.