Na luta contra a procrastinação, a neurociência pode ser uma grande aliada. Isso porque, ao investigar o cérebro, oferece insights sobre as causas e, consequentemente, sobre possíveis contramedidas. Com base na ciência, o plano de ação para acabar com a prática ganha força e efetividade.
Um dos primeiros princípios que a ciência explica é que a procrastinação é uma resposta inconsciente aos afazeres. Não é uma preferência, embora muitos acreditem nisso, afirma a neurocientista Thais Gameiro, sócia-fundadora da Nêmesis, empresa que oferece assessoria e educação corporativa na área de Neurociência Organizacional.
A doutora conta que existem quatro fatores que influenciam muito na capacidade de ser produtivo. São eles:
Nível de descanso
Estresse
Capacidade de interagir com a tarefa (se a pessoa se sente preparada para realizá-la)
Motivação
“Nosso cérebro tem recursos limitados. Quanto mais informações – tanto internas, quanto externas – brigam para que você consiga fazer a tarefa bem feita, mais difícil vai ser conseguir que ele performe da melhor maneira possível”, explica. A procrastinação, nesse contexto, pode ser um dos sintomas desses aspectos.
Como usar a neurociência para acabar com a procrastinação
Pare de acreditar na produtividade contínua (e no multitasking)
Sendo o “foco” indispensável para a produtividade, a atenção é protagonista no assunto. “Do ponto de vista da neurociência, atenção é nossa capacidade de filtrar estímulos”, resume Thais. Filtrar estímulos exige energia e, por isso, não é algo que as pessoas conseguem sustentar por horas a fio.
Também por conta do mecanismo da atenção humana, o multitasking – ou ser multitarefas – não funciona. Thais explica: “ninguém consegue fazer várias coisas ao mesmo tempo; o cérebro só tem um filtro e ele só presta atenção em uma coisa de cada vez.”
Saiba administrar sua energia
“O cérebro gasta de 20% a 25% de toda a nossa energia. Tudo que ele puder fazer para economizar energia, ele vai fazer para a sobrevivência do organismo.”
Como os recursos energéticos são limitados, e a atenção não se sustenta por muitas horas, a neurocientista aconselha se concentrar em ter horas de trabalho de qualidade, e não mais horas de trabalho.
Contar com intervalos regulares favorece os momentos de atividade intensa porque serve como uma “recompensa”, que estimula a dedicação. O autoconhecimento também pode ser uma vantagem para a produtividade, na medida em que saber quais são os momentos (e condições) ideais de trabalho para si mesmo é bastante útil na hora de administrar sua energia.
“É muito importante que identifiquemos esses padrões, porque somos muito mais produtivos quando escolhemos fazer as tarefas mais desafiadoras – que exijam maior concentração, ou maior desgaste cognitivo – nesses momentos”, destaca Thais.
Do contrário, realizar a tarefa mais complexa no momento em que se está mais cansado ou menos disposto, aumenta as chances de errar e procrastinar. “Você acaba perdendo mais tempo do que se focasse no período em que está disposto”, conclui ela.
Novos hábitos para parar de procrastinar
De acordo com a doutora em neurociência, o hábito é uma estratégia de sobrevivência do cérebro. Eles são, basicamente, a automatização de comportamentos, por conta disso, custam menos energia. Uma das formas de ataque à procrastinação, portanto, pode se basear no desenvolvimento de novos hábitos, mais benéficos para a produtividade.
A especialista reforça a importância de identificar a procrastinação como uma prática prejudicial, que “não está tornando sua rotina melhor”, antes de tudo. O segundo passo é encontrar os gatilhos que te fazem adiar uma tarefa e definir novos hábitos.
Se as tarefas maiores te fazem procrastinar, Thais sugere quebrá-las em menores, algo que aproxima “temporalmente” a recompensa. Mesmo que não seja esse o gatilho da sua procrastinação, descubra o que é e mude a forma com que faz as coisas. Com consistência e regularidade, criará um hábito favorável à produtividade.