Nos galpões onde um dia funcionou a antiga Fábrica de Tecidos Rio Anil, em São Luís, profissionais da educação começaram a ser vacinados contra a Covid-19 na terça-feira, 20 de abril¹. A imunização deste público reforça a esperança do retorno das aulas presenciais no Maranhão. Quis o destino que entre eles estivesse Eliomar de Oliveira, 58 anos, docente no Centro de Ensino Geraldo Melo, que nos anos 1990 iniciou sua carreira nesse prédio, considerado patrimônio arquitetônico nacional².
Emocionada por ter sido vacinada antes do que previa e por retornar ao local onde lecionou pela primeira vez, Eliomar conta sua história: “Em 1995 fui surpreendida quando recebi um documento do correio dizendo que eu tinha que me apresentar aqui no Cintra e, pra mim, foi uma emoção muito grande, porque a escola é… no primeiro momento, quando a gente olha pro prédio já se apaixona. E foram mais de quinze anos que eu trabalhei aqui, um trabalho maravilhoso. E quando eu entrei ali, eu fiquei muito emocionada. É… Muito…”.
A professora interrompe o discurso, enxuga as lágrimas e prossegue: “E então, aí eu encontro uma amiga aqui no Cintra. Uma amiga de batalha também. E nesse momento tão marcante, tão histórico. De voltar pra cá, de ser vacinada nesse ambiente. É muito marcante, é maravilhoso, é uma sensação inexplicável. De gratidão mesmo, sabe?”.
A amiga de lutas é a também professora Eloá Dias, 55 nos, atualmente na Unidade Integrada Arnaldo Ferreira, na Cohab. Ela disse que também está emocionada por ter sido vacinada. “Eu estou orando para ser vacinada faz muito tempo, mas não esperava que fosse tão rápido. O Governo do Maranhão foi 100%, sabe!? Agora eu tô pedindo a Deus para que essa vacina chegue ao topo do que nós precisamos, para retornarmos as aulas presenciais gradativamente”, diz.
E acrescenta: “Estou com muitas saudades da sala de aula, demais, demais, de estar em contato com as crianças, contato com diretores, professores, colegas de trabalho. Esse período sem alunos na escola não está legal. Mas já começou a ficar legal por causa da vacina que veio e, com certeza, com a vacina tudo voltará ao normal, em nome de Jesus”.
Ai que Saudade D’ocê
Antes de passar pela triagem, profissionais da educação aguardam em cadeiras azuis dispostas de modo a respeitar o distanciamento recomendado. Isolados em um canto, uma banda toca Ai que Saudade D’ocê, música de Vital Farias famosa na voz do maranhense Zeca Baleiro. Para entrar no prédio é necessário estar usando máscara. Em todos os cantos é possível ver um frasco de álcool gel. Passa das 15h. Questionada, uma enfermeira comemora que mais de 200 doses já foram aplicadas somente neste posto de vacinação, superando as expectativas da equipe de saúde.
Professora do IEMA Axixá, Maria de Jesus Cardoso Pinheiro, 58 anos, aproveitou que estava numa viagem particular na capital maranhense para receber sua dose. “Eu estou feliz, achei muito bacana essa estratégia do Governo do Maranhão de pensar nos professores, a gente estava nessa ansiedade de ser vacinados. E agora nós temos que se acalmar um pouco e esperar pela segunda dose que daqui a poucos as aulas presenciais vão voltar”, torce.
No fluxo dos vacinados está Ana Lúcia Mota, que ao sair da escola abraça sua filha e chora de emoção. Ela é docente no Centro de Ensino Santa Tereza, na Cidade Operária, possui 57 anos, 33 dedicados à profissão.
“Foi uma glória ser vacinada, uma benção que nós todos estávamos aguardando e, espero que todos sejam contemplados, não só nós da educação, mas todos. Eu não contava ser vacinada tão rápido, de jeito nenhum. Eu pensei que ia demorar um pouquinho, mas com a graça de Deus, tudo é no tempo de Deus. Veio no momento certo, e com a ajuda de Deus pai chegará para todo mundo”, diz.
Dois pontos estão presentes no discurso das professoras entrevistadas: a emoção de receber a vacina e a torcida pela volta das aulas presenciais. “Eu sinto falta dos alunos. Você trabalha e sente aquela vontade de estar presente na sala de aula de novo”, completa Ana Lúcia.
Notas:
1. Em acordo com as prefeituras para acelerar a vacinação, o Governo do Maranhão assumiu a responsabilidade de imunizar os profissionais da educação tanto da rede estadual como da federal.
2. Segundo o arquiteto Fabricio Pedroza, a Fábrica de Tecidos do Rio Anil começou a ser construída em agosto de 1881 e foi inaugurada no ano de 1883. Um século depois, o prédio de 12 mil metros quadrados, com estrutura metálica vinda da Inglaterra e cobertura em telhas francesas, passou por um processo de modernização, com a criação dos jardins internos e dos mezaninos. Ali funcionou o Centro Integrado do Rio Anil (Cintra). Passados mais de 30 anos, o Governo do Maranhão restaurou o prédio preservando todas as características originais. Atualmente o local abriga o Instituto Estadual de Educação, Ciência e Tecnologia Rio Anil (IEMA Rio Anil).