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Hábitos na pandemia deixam bilionários ainda mais bilionários

Fortuna dos 500 mais ricos do planeta aumentou em quase R$ 10 trilhões em 2020

Fonte: Amanda Lemos

Uma das análises mais repetidas para explicar mudanças causadas pela pandemia é que o coronavírus acelerou tendências e reforçou extremos. A máxima vale para o movimento do dinheiro. A desigualdade de renda, que vinha crescendo, se acentuou, e os bilionários, que ocupam o ponto mais alto da pirâmide social, ficaram ainda mais bilionários.

Em 2020, segundo o Índice de Bilionários da Bloomberg, a fortuna total dos 500 mais ricos do mundo cresceu 31% em comparação ao ano anterior. A quantia adicionada de US$ 1,8 trilhão (R$ 9,8 trilhões) foi a maior desde a criação do indicador, há oito anos. Executivos de empresas de tecnologia e mercado de luxo lideram a lista.

“Em momentos de crise, quem ganha é quem já está ganhando”, diz Pedro Belisário, professor do Departamento de direção financeira do ISE Business School. “O que vemos é que não houve ‘perda de posição’; os bilionários ficaram mais ricos.”

Em parte, isso pode ser explicado pela dinâmica da pandemia, que acentuou desigualdades e favoreceu a concentração de renda.

O confinamento, por exemplo, intensificou o uso da tecnologia, alavancando especialmente o consumo via ecommerce e as cadeias de armazenamento, embalagem e transporte ligadas a essa modalidade de vendas.

Os mais favorecidos foram os consumidores com melhores coberturas de internet e equipamentos mais sofisticados. Ou seja, quem tem mais dinheiro para ter acesso aos melhores sistemas e melhores equipamentos.

Em países que concentram consumidores de alta renda, como Estados Unidos e China, as compras virtuais contribuíram para a aquisição de itens de luxo. Com restrição a viagens internacionais, os integrantes da alta renda foram às compras pela internet, prestigiando virtualmente as grifes.

Endinheirados garantiram as vendas de empresas de outros endinheirados.

Houve efeito não apenas sobre o resultado operacional das empresas, mas também no valor de mercado das companhias listadas em Bolsas, contribuindo para turbinar o patrimônio de quem tem mais ações dessas empresas.

Neste mês, Larry Page, um dos fundadores do Google, entrou para lista de pessoas que possuem mais de US$ 100 bilhões (R$ 547,8 bilhões). A última atualização mostra Page com US$ 104 bilhões (R$ 569,7 bilhões). O próprio Google começou a pandemia valendo US$ 988,7 bilhões (R$ 5,4 trilhões) e hoje está em US$ 1,5 trilhão (R$ 8,2 trilhões).

O caso da Amazon é o mais emblemático. No último trimestre do ano a Amazon faturou US$ 125,6 bilhões (R$ 688 bilhões), recorde histórico que representou aumento de mais de 40% em relação ao mesmo período de 2019.

Antes da pandemia começar, a varejista online valia US$ 916,2 bilhões (R$ 5 trilhões). Hoje vale US$ 1,6 trilhão (R$ 9 trilhões).

Jeff Bezos, seu fundador, segue como o homem mais rico do mundo. Sua fortuna passou de US$ 115,3 bilhões (R$ 631,6 bilhões) para US$ 182 bilhões (R$ 997 bilhões) em 2020. Neste ano, ficou US$ 5,9 bilhões (R$ 32,3 bilhões) mais rico, com uma fortuna total de US$ 196,2 bilhões (R$ 1,07 trilhão).

Para dar conta do novo normal, a Amazon cresceu até no Brasil. A empresa fechou 2020 com oito centros de distribuição –o primeiro foi aberto em janeiro de 2019, em Cajamar, na Grande São Paulo.

O fundador da varejista online anunciou que deixaria o cargo de presidente-executivo em fevereiro, mas que ainda seguiria como presidente do conselho da empresa. O novo foco, segundo o executivo, serão suas iniciativas ambientais, o jornal The Washington Post e acelerar a expansão de sua empresa espacial Blue Origin, que tem menos feitos que a concorrente SpaceX, de Elon Musk.

Musk, que também lidera a Tesla, está em segundo lugar na lista dos bilionários da Bloomberg, com US$ 190,1 bilhões (R$ 1,04 trilhão). Do inicío do ano até agora, Musk está US$ 20,4 bilhões (R$ 111,7 bilhões) mais rico.

Entre o nascimento do seu sétimo filho, X AE A-XI, e tuítes que movimentaram o mercado financeiro, Musk teve uma somatória de conquistas em 2020, ocupando o primeiro lugar em algumas ocasiões.

A Tesla, sua montadora de luxo, ultrapassou a Toyota como montadora com maior valor de mercado e vendeu quase meio milhão de carros no ano.

O aumento da demanda mundial por veículos elétricos ajudou nas cifras, e o lucro anual da montadora chegou a US$ 721 milhões (R$ 3,9 bilhões). O resultado fez a empresa prever um aumento na produção em 2021 em cerca de 50%.

O bom resultado também veio da SpaceX. Em maio de 2020, Musk concretizou a ambição de ser a primeira empresa privada a enviar foguetes tripulados ao espaço, com a cápsula Crew Dragon.

Antigos objetos de desejo também ajudaram a deixar ricos mais ricos. Bernard Arnault, diretor-executivo da LVMH, dona da Louis Vuitton, teve grandes ganhos com a venda de relógios, jóias e outros artigos mais nobres. Hoje o executivo figura a terceira posição na Bloomberg, como uma fortuna estimada em US$ 147 bilhões, com ganho de US$ 32,6 bilhões (R$ 178,5 bilhões) só neste ano.

As movimentações foram bruscas para Arnault. O primeiro semestre com a pandemia levou a uma queda forte nas ações da LVMH, mas a gigante do luxo recuperou o ritmo em julho e concluiu a aquisição da Tiffany & Co. A retomada não foi suficiente para segurar o impacto no conglomerado, que teve uma queda de 17% em receita em 2020.

Desde o fim de 2020, porém, a demanda de artigos de luxo foi aquecida pelos Estados e China, ajudando a LVMH a registrar US$ 16,7 bilhões (R$ 91,4 bilhões) em receitas no primeiro trimestre deste ano. A maior parte do patrimônio do executivo francês vem de sua participação no grupo, que inclui marcas como Dom Pérignon e Fendi.

Para assegurar sua riqueza, Arnault tem feito uma série de investimentos nos últimos 12 meses, fechando negócios em setores de saúde a empréstimos hipotecários, segundo a revista Forbes.

A pandemia também catapultou empreendedores digitais. Eric Yuan, presidente-executivo do Zoom, assistiu suas ações da companhia subirem 450% em 2020, uma das que mais se valorizaram ao longo do ano. Não chega perto de Bezos e Musk, mas ocupa a 125º posição no indicador da Bloomberg, com US$ 16 bilhões (R$ 87,6 bilhões).

A empresa de videoconferência conquistou espaço, e colocou big techs para melhorar suas ferramentas. A Microsoft, por exemplo, corre atrás para dominar programas de teletrabalho e fazer de 2021 o ano do Teams.

No caso dos bilionários brasileiros, para Pedro Belisário chama a atenção os novatos da lista da Forbes de 2020. “São nomes ligados a fintechs, ou a empresas que misturam tecnologia e sistema financeiro de alguma forma”, diz.

Ele cita David Vélez, colombiano fundador do Nubank, e Guilherme Benchimol, fundador da XP. “Há dois anos tínhamos um perfil voltado para o varejo”, explica.

O varejo, ainda que mais ligado a novas tecnologias, também marca posição. O desempenho da família Trajano, do Magazine Luiza, é um dos destaques da Forbes. Fernando Trajano (US$ 1,5 bilhão, R$ 8,2 bilhões) e Giseli Trajano (US$ 1,4 bilhão, R$ 7,6 bilhões) foram dois dos novos 20 brasileiros no ranking da Forbes.

O setor de varejo online foi um dos mais impactados positivamente durante a crise. Mas muito antes da pandemia, a Magalu já investia em ecommerce e market place.

“A empresa já estava preparando esta virada há muito tempo. Viram há dez anos que o marketplace poderia ser uma chance de crescer”, diz Belisário.

OS 10 BRASILEIROS MAIS RICOS SEGUNDO A FORBES
Jorge Paulo Lemann e família
Fortuna: US$ 16,9 bilhões – posição na lista global 114º

Eduardo Saverin
Fortuna: US$ 14,6 bilhões – posição na lista global 140º

Marcel Herrmann Telles
Fortuna: US$ 11,5 bilhões – posição na lista global 191º

Jorge Moll Filho e família
Fortuna: US$ 11,3 bilhões – posição na lista global 194º

Carlos Alberto Sicupira e família
Fortuna: US$ 8,7 bilhões – posição na lista global 274º

Vicky Safra
Fortuna: US$ 7,4 bilhões – posição na lista global 339º

Jacob, David, Alberto e Esther Safra
Fortuna: US$ 7,1 bilhões – posição na lista global 358º

Alexandre Behring
Fortuna: US$ 7 bilhões – posição na lista global 369º

Dulce Pugliese de Godoy Bueno
Fortuna: US$ 6 bilhões – posição na lista global 451º

Alceu Elias Feldmann
Fortuna: US$ 5,4 bilhões – posição na lista global 520º

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