O chefe da Delegacia de Repressão ao Crime Organizado (Draco), Adriano Valente, contou que, inicialmente, o candidato contratou a máfia dos concursos para entrar no Superior Tribunal de Justiça (STJ), em 2015, mas não foi aprovado. Então, o cliente foi direcionado para outra seleção, a dos bombeiros, em 2017.
A ficha de inscrição do candidato foi encontrada com membros da organização criminosa, segundo a polícia. “A quantia de R$ 40 mil que o soldado admitiu ter negociado com a organização criminosa é o mesmo valor pago por diversos outros fraudadores já indiciados em outros inquéritos policiais da Draco por fraudes em concursos públicos”, disse o delegado.
Resposta por ponto eletrônico
De acordo com a polícia, a máfia dos concursos agia de quatro maneiras:
1. candidato usava ponto eletrônico para receber respostas de criminosos que faziam a prova e saíam antes do local com o gabarito;
2. funcionários de bancas organizadoras preenchiam as folhas de resposta do “cliente” segundo o gabarito oficial;
3. criminosos usavam documentos falsos para fazer a prova no lugar de inscritos.
4. E, por fim, candidatos usavam um celular escondido no banheiro para receber as respostas. Segundo a investigação, foi assim que o bombeiro preso neste sábado (1º) teria conseguido fraudar o concurso.
Máfia dos concursos
A suspeita de fraude começou no dia do concurso, em 2017, quando o Corpo de Bombeiros e a polícia localizaram os celulares nos locais das provas.
Desde 2017 a polícia indiciou dezenas de suspeitos de burlar seleções do STJ, das secretaria de Educação e Saúde, do Ministério Público da União e da Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq).
De acordo com o Ministério Público, que ofereceu a denúncia, o grupo também vendeu aprovações na corporação dos Bombeiros e na Companhia Imobiliária de Brasília (Terracap), fraudou vestibulares de medicina e falsificou diplomas e certificados de pós-graduação.
Condenações
Em 2018, a Justiça condenou os nove principais integrantes da máfia. Hélio Ortiz, apontado como chefe do grupo, e o filho dele, Bruno Garcia Ortiz, foram condenados a nove anos de prisão cada um.
Em nota, a defesa dos condenados disse ao G1 que Hélio e Bruno cumprem pena em regime aberto e que a defesa “repudia veementemente as acusações e irá apresentar os recursos necessários e possíveis”.
Mesmo após a prisão dos condenados, a polícia continua investigando as fraudes. Os alvos são servidores que entraram em órgãos públicos com a fraude. A polícia espera prender e afastar fraudadores dos cargos.