Desembargador é investigado por assédio sexual em seu gabinete

Jovem relatou caso em delegacia e diz ter levado “tapão na bunda” ao sair do gabinete do magistrado

Fonte: Cleomar Almeida

O desembargador do Tribunal de Justiça do Estado de Goiás (TJGO) Orloff Neves Rocha é investigado por suspeita de assédio sexual, dentro de seu gabinete, contra uma jovem de 22 anos. O crime teria ocorrido dois dias antes de o magistrado se aposentar. A vítima denunciou o caso na Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher de Goiânia (Deam); internamente, o órgão judiciário instaurou investigação administrativa.

O portal Metrópoles teve acesso à ocorrência da Deam, que registrou os relatos do suposto abuso sexual cometido no dia 28 de abril. A jovem é funcionária de uma empresa terceirizada que presta serviços no TJGO para solucionar problemas na área de informática e tecnologia reportados por servidores. O nome da vítima será preservado.

Por volta das 10h daquele dia, segundo a ocorrência, a jovem foi atender a um chamado do desembargador, que iria se aposentar dois dias depois, após 36 anos de carreira na Justiça goiana. Por isso, conforme o relato, o magistrado pediu que o seu computador fosse formatado.

No dia 30 do mês passado, o presidente do TJGO, desembargador Carlos Alberto França, assinou decreto de aposentadoria voluntária de seu colega de carreira. Orloff Rocha não exerce mais a atividade desde a última segunda-feira (3).

WhatsApp
De acordo com a vítima, enquanto ela trabalhava na máquina, Orloff agiu normalmente, assim como em outras ocasiões. Após ela finalizar a formatação, duas horas depois, segundo a ocorrência, ele a agradeceu.

“Elogiou o trabalho da declarante [jovem] e, convidando para uma hora dessas saírem para um barzinho, colocou um cartão de visitas, com o WhatsApp dele anotado, no bolso dela”, registra um trecho da ocorrência.

A jovem, então, contou à polícia que, em seguida, “ficou muito constrangida com a situação, não conseguindo ser incisiva em seu não, por ele ser desembargador”. “Somente sorria sem graça, querendo rejeitar o convite”, diz o documento policial.

Beijo na boca e “tapão na bunda”
Ainda segundo a ocorrência, a vítima afirmou que, ao se despedir para sair do gabinete, o desembargador abriu os braços e disse a ela que lhe desse um abraço. Nesse momento, porém, conforme o relato, a jovem ficou ainda mais constrangida e sorriu sem graça, negando o pedido do magistrado. Mesmo assim, a funcionária ficou sem saída.

“Ao abraçá-la, o desembargador Orloff Neves Coelho ficou beijando seu pescoço, ao que ela se esquivava, e ele insistiu, arrancando a máscara dela e tentando beijá-la na boca”, diz o relato registrado na Deam. “Por fim, ele a soltou, após ver que a declarante não cederia”, continua.

Em depoimento à polícia, a jovem relatou que, mesmo depois do abraço, que sofreu novas investidas do desembargador. Após se virar para sair da sala, de acordo com a ocorrência, “o desembargador deu-lhe um tapão na bunda”.

Na delegacia, a funcionária terceirizada também afirmou que, em seguida, saiu da sala, muito constrangida, e se despediu da secretária do gabinete, avisando que, no dia seguinte, a empresa faria manutenção no local.

Já do lado de fora do gabinete, a vítima contou o caso para a sua chefe, que a encorajou a procurar a polícia. “A declarante está muito apreensiva, pois, pelo fato de ele ser desembargador, teme que possa prejudicá-la”, diz a ocorrência.

O Tribunal de Justiça do Estado de Goiás informou que, assim que tomou conhecimento das acusações, abriu um “procedimento apuratório preliminar”, visando elucidar os fatos na esfera administrativa. Segundo o TJGO, a investigação está em andamento.

Em nota ao portal, a Associação dos Magistrados do Estado de Goiás (Asmego) ressaltou que as instituições devem observar o devido processo legal e defendeu que “as investigações transcorram de forma ágil, ética e eficiente”.

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